Data de Nascimento: 25/04/1947 (falecido a 24 de março de 2016)

Nacionalidade: Países Baixos

Presenças em Mundiais: 1 (1974)

Jogos em Mundiais: 7

Golos em Mundiais: 3

Títulos em Mundiais: 0

Tal como Eusébio, o primeiro dos 15 'Cromos’ que fizeram história nos Mundiais escolhidos pelo SAPO Desporto que apresentámos, também Johan Cruyff só esteve numa fase final um Mundial e não ergueu o troféu. Nada que impeça de ter marcado a história da competição e do futebol.

Hendrik Johannes Cruijff nasceu em Amesterdão e foi o expoente máximo em campo da grande revolução do futebol moderno protagonizada na década de 1970 pelo Ajax e pela seleção dos Países Baixos, aí batizada de 'Laranja Mecânica'.

E foi as ruas de Amesterdão, paredes meias com o estádio do Ajax, clube no qual brilharia a grande altura, que deu os primeiros pontapés na bola. Quando tinha apenas 12 anos, viu o seu pai, também ele profundo amante do futebol, falecer vítima de um ataque cardíaco. Um acontecimento que o marcou e fez dele um jovem determinado em singrar no futebol, em jeito de tributo ao seu progenitor.

Por essa altura já Cruyff fazia parte das camadas jovens do Ajax, descoberto por um treinador que vivia por perto e que reparou o seu talento. A estreia pela equipa principal do clube de Amesterdão deu-se a 15 de novembro de 1964. O Ajax até perdeu com o GVAV, por 3-1, mas Cruyff marcou o único golo da equipa. Começava a nascer uma lenda.

Um génio que revolucionou o futebol e levou a Ajax a um novo patamar

Cruyff não tardou a afirmar-se como uma estrela, com a sua qualidade técnica com bola, a sua agilidade, visão de jogo e capacidade para fazer aqueles que jogavam à sua volta parecerem ainda melhores do que eram. Uma afirmação que coincidiu com a chegada de Rinus Michels ao leme do clube, em 1965/66. Cruyff marcaria 25 golos em 23 jogos essa temporada, que terminou com a conquista da Eredivisie (Liga holandesa).

Com a sua carismática 'camisola 14', Cruijff elevou o Ajax a um patamar que o clube nunca antes tinha conhecido, conquistando um total de seis títulos de campeão dos Países Baixos, quatro Taças nacionais e, claro, três Taças dos Campeões consecutivas, entre 1971 e 1973, entre outros troféus. Quando rumou ao Barcelona, em 1973/74, por um valor recorde na altura, somava 250 golos em 318 jogos pela turma de Amesterdão, à qual voltaria mais à frente na carreira.

Johan Cruyff com uma das três Taças dos Campeões que ergueu como jogador do Ajax

A afirmação definitiva no Mundial 1974...e a desilusão da derrota na final

Johan Cruyff estreou-se pela seleção principal dos Países Baixos em 1969, tinha então apenas 19 anos. Na primeira internacionalização, frente à Hungria, marcou um golo...só que acabou expulso e ficou algum tempo sem voltar a ser chamado.

Os Países Baixos eram, por essa altura, uma seleção relativamente modesta, mas Cruyff iria ser decisivo para que esta se tornasse numa potência mundial. Os neerlandeses tiham falhado o apuramento para o Mundial 1970, mas brilharam depois a grande altura no Campeonato do Mundo de 1974, encantando tudo e todos nos relvados da então República Federal da Alemanha, com Cruyff como líder dentro de campo. Só iria ficar a faltar o título...

A forma de jogar dos Países Baixos e de Johan Cruyff nesse Mundial 74 revolucionou o futebol. Velocidade, pressão, passes sucessivos, movimentação constante, inovação e qualidade técnica: aquela equipa tinha tudo isso. E Cruyff era o expoente máximo do 'futebol total' daquela seleção vestida com camisolas cor-de-laranja que a partir daí (o filme de Kubrick com o mesmo nome ainda estava bem fresco a memória de todos) passaria a ser conhecida como a 'Laranja Mecânica'.

A estreia foi frente ao Uruguai. Vitória por 2-0. Cruyff não marcou e também ficaria em branco no jogo seguinte, um empate 0-0 com a Suécia (no qual para a eternidade ficou gravada uma sua finta para sempre batizada com o seu nome). Ao terceiro jogo, a primeira goleada: triunfo por 4-1 sobre a Bulgária e uma assistência de Cruyff.

