A Seleção regressou a casa após a eliminação aos pés (e cabeça) do Uruguai, nos oitavos-de-final do Rússia 2018. Uns dirão que foi pouco, outros que se cumpriu a obrigação, outros ainda que até se chegou longe, para o que se produziu em campo.
E é precisamente quando se fala em produção que nós aparecemos, sem “achómetros” ou opiniões, apenas com factos, neste caso apresentando os dados de desempenho de cada jogador da Selecção, na campanha russa.
Propomos então percorrer os principais indicadores dos nossos “craques”, um a um, mas deixando de fora, por razões metodológicas, todos os jogadores que não chegaram a completar um mínimo de 90 dos cerca de 360 minutos disputados por Portugal na Rússia. Este critério deixa logo de fora desta análise Bruno Fernandes, Gelson Martins e Manuel Fernandes embora possa conferir os GoalPoint Ratings que somaram nas partidas em que foram chamados a entrar em campo:
Adrien Silva:
Adrien é sempre trabalhador, mas a qualidade do seu trabalho depende obviamente da sua forma. Por razões diferentes das de Raphael, quis o destino que Adrien não vivesse uma época normal (e completa), no que toca ao futebol de clubes, e isso notou-se em campo. Jogou, procurou compensar, mas não brilhou, a não ser no momento em que entregou a bola que permitiu a Ricardo Quaresma marcar o bonito (e importante) golo frente ao Irão.
André Silva:
Menos chamado a jogo do que Gonçalo Guedes, André Silva acabou por não acrescentar. Um bom exemplo disso foi o derradeiro desafio frente ao Uruguai, no qual entrou aos 74 minutos para terminar o jogo com… duas acções com bola. O futuro será, certamente, mais risonho para o segundo melhor marcador português da fase de qualificação.
Bernardo Silva:
Bernardo foi a nossa aposta para brilhar na Selecção neste Mundial, mas, tal como William, só na segunda parte do derradeiro desafio mostrou um pouco do que é capaz (em especial no momento em que se soltou das limitações da ala direita, entregue a Quaresma). A um médio ala da Selecção pede-se mais, sobretudo no contributo ofensivo, e por desinspiração, opções tácticas ou contexto, Bernardo não conseguiu entregar mais ou sequer ter influência em qualquer golo luso.
Cédric Soares:
Disciplinado a defender, Cédric não ofereceu muito na fase ofensiva. A eficácia de 17% de entregas nos seis cruzamentos de bola corrida que somou e os dois passes para finalização nos três jogos que cumpriu “dão para o gasto”, mas não permitem elogios de monta.
Cristiano Ronaldo:
Acusado tantas vezes no passado de não aparecer ao serviço da Selecção ao mesmo nível que o faz pelo Real Madrid, Cristiano Ronaldo sai da Rússia com a “lenda” reforçada, mesmo que tenhamos sentido a sua falta frente ao Uruguai e que o seu falhanço (grande penalidade) frente ao Irão nos deixe ainda hoje a pensar que destino teria Portugal caso tivesse terminado no primeiro lugar do grupo. Heróis infalíveis só no cinema e Ronaldo foi herói frente à Espanha e ao Irão, compensando e muito o apagão generalizado que caracterizou a participação portuguesa na Rússia.
Gonçalo Guedes:
Ao contrário do que sucede com colegas afectados por épocas acidentadas (Guerreiro, Adrien), o “desaparecimento” de Gonçalo Guedes na Rússia acaba por ser uma desilusão sem fundamento na excelente época que o avançado protagonizou ao serviço do Valência. Em teoria seria um excelente parceiro para Cristiano. Na prática, por culpa própria, de Fernando Santos, dos colegas, do azar, da falta de experiência nestes palcos, da pressão ou da combinação de todos eles, quis o destino que Guedes passasse ao lado do torneio, a não ser no momento em que assistiu um dos golos do inesquecível “hat-trick” de Cristiano Ronaldo frente a Espanha.
João Mário:
João Mário participou nos quatro jogos, como titular ou suplente utilizado, mas em nenhum deles atingiu um rating de 6.0 ou participou em qualquer golo luso. Este resumo acaba por sintetizar o Mundial “cinzento” de João Mário, em linha com a conturbada evolução da sua carreira no futebol de clubes, nas últimas duas épocas. Colocado sobretudo na ala esquerda por Fernando Santos, João Mário nunca conseguiu oferecer a criatividade e imprevisibilidade que outrora mostrou, também na ala, num agora distante Sporting da primeira época de Jorge Jesus de “leão” ao peito. Porém, melhorou no segundo tempo com o Uruguai, precisamente quando encostou à direita, fechando no meio, naquele que parece ser o seu ambiente natural.
