Não há tragédia capaz de roubar o sonho aos jogadores do Shakhtar Donetsk. Primeiro, a invasão russa à Ucrânia há quase um ano.  E agora com o terramoto na Turquia, onde estavam em estágio. A equipa ucraniana está "ansiosa por voltar aos relvados" esta quinta-feira, nos play-off da Liga Europa, diante dos franceses do Rennes, confidenciou o avançado Oleksandr Zubkov em entrevista à AFP.

Há quase um ano, a invasão russa à Ucrânia causou pânico no país e no Shakhtar, que teve de deixar o seu território em 2014 por causa da guerra do Donbass e viu a história se repetir em março de 2022.

O clube do bilionário Rinat Akhmetov, passou por Lviv, depois Kharkiv e finalmente Kiev desde 2020, e entrou numa nova fase de incertezas.

"É a segunda vez que querem expulsar-me da minha terra: primeiro da região de Donetsk e agora de todo o país. É incrível", disse Zubkov, lateral da seleção ucraniana, de 26 anos.

O jogador nascido na região de Donetsk e formado no Shakhtar, esteve uma época emprestado ao Mariupol, uma das cidades mais afetadas pela guerra. Jogou ainda pelo Ferencvaros em Budapeste na última temporada antes de voltar ao Shakhtar no último verão.

Foi acima de tudo "uma escolha desportiva", explica. Após uma primeira temporada de sucesso na Hungria, a chegada de um novo técnico foi difícil para Zubkov. "Escolhi o futebol e sinto-me muito feliz com isso."

"Algo estranho"

Apesar da saída da maioria dos jogadores estrangeiros da equipa, do rejuvenescimento do plantel e das deslocações complicados para disputar campeonato ucraniano e os jogos da Liga dos Campeões no exterior, o Shakhtar até nem está assim tão mal.

O próprio Zubkov marcou dois golos contra o Real Madrid, um deles com um impressionante remate em vólei em pleno Santiago Bernabéu. O jogador balançou as redes em cada um dos dois jogos diante do gigante espanhol, em outubro passado, na fase de grupos da Liga dos Campeões (empate em 1-1 e 2-1 para a equipa espanhola).

"Foi no final do primeiro tempo, eles estavam a pressionar, passámos o tempo a correr atrás da bola (…). Nem percebi naquele momento que tinha marcado um belo golo", recorda.

O campeonato ucraniano está parado desde novembro, como sempre no inverno. O Shakhtar está acostumado a disputar as competições continentais, assim como a grandes jogos europeus.

Este ano, a equipa preparou-se durante quase um mês em Belek, na costa sul da Turquia, onde os jogadores puderam sentir o terramoto que causou tantos danos 500 quilómetros a leste na semana passada.

"Acordei às 4h da manhã, senti algo estranho”, lembra Zubkov. "Foi a primeira vez para mim. Não estava com medo, mas não foi uma sensação desagradável."

"Uma pequena luz"

A equipa está agora em Varsóvia, onde receberá o Rennes. "Estou muito animado. Estamos todos em forma, fisicamente prontos. Estamos ansiosos para entrar em campo".

Diante dos franceses já não vão contar com Mykhailo Mudryk, autor de 18 golos em 18 jogos no início da temporada, contratado em janeiro pelo Chelsea por 70 milhões de euros, além de 30 milhões de bônus possíveis, dos quais cerca de 25 milhões serão destinados a ajudar os soldados ucranianos e os seus familiares.

"Claro que sentimos falta dele porque ele é muito talentoso e nos permitiu muita movimentação na frente de ataque. Mas o Shakhtar é uma equipa onde, quando um jogador sai, alguém aparece para substituí-lo. Temos muitos exemplos", garante Zubkov.

Ele mesmo sente mais pressão, "mas eu gosto disso. A pressão faz parte do futebol e me fortalece".

Zubkov sabe que pode contar com o apoio de todos os ucranianos, não apenas dos adeptos do Shakhtar, nesta quinta-feira contra os franceses do Rennes pela Liga Europa.

"Nestes tempos difíceis para o nosso país, este jogo pode ser uma pequena luz", conclui.