A tendência negativa de resultados do FC Porto frente à eneacampeã italiana Juventus, do ‘astro’ português Cristiano Ronaldo, pode ser invertida nos oitavos de final da Liga dos Campeões, admitiu à agência Lusa o ex-futebolista Jorge Andrade.

“Os dois clubes não lideram os seus campeonatos e o estilo de jogo do FC Porto encaixa muito no pensamento italiano, com uma boa organização defensiva e muitas transições rápidas. A Juventus pode sofrer um pouco com esse estilo, visto que não me parece tão forte como noutros anos”, partilhou o ex-defesa internacional português, que representou os dois emblemas.

Nas provas europeias, o campeão nacional contabiliza quatro derrotas e um empate nos embates com a ‘vecchia signora’, que recebe na quarta-feira, às 20:00, no Estádio do Dragão, no Porto, três semanas antes do reencontro em Turim.

“A estratégia pode ser deixar a bola para o adversário, sabendo que o FC Porto é uma equipa mais mortífera quando está em transição, devido à habilidade do Jesús Corona e do Luís Díaz e à força física do Moussa Marega, agora associadas ao Mehdi Taremi. Se cumprir defensivamente, pode dividir a eliminatória e, quiçá, fazer uma surpresa”, notou.

Jorge Andrade aceita que o conhecimento de Sérgio Conceição do futebol transalpino “joga a favor” nesta “batalha de pormenores”, lembrando a experiência acumulada pelo treinador portista entre 1998 e 2004, quando alinhou por Lazio, Parma e Inter Milão.

“Não sendo a equipa com mais posse de bola, o FC Porto tenta fazer o estilo de jogo de algumas equipas em Itália, mais conservador, e taticamente perfeito, para depois marcar numa transição. Claro que pode fazer golo em situações de posse de bola, mas está quase formatado para a transição e é das equipas mais perigosas na Europa”, analisou.

Os ‘dragões’ ocupam o segundo lugar da I Liga portuguesa, podendo ficar hoje a 10 pontos do líder Sporting, enquanto a ‘vecchia signora’ segue no quarto posto do campeonato transalpino, a oito do primeiro colocado, o Inter de Milão, embora com um jogo em atraso.

O ex-defesa central que representou o FC Porto (2000-2002) e terminou a carreira na Juventus (2007-2009) vinca a “pressão existente em Itália” para a formação de Andrea Pirlo “ser melhor” na Liga dos Campeões, prova que conquistou em 1984/85 e 1995/96.

“É a equipa com mais campeonatos naquele país [36], mas está longe do AC Milan na ‘Champions’ [sete títulos]. Contrataram o Cristiano Ronaldo, alguém habituado a vencer este tipo de provas, para esse efeito e estão a apostar tudo, mas vão encontrar um FC Porto que já sabe há muitos anos o que é lidar com esta competição”, observou.

A cumprir a terceira temporada pelos ‘bianconeri’, o avançado português, de 36 anos, preserva a tradicional veia goleadora, com 23 golos em 26 jogos em 2020/21, e dá à Juventus o “fator extra” para alcançar a 10.ª final da principal prova de clubes europeus.

“Podemos valorizar o melhor jogador do mundo, mas conhecemos perfeitamente as capacidades do Ronaldo, e o Sérgio Conceição vai ter isso em conta. Equipas como a Juventus são sempre uma dificuldade acrescida, pois são bem estruturadas, têm nomes que podem resolver de um momento para o outro e até experiência na defesa”, frisou.

Prova disso é o conceituado guarda-redes Gianluigi Buffon, de 43 anos, principal alternativa do polaco Wojciech Szczesny, que cumpre a 19.ª época em Turim e defrontou os ‘dragões’ na Liga dos Campeões por quatro vezes, metade das quais em 2001/02.

“A minha memória mais viva foi cancelarem um jogo marcado para 12 de setembro de 2001, após o atentado às Torres Gémeas, nos Estados Unidos. Lembro-me de o Jorge Costa ter entrado no quarto e ligado a televisão. Era algo que nunca tinha presenciado”, rememorou Jorge Andrade, titular ao lado de Ricardo Carvalho nos dois encontros.

Duas semanas depois do empate a zero nas Antas, adiado para 10 de outubro, a equipa de Marcello Lippi derrotou o conjunto de Octávio Machado (3-1), no antigo estádio Delle Alpi, com golos de Del Piero, Montero e Trezeguet, contra o tento do brasileiro Clayton, que inaugurou o marcador.

Os dois clubes foram afastados na segunda fase de grupos e Jorge Andrade assinou pelos espanhóis do Deportivo da Corunha no final dessa época, para, em julho de 2007, rumar à Juventus, então recém-promovida à Série A, depois do escândalo ‘calciopoli’.

“Foi um passo atrás para dar dois à frente. A família Agnelli deu estabilidade financeira e manteve a estrutura, tirando o Fabio Cannavaro, que era Bola de Ouro e foi para o Real Madrid. Não abdicaram de nada até melhorar as condições dos atletas e agora têm um estádio novo, que a equipa precisava para ter o apoio dos adeptos mais perto”, contou.

O ex-defesa, de 42 anos, era titular da seleção portuguesa e foi adquirido por 10 milhões de euros, embora uma série de graves lesões no joelho, que já antes lhe tinha afetado a carreira, tenha limitado a estadia em Turim a cinco jogos na primeira das duas épocas.

“Entrei num balneário experiente e unido, que tinha acabado de vencer a II Divisão com grande vantagem. O caso [esquema de manipulação de resultados] foi muito grave, mas prometeram que iriam voltar em força em poucos anos e para ganhar tudo. Estão a cumprir, daí que a Juventus seja uma das equipas de referência em Itália”, concluiu.