João Moutinho:
Não quis o físico que Moutinho pudesse manter o nível que mostrou frente a Marrocos, onde compensou defensivamente o desaparecimento de William. A partir daí não tivemos mais Moutinho, deixando a dúvida se teríamos o João desse jogo ou aquele que sucumbiu (com maior naturalidade) face ao carrossel espanhol do primeiro jogo.
José Fonte:
Fonte começou num registou (tal como Pepe) frente à Espanha, mas foi subindo de produção. Antes do Mundial apontava-se o eixo da defesa como potencial motivo para preocupação, sobretudo tendo em conta que Fonte rumou à menos vistosa Liga chinesa já em 2018. Apesar de os números não serem brilhantes (como sucede com quase todos os colegas de Selecção), a verdade é que os problemas principais de Portugal não estiveram nos centrais. Fonte também cumpriu, ainda que com menor preponderância que o colega Pepe, com destaque para a grande competência nos duelos aéreos.
Pepe:
Pepe foi o melhor português frente ao Irão, o que diz mais sobre a exibição de Portugal do que da qualidade do jogador do Besiktas. Ainda apareceu a dar esperança frente ao Uruguai, marcando o golo que os homens mais avançados não foram capazes de replicar. Cumpriu.
Raphael Guerreiro:
Não tivemos o Raphael do Euro 2016, mas também não tivemos um Raphael tão mau como alguns o pintam, sobretudo no jogo derradeiro, onde finalmente apareceu e foi o melhor português, oferecendo não só o golo a Pepe, como somando mais três passes para finalização para os colegas. O longo período de paragem que viveu ao serviço do Dortmund na última época teve certamente o seu peso, para ele e para a Selecção, e a sua subida de rendimento acompanhou o aumento de ritmo competitivo que foi ganhando, nunca virando a cara à luta. Um autêntico Guerreiro.
Ricardo Pereira:
Falar em desilusão com base num jogo apenas será injusto, mas a verdade é que o Ricardo Pereira que brilhou na Liga NOS 2017/18 não só não apareceu, como isso sucedeu logo no jogo decisivo em que foi chamado a render Cédric. Mais do que a pouca produção ofensiva para o que lhe é habitual, Ricardo praticamente não existiu no plano defensivo. E todos sabemos a factura que Portugal pagou sempre que o Uruguai conseguiu aproveitar os “buracos”. Melhores dias virão para Ricardo na Selecção, certamente, na certeza que na memória não ficará a exibição em Sochi.
Ricardo Quaresma:
O “Mustang” jogou menos do que os “titulares” nas alas, mas acabou por oferecer mais. Faltaram assistências para tantos cruzamentos, mas sobraram desequilíbrios, nos 117 minutos que esteve em campo na Rússia. Acaba com o rating agregado mais elevado de Portugal, sobretudo porque, fazendo pouco, fez proporcionalmente muito mais coisas bem feitas do que os colegas, quando foi chamado pelo Engenheiro.
Rui Patrício:
Seis golos sofridos em quatro jogos é tudo menos um registo habitual em Rui Patrício. O guardião acaba com uma percentagem de remates travados inferior inclusive aos 67,1% que vão fazendo deste o Mundial mais pobre da História, no que toca à “blindagem” dos guardiões perante os disparos adversários. No entanto, estes golos concentram-se sobretudo no primeiro e último jogos (Espanha e Uruguai), precisamente os mais difíceis. Dizem os especialistas que poderia ter feito melhor, em termos de posicionamento, nos derradeiros dois golos que sofreu. Mas convém lembrar que brilhou frente a Marrocos, juntamente com Ronaldo, naquele que foi, porventura, o desempenho mais pobre da Selecção desde 2016. Um torneio mediano.
William Carvalho:
Acabou dando uma melhor imagem frente ao Uruguai (em especial na segunda parte) do que o fez nos três jogos anteriores. A sua pouca visibilidade ofensiva não surpreende face ao seu histórico, mas esperava-se um William mais efectivo na recuperação e distribuição, e esse só apareceu nos últimos 45 minutos frente à “celeste”, altura em que registou números semelhantes ao somatório dos três jogos anteriores. Portugal acabou por pagar a factura de não contar nem com o melhor William, nem com aquele que poderia disputar o lugar com garantias, Danilo Pereira. Se a isto somarmos o facto de o desempenho de William depender muito do jogador com quem faz dupla no miolo (e já lá chegaremos), são sinais menos a mais, para esperar melhor desfecho.
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