Ficou conhecida como a Batalha de Santiago, o duelo entre o Chile e a Itália, realizado a 2 de junho de 1962, em partida a contar para a fase de grupos do Campeonato do Mundo de 1962.
É mais uma das histórias dos Mundiais de Futebol que o SAPO Desporto vai lançar nos próximos dias. A batalha de Santiago entrou para a história como um dos encontros mais violentos da história das competições. O Chile acabou por vencer por 2-0, mas o resultado foi mesmo o menos importante.
Foi em 1956 que ficou decidido que o Chile seria o próximo país a realizar o próximo campeonato do mundo, em 1962. Um terramoto ocorrido em Valdivia, em 1960, arrasou o país e quase colocou em causa a realização da competição, mas o chilenos avançaram em diante com a organização.
Como o ambiente aqueceu no pré-jogo
Dois correspondentes italianos, nos dias que antecederam a partida, contribuíram para incendiar o ambiente já por si tenso para a partida entre a seleção da casa e a squadra azzurra. Corrado Pizzinelli do jornal La Nazione, e Antonio Ghirelli, do Corriere della Sera retrataram o Chile como um país miserável, carregado de prostituição: "O Chile é um triste símbolo das diferenças entre seres humano e uma vida que é afetada por todos os males", disse, acrescentando nesse relato. "Os telefones não funcionam, os táxis são tão raros como maridos fiéis, um telegrama para a Europa custa um braço e uma perna, e uma carta demora cinco dias a chegar", acrescentou.
Os artigos acabaram por ter repercussão na imprensa local, o que acicatou o 'ódio' em relação aos italianos, não só dentro como também fora de campo. Na imprensa local falou-se na necessidade de colocar os italianos no seu lugar. Corrado Pizzinelli e Antonio Ghirelli tiveram que deixar o país antes do final do jogo.
Uma noite de pesadelo para o árbitro Ken Aston
Num estádio repleto com 70 mil espectadores, assistiu-se a um autêntica batalha campal, com múltiplas agressões entre jogadores, que resultaram em apenas duas expulsões.
A primeira falta ocorreu logo aos 12 segundos, mas não se trataram apenas de faltas, mas de agressões constantes. Giorgio Ferrini e Mario David foram expulsos depois de terem agredido violentamente os adversários. Com nove jogadores, os chilenos aproveitaram a superioridade numérica para vencerem o encontro por 2-0 e qualificarem-se assim para os oitavos de final. Os italianos queixaram-se de que foram prejudicados, uma vez que o Chile acabou a partida com os 11 jogadores em campo.
O pós-jogo
"Eu esperava um jogo difícil, mas não um encontro impossível. Tive que dar o meu melhor", disse após o jogo o árbitro Ken Ashton, que confessou ter ponderado terminar o encontro antes do seu término.
"Pensei em terminar o jogo antes do tempo, mas não conseguiria garantir condições de segurança para os jogadores italianos nesse caso. Por isso, fui até ao fim", acrescentou.
O jornalista David Coleman, comentador da estação de televisão BBC, avisou os adeptos e classificou a partida como a coisa mais "estúpida, deplorável, nojenta e desgraçada exibição de futebol na história do jogo."
Coleman exigiu mesmo mudanças nas regras de jogo, o que veio a ocorrer anos mais tarde. "O resultado foi um desastre para o Mundial. Se o Mundial quer sobreviver no seu estado atual, algo tem de ser feito em relação a este tipo de acontecimentos. De facto, depois de verem o resumo em casa, pensam que equipas que jogam assim deviam ser expulsas imediatamente da competição. Vejam o que pensam."
Jogo que inspirou a criação dos cartões amarelos e vermelhos
O árbitro Ken Aston, que tanto foi criticado por alegadamente ter favorecido os chilenos, acabou por estar na origem de uma das mais importantes regras do futebol. O britânico, cinco anos depois da Batalha de Santiago, esteve na origem da introdução dos cartões amarelos e vermelhos.
As expulsões já eram uma realidade, mas introdução de dois cartões que pudessem avaliar de forma diferente as infrações foi muito importante para a evolução do futebol. Aston teve a ideia quando se encontrava parado num semáforo. O amarelo serviria para abrandar e o vermelho como decisão final. "Enquanto conduzia, o semáforo ficou vermelho e pensei: 'Amarelo, para se ir com mais calma. Vermelho, para dizer chega estás fora", explicou.
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