O cenário é tão negro que o presidente do clube, André Villas-Boas, sentiu necessidade de ir à sala de imprensa falar com os jornalistas sobre o momento do FC Porto.
É que é preciso recuar 60 anos para encontrar um FC Porto com quatro derrotas seguidas. Na época 1964/65, os dragões, orientados por Otto Gloria, perderam com Cuf (0-2 fora), Académica de Coimbra (1-2 em casa)SC Braga (0-2 fora) e TSV 1860 Munique (0-1 em casa), num ano em que terminaram na 2.ª posição, com um total de oito derrotas em 34 jogos disputados.
Diante do Olympiakos perante um Dragão com pouco mais de 35 mil espetadores, o FC Porto perdeu por 1-0 e caiu para fora dos lugares de apuramento para o play-off de acesso aos oitavos de final da Liga Europa. A equipa, no 25.º posto, ou seja, fora dos lugares de apuramento, está obrigada a vencer fora o Maccabi Telavive na próxima quinta-feira para se apurar. Um empate bastará se Roma (21.º), Ferencvaros (22.º), Fenerbahçe (23.º) ou Besiktas (24.º) perderem na última jornada.
FOTOS: O FC Porto-Olympiakos em imagens
Difícil fazer pior
Pensavam os adeptos portistas que não havia formas de o seu estado anímico ficar pior do que já estava, mas o Olympiakos ainda tinha mais uma 'faca' para espetar no orgulho do Dragão. A vitória dos gregos em casa do FC Porto é apenas mais uma consequência do desnorte... à Norte, numa equipa perdida, esfarrapada, destruída mentalmente.
A equipa precisa urgentemente de um choque que o Coordenador da Formação, José Tavares 'Ferreirinha', não foi capaz de dar nos três dias de trabalho após a saída de Vítor Bruno. A jogar sob brasas, cada bola é uma ameaça para os jogadores azuis e brancos. Coletivamente, a equipa pouco ou nada apresenta. Individualmente, tirando o suplente Gonçalo Borges, quase ninguém se safou nos últimos dois desaires.
O jogo trouxe ao de cima a lei de Murphy, explicada pelos golos sofridos pelos azuis e brancos: nesta sequência de quarto derrotas seguidas (Sporting, Nacional, Gil Vicente e Olympiakos), o FC Porto sofreu sete golos nos 11 remates que os adversários enquadraram na baliza portista.
O jogo quinta-feira não foi muito diferente dos anteriores: falta atitude, falta empenho, falta garra, falta, como disse Gonçalo Borges após a derrota com o Gil Vicente, de homens que se chegam à frente e mostrem do que são feitos. No fundo, ADN Porto.
Os primeiros minutos até davam a ideia de um FC Porto diferente. A equipa entrou intensa, pressionante na busca do golo, com mais vontade em vencer e dar um ar da sua graça. Mas a vontade sobrepunha-se à razão, ao intelecto e, com isso, muitas perdas de bola. Ao todo, 92 passes falhados, (79% de eficácia), 30 deles de alto risco, de acordo com dados do 'GoalPoint'.
Mesmo aos trambolhões, o futebol produzido era suficiente para se superiorizar ao Olympiakos. Mas na hora da verdade, os nervos vinham ao de cima. Mais de 90 minutos, apenas dois remates enquadrados com a baliza, em duas grandes oportunidades desperdiçadas por Nehuén Pérez, aos 41 e Fábio Vieira, aos 90. Dos outros 14 remates, sete ficaram nas pernas dos defensores e o resto foi para fora.
Para a história, fica a primeira vitória do Olympiakos no terreno do FC Porto (repete o feito do Panathinaikos, também por 1-0, na Liga Europa de 2002/2003).
Tudo indica que depois do jogo com o Santa Clara, no domingo, haverá 'reset' no Dragão, com o novo treinador, Martin Anselmi, a pegar na equipa para implementar as suas ideias e tirar o Dragão do fundo do poço.
Momento-chave: El Kaabi espeta outra lança no coração do Dragão
Sete minutos depois de ter ameaçado marcar, o marroquino El Kaabi passou das ameaças aos atos e concluiu com um remate colocado, de primeira um passe de Mouzakitis, após desentendimento entre Zé Pedro e Nehuen Pérez.
Os Melhores: Centrais ao comando
Do desastre azul e branco, salva-se Nehuen Pérez. Esteve impecável nas dobras a Tiago Djaló, ganhou muito dos duelos que disputou, num jogo onde até acaba por ficar ligado ao golo adversário. Defensivamente, esteve muito melhor do que nos últimos jogos.
O David Carmo que voltou ao Dragão para jogar contra o FC Porto não tem nada a ver com o David Carmo que deixou o Dragão no final da época passada. Mais calmo, mais tranquilo, menos exposto ao erro, o central luso-angolano ganhou seis dos oito duelos aéreos que disputou, ofensivos e defensivos, esteve sempre bem posicionado na área, e ainda aventurou-se para meter passes de craque, como quando isolou El Kaabi aos 72 minutos.
Em noite 'não': Pepê precisa de bancada, Samu de descansar
André Villas-Boas foi quem justificou a aposta em Pepê. O presidente do FC Porto confessou que falou com o brasileiro, que assumiu ter errado na resposta a Vítor Bruno, mas que pediu para jogar para tentar ajudar a equipa, consciente de que tem estado mal nos últimos jogos. Foi a jogo e fez exatamente o que tinha feito nos encontros anteriores: uma nulidade a decidir, uma 'bomba-relógio' em campo pelas perdas de bola em zona perigosa. Saiu aos 58 minutos para dar lugar a Gonçalo Borges. O jogador precisa de refletir por uns jogos na bancada.
O desnorte da equipa também se vê em Samu. Não marcou qualquer golo nos últimos quatro jogos do FC Porto (quatro derrotas), perdeu muitas das bolas que disputou, não acrescentou nada ofensivamente e ainda viu um amarelo que o retira do próximo jogo europeu.
O jovem espanhol não fez qualquer remate no jogo, algo que vai em linha do que tem vindo a fazer: nos últimos quatro encontros, fez 10 remates, mas apenas dois em direção à baliza - Nacional e Gil Vicente - segundo dados do Playmakerstats'. Tendo em conta que falhará, pelo menos, o jogo com o Santa Clara do próximo domingo, terá alguns dias para também refletir e pensar.
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