An Yong-hak nasceu e foi criado no Japão, mas vai apoiar a seleção que defendeu, a Coreia do Norte, na partida de quinta-feira (21) entre os dois países, em Tóquio, no apuramento para o Mundial2026.

O ex-jogador de 45 anos é um dos 300 mil coreanos conhecidos como 'Zainichi', que vivem no Japão. Esta grande comunidade, com pessoas procedentes tanto do norte como do sul da península vizinha, sofre discriminação nos ambientes de trabalho ou no âmbito da proteção social no arquipélago japonês.

Embora tenha estudado no Japão, numa escola pró-Pyongyang, o atleta escolheu defender as cores da Coreia do Norte, seleção para a qual foi convocado 40 vezes e disputou o Mundial de 2010, na África do Sul, a última vez que o país se apurou para a competição.

A próxima quinta-feira será um dia especial para muitos Zainichi, que reforçam a sua identidade, apoiando a seleção norte-coreana.

"Joguei contra o Japão no Estádio Saitama (nos arredores de Tóquio) durante a fase de qualificação para o Mundial de 2006. Eles marcaram nos descontos e perdemos", mas após o jogo "apertamos as mãos e fomos, juntos, cumprimentar os adeptos japoneses. Foi um grande jogo, que foi além do resultado. Espero que desta vez também seja assim", lembra An Yong-hak, em entrevista concedida à AFP, numa escola em Yokohama, perto de Tóquio.

Nascido no Japão, coreano com muito orgulho

Os membros da comunidade Zainichi são em grande parte descendentes de migrantes civis coreanos, muitas vezes deslocados que foram obrigados a trabalhar durante a colonização japonesa da península (1910-1945).

Assim como no caso de An Yong-hak, um coreano Zainichi de terceira geração, alguns são educados em colégios apoiados por organizações pró-Coreia do Norte e financiados por Pyongyang.

Embora este país e o Japão não tenham relações oficiais, Tóquio autoriza o funcionamento destas escolas, mas não conceda os mesmos subsídios que dá para outras instituições de ensino.

"Sou de origem coreana e meu nome é An Yong-hak. Considero a República Popular Democrática da Coreia como minha seleção e sempre trabalhei tendo isso em mente", disse o antigo jogador, que iniciou a sua carreira na liga japonesa (J-League).

Segundo o ex-atleta, a diminuição do número de Zainichi nos últimos anos não favorece o surgimento de talentos nesta comunidade e na quinta-feira a seleção norte-coreana terá apenas um jogador nascido no Japão. Isto é algo que An Yong-hak está a tentar mudar a partir do trabalho que faz, dirigindo uma escola de formação de futebol.

"O número de crianças pode diminuir, mas ainda há quem queira jogar pela Coreia do Norte", destaca An Yong-hak, que se retirou do futebol em 2017. Depois disso, treinou uma seleção de coreanos no Japão durante uma 'Copa do Mundo alternativa' na qual participaram nações não reconhecidas.

Para An Yong-hak, o futebol inspira motivos de orgulho para os Zainichi. "Não quero que as crianças cresçam a pensar que ser de origem coreana é algo negativo" no Japão, declarou.

O Japão, que conta com Morita, do Sporting, e Yuki Soma, do Casa Pia, e a Coreia do Norte encontram-se já na quinta-feira, em Tóquio, em jogo da terceira jornada do Grupo B, e voltam a defrontar-se na próxima semana em Pyongyang.

Nesta primeira fase de apuramento, o Japão lidera o Grupo B, com seis pontos, após duas jornadas, seguida da Coreia do Norte e da Síria, ambas com três, e de Mianmar, ainda sem pontos.