O grupo espanhol de media Mediapro chegou a acordo com a Liga Francesa de Futebol Profissional (LFP) para rescindir o contrato de transmissão do futebol francês, após meses de desentendimentos, confirmou a empresa em nota divulgada hoje.

A Mediapro adiantou na mesma nota que o acordo de rescisão será apresentado ao Tribunal de Comércio de Nanterre, fora de Paris, nos próximos dias, para que possa entrar em vigor "o mais rapidamente possível".

Fontes ligadas ao litígio disseram hoje à EFE que o grupo presidido por Jaume Roures se comprometeu a pagar 100 milhões de euros à LFP, pelos jogos já transmitidos e como compensação pela rescisão do acordo, comprometendo-se ainda a transmitir os jogos da liga francesa até que seja encontrada um novo canal interessado nos direitos televisivos.

A saída do Mediapro vai permitir que os clubes franceses procurem um novo canal de transmissão, após a Mediapro, um conglomerado de empresas de media, ter exigido a renegociação do contrato por conta da queda nas receitas causada pela pandemia do coronavírus.

Para pressionar a LFP, o grupo dirigido por Jaume Roures não pagou duas cláusulas do contrato: 172,3 milhões de euros em 5 de outubro e 152,5 milhões de euros em 5 de dezembro, o que colocou os clubes franceses em situação de dificuldade.

Os tribunais franceses, que ordenaram a mediação do litígio, devem agora validar os termos do fim do contrato e as indemnizações a pagar.

Segundo o jornal "L'Équipe", a empresa espanhola deverá pagar à Liga francesa cerca de 64 milhões de euros quando o acordo de rescisão for validado pelos tribunais e outros 36 milhões de euros no primeiro semestre de 2021.

Essa indemnização irá somar-se aos 172 milhões de euros que a Mediapro pagou em agosto passado, logo que o contrato entrou em vigor.

A Mediapro evitou comentar esta informação sobre as verbas a ressarcir a Liga francesa, justificando que ainda está pendente de validação pelos tribunais.

A notícia da rescisão põe fim à aventura do Mediapro na França, onde assinou um contrato de mais de 800 milhões de euros anuais por 80% dos direitos de transmissão da liga durante três anos, um valor histórico que colocou o futebol francês entre os mais valorizado no continente europeu, só superado pelo campeonato inglês.

Apesar das dúvidas que este valor gerou, uma vez que o interesse em torno do futebol francês não é tão grande como o de outros campeonatos, o Mediapro sempre deu garantias de que pagaria o que constava no acordo com a LFP.

A Mediapro alega em sua defesa que, com a pandemia, os clubes franceses investiram menos e à situação difícil criada pela covid-19 os bares e restaurantes permanecem fechados, o que arrasa uma importante fonte de receita para a empresa de media

Perante a posição da Mediapro, a LFP não se dispôs a negociar, já bastante atingida pela crise, que a privou de boa parte da receita corrente da temporada passada, que foi encerrada abruptamente com dois meses de antecedência devido à pandemia.

A tudo isso há ainda a acrescentar que a LFP não beneficiou com o habitual dinheiro dos bilhetes e da venda de produtos derivados, dinheiro perdido que pretendia compensar com o contrato televisivo mais importante de sua história firmado com a Mediapro.

A situação ficou arraigada a ponto de aumentar a desconfiança dentro do futebol francês.

Entretanto, o Canal +, que historicamente sempre esteve presente no futebol francês e que ficou de fora com a chegada do Mediapro, mostrou "timidamente" o seu interesse substituir o grupo de media catalão.

Segundo diversos meios de comunicação, aquele canal está disposto a oferecer cerca de 600 milhões de euros por ano, muito abaixo do contrato atual, mas os clubes franceses, muitos dos quais ameaçados de falência, poderão não ter outra escolha.

A LFP contraiu um empréstimo bancário após o primeiro incumprimento financeiro da Mediapro para garantir temporariamente a liquidez no futebol gaulês.

O jornal "L'Équipe" avança ainda que o Canal + pode agora aproveitar a situação desesperada da LFP oportunidade reduzir ainda mais a oferta inicial, uma vez que a LFP se encontra "num beco sem saída".