Os Países Baixos seguiram assim tranquilamente para a segunda fase de grupos que então existia nos Mundiais. E foi aí que eles - e Cruyff - começaram a espalhar classe. Primeiro, nova goleada, agora por 4-0, sobre a Argentina, com dois golos e uma assistência do 'Nummer 14' neerlandês. A seguir, triunfo por 2-0 sobre a República Democrática da Alemanha e, para carimbar o passaporte para a final, vitória por 2-0 sobre o Brasil, com mais um golaço e uma assistência de Cruyff.

Só faltava, então, a final. Pela frente, os Países Baixos iriam ter a seleção da casa, a República Federal da Alemanha. Um duelo de dois estilos de jogo totalmente distintos, personificados na perfeição pelos seus melhores jogadores. Se os Países Baixos tinham a irreverência de Cruyff, a RFA tinha a solidez de Franz Beckenbauer.

Tudo começou por correr bem a Cruyff, que mostrou toda a sua genialidade logo no primeiro minuto do encontro. Logo na primeira jogada do encontro, fintou seis adversários e acabou derrubado na grande área germânica. Penálti e golo dos Países Baixos. Só que a Alemanha não se deixou abater. Aos 25 minutos empatou, também de penálti, e virou o marcador ainda na primeira parte.

Cruyff na final contra a Alemanha, com Franz Beckenbauer nas suas costas

Os neerlandeses não conseguiram responder no segundo tempo e acabaram mesmo derrotados. Cruyff perdeu na final daquele que foi o único Campeonato do Mundo que disputou, mas foi ainda assim coroado como rei desse Mundial.

E depois do Mundial? De jogador de topo a treinador de topo

Cruyff falhou depois a presença no Mundial 1978, na Argentina, em que os Países Baixos também chegaram à final. Durante muitos anos pensou-se que a ausência se teria ficado a dever à recusa de viajar até àquele país sul-americano, na altura a viver um sob um regime ditatorial liderado por Jorge Videla. Cruyff explicaria, muitos anos mais tarde, que essa ausência se deveu afinal, sobretudo, a motivos familiares.

Cruyff chegou mesmo a anunciar o fim da carreira como jogador em 1978, depois de conquistar a Taça do Rei pelo Barcelona. Porém, uma série de maus investimentos financeiros fizeram-no reconsiderar estendeu-se por muitos mais anos.

Rumou, então, aos Estados Unidos, onde representou os Los Angeles Aztecs, novamente sob as ordens por Michels. Foi eleito melhor jogador da North American Soccer League, e represenntou ainnda os Washington Diplomats e o New York Cosmos. Depois, voltou à Europa, a tempo de, apesar de já veterano, voltar a brilhar pelo Ajax, onnde conquistou mais dois títulos de campeão em dois anos. A sua genialidade e capacidade de inovar continuavam intactas, e até 'inventou' uma nova forma de marcar penáltis.

Apesar disso, e do sucesso desses dois anos, acabou dispesado pelo clube de Amesterdão, que se recusou a pagar-lhe o que ele queria. Em jeito de vingança, Cruyff assinou com o rival Feyenoord para a sua última temporada como futebolista profissional e ajudou o clube de Roterdão a sagrar-se campeão, algo que não sucedia há dez anos.

Dois anos após deixar de jogar, voltou ao Ajax, agora como treinador, orientando jogadores como Marco van Basten, Frank Rijkaard ou Dennis Bergkamp. E terá sido um dos poucos grandes jogadores da história do futebol mundial a ser também um dos grandes treinadores da história. Em 1988, depois de ganhar a Taça das Taças pelo Ajax, foi contratado para treinado de outro seu ex-clube, o Barcelona, revolucionando para sempre o futebol dos 'blaugrana' e levando-os à conquista da sua primeira Taça dos Campeões. Fumador inveterado, em 1991 sofreu um enfarte que o fez largar os cigarros e, em vez deles, passar a levar consigo um chupa-cupa para o banco de suplentes.

Cruijff viria a falecer em 2016, menos de um ano depois de anunciar oficialmente que lhe havia sido diagnosticado um tumor num pulmão, deixando um legado quase sem igual na História do futebol, mesmo tendo disputado apenas um Campeonato do Mundo.

Johan Cruyff nos tempos em que treinava o Barcelona

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