Em Munique, a 13 de Março de 2019, o Bayern era eliminado pelo futuro campeão europeu. Mais de um ano depois, chegava a Lisboa para a inédita final-8 como o favorito a suceder ao Liverpool. Dito e feito. Hansi Flick entrou a meio da temporada, encaixou as peças e a equipa alcançou um nível que lhe permitiu recuperar um título que não ia para a Baviera desde 2012/2013. Não é difícil escolher individualidades para destacar, mas há um antes e um depois da entrada do ex-adjunto de Löw.
Depois de Klopp devolver a orelhuda ao Liverpool, tivemos uma final entre dois técnicos alemães e Nagelsmann atingiu um resultado prestigiante para o RB Leipzig. Mais do que na nacionalidade, importa colocar o foco nas ideias que têm permitido este êxito na maior competição de clubes. Tanto os reds como o Bayern são altos representantes de um futebol global, em que todos defendem e todos atacam.
Note-se que alguns dos jogadores mais evoluídos tecnicamente estão no sector mais recuado - Alexander-Arnold e Kimmich, médios de formação, sem esquecer Van Dijk e Alaba - e que os guarda-redes são importantes com e sem bola. Se subirmos um pouco no campo, encontramos um organizador de excelência como Thiago, que até deve rumar a Anfield. Sabendo que a pressão cada vez traz mais exigências, o antídoto passa por ter jogadores criativos e confortáveis para a desmontar.
É também a partir dessa agressividade defensiva no meio campo adversário que surgiram as bases deste fußball. Klopp chegou a dizer que o RB Salzburgo, pelo estilo e pelo perfil de jogador que privilegiava, era o “irmão mais novo” do Liverpool. A filosofia Red Bull tem o dedo de Ralf Rangnick, inspiração para muitos técnicos da nova vaga germânica. Desta forma, a disponibilidade para a pressão por parte dos avançados tornou-se um princípio indispensável. Hansi Flick, na final, trocou os dois extremos de uma assentada para poder manter o mesmo ritmo na pressão em zonas adiantadas. Desequilibrar e marcar golos, claro, mas também condicionar o jogo do adversário. Isto é algo que se se opõe ao que acontece na Juventus e no Barcelona, por exemplo, com individualidades acima do colectivo.
Os catalães, no início, tentaram promover uma troca de golpes com o Bayern, mas o ritmo caótico favorece quem está mais habituado a viver nele. Apesar do título, a histórica goleada será “a” memória que fica desta final-8. Essa fome de golos é, aliás, uma parte essencial do ADN da equipa bávara, obcecada por atacar a baliza desde o primeiro ao último minuto. Ao contrário de Nagelsmann, que teve receio de Mbappé, Flick preocupou-se mais em como ferir o PSG e foi feliz.
Como sempre acontece, o sucesso define tendências e esta ideia de pressão alta e verticalidade máxima já se instalou no futebol europeu. É difícil contrariá-la quando o todo não supera a soma das partes. O PSG deu o passo que faltava para poder lutar pela Champions, tornando-se mais equipa do que nunca, mas a segunda parte da final trouxe uma quebra acentuada. Quando já estava desgastado, física e mentalmente, até pelo impacto do golo, teve pela frente um adversário que jogava como se estivesse no começo.
Final-8... ficamos por aqui
Já se fala na possibilidade de este formato continuar nos próximos tempos. Foi tudo aquilo que se imaginava, com alguns jogos emocionantes e dando espaço para surpresas – principalmente o Lyon, que aproveitou a estratégia ao lado de Guardiola e os erros individuais do Man City para chegar às meias. No entanto, e aceitando que possam existir vantagens, a ideia de afastar os adeptos (reais) deste cenário de decisão é tudo aquilo de que o futebol não precisa. Para se perceber a falta que fazem, já basta este período de ausência forçada. A eliminatória a duas mãos até dificulta a vida aos mais pequenos, mas jogarão ao lado de quem os apoia. Esse lado emocional, cada vez menos importante para quem manda, não deve deixar de existir.
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