Data de Nascimento: 20/05/1952

Nacionalidade: Camarões

Presenças em Mundiais: 3 (1982, 1990, 1994)

Jogos em Mundiais: 10

Golos em Mundiais: 5

Títulos em Mundiais: 0

O quarto dos 15 'Cromos’ que fizeram história nos Mundiais escolhidos pelo SAPO Desporto vem de África. Quem se lembra do Mundial’90, lembra-se naturalmente de Roger Milla. O então já veterano avançado que, sempre com um sorriso no rosto e com uma carismática forma de festejar os seus golos, brilhou na surpreendente campanha dos Camarões té aos quartos-de-final dessa edição os Campeonatos do Mundo.

Mas foi quatro anos mais tarde, nos Estados Unidos, que entrou definitivamente para a História dos Mundiais quando, com uns incríveis 42 anos, se tornou no jogador mais velho de sempre a marcar numa fase final de um Campeonato do Mundo.

Albert Roger Mooh Miller ‘Milla’ nasceu em Yaoundé, nos Camarões, em 1952. Filho de um funcionário dos caminhos de ferro, mudou frequentemente de casa quando era jovem, o que o impedia de estar muito tempo na mesma equipa. A paixão e o jeito para jogar futebol, contudo, eram já visíveis, ao ponto de muitos dos que com ele jogavam o apelidarem de 'Pelé'. Aos 18 anos conseguiu, enfim, assinar um contrato com um dos maiores clubes do seu país, o Leopard de Douala.

Aí somou dois títulos de campeão dos Camarões. Dando nas vistas graças à sua qualidade técnica e à sua inteligência, chegou pela primeira vez à seleção camaronesa e o reconhecimento internacional surgiu: foi eleito, em 1976, Melhor Jogador Africano pela revista 'France Football'. Uma distinção que lhe abriu as portas para rumar ao futebol europeu e a França.

Chegou, então, a França pela mão do Valenciennes. Jogou também pelo Mónaco, pelo Bastia, pelo Saint-Éttiene e pelo Montpellier, mas em nenhum desses clubes conseguiu verdadeiramente singrar, com os golos a surgirem, mas não com a frequência que se exigia. Os troféus coletivos também escassearam: apenas duas Taças de França.

Não fossem, então, os feitos pela seleção e Roger Milla seria apenas mais um dos muitos jogadores africanos de qualidade que foram passando futebol europeu e que, com o passar do tempo, foram esquecidos. Mas, com a camisola dos Camarões, Milla conquistou os amantes do futebol, pela sua história e pela forma como, jogando sempre com um sorriso no rosto e celebrando os golos com uma dança carismática junto à bandeirola de canto, numa combinação pura de simplicidade e talento, personificava na perfeição o espírito de alegria do futebol do continente africano.

A icónica celebração de Roger Milla
A icónica celebração de Roger Milla A icónica celebração de Roger Milla

Sair da reforma para servir o país, brilhar…e fazer História

Milla disputou o seu primeiro Mundial em 1982, na Espanha. Uma presença bem mais discreta do que as que se iriam seguir, oito e 12 anos mais tarde. Alinhou nos três jogos da sua seleção nessa edição da prova, que até não esteve mal, somando três empates em três jogo, o último dos quais frente à eventual campeã Itália, 1-1, com Roger Milla a fazer a assistência para o golo dos Camarões. As outras duas igualdades foram nulos, frente a Polónia e Perú. Resultados insuficientes para garantirem um lugar na fase seguinte.

A seleção camaronesa conquistou, de seguida, a Taça de África das Nações pela primeira vez, com Milla em grande nível, mas falhou, depois, o apuramento para a fase final do Mundial'86, no México, e seria de esperar que a história de Roger Milla em Campeonatos do Mundo tivesse chegado ao fim. Até porque, depois de nova conquista da Taça de África das Nações, em 1988, Milla anunciou o seu adeus à seleção

Puro engano! A história ainda mal tinha começado! Então com 38 anos, e já com uma carreira de quase 20, Milla jogava então num modesto clube das Ilhas Reunião, no Oceano Índico, desfrutando de uma espécie de reforma antecipada num cenário paradisíaco. Mas foi incapaz de dizer não ao repto lançado pela federação camaronesa e pelo próprio presidente dos Camarões e acedeu a marcar presença no Mundial'90, em Itália.

E ainda bem, porque ele e a sua seleção iriam escrever uma das histórias mais bonitas da História dos Mundiais, com uma campanha memorável. Logo a abrir, vitória surpreendente sobre a então campeã em título Argentina, de Diego Maradona, por 1-0, apesar de ter terminado o encontro reduzida a 9 elementos. Ao segundo jogo, nova vitória: 2-1 à Roménia e com bis de Roger Milla, que assim se estreava a marcar em Mundiais e se tornava, ao mesmo tempo, no jogador mais velho de sempre a marcar em fases finais de Mundiais.

O apuramento para os oitavos-de-final estava selado e não foi beliscado por uma pesada derrota por 4-0 ante a URSS na terceira e última jornada da fase de grupos. Nos 'oitavos' a adversária dos Camarões foi a Colômbia. Milla foi suplente e o nulo persistiu até ao prolongamento, onde a estrela dos 'leões indomáveis' bisou. Um dos golos ficou para a história, com Milla a roubar a bola ao irreverente guarda-redes colombiano René Higuita quando este se aventurava com o esférico fora da sua área. Desarmou-o, colocou a bola no fundo das redes e festejou à maneira, com a sua irreverente dança.

O mítico golo de Milla a Higuita
O mítico golo de Milla a Higuita O mítico golo de Milla a Higuita

Os Camarões venceram por 2-1 e seguiram para os quartos-de-final, onde disputaram com a Inglaterra mais um jogo memorável. Milla, com a idade e o acumular dos jogos a pesarem, voltou a ser suplente. Saltou do banco e ainda fez uma assistência, com a seleção africana a força a Inglaterra a jogar o prolongamento, mas a acabar por perder por 3-2. Era o fim do sonho.

Mas, uma vez mais, não era o fim da história de Roger Milla em campeonatos do Mundo. Em 1994, nos Estados Unidos, já com 42 anos voltou, acedendo ao convite do então selecionador, o francês Henri Michel.

Milla não saiu do banco no jogo de estreia - empate 2-2 com a Suécia. No segundo jogo - derrota por 0-3 com o Brasil - saltou do banco no decorrer do segundo tempo, tornando-se então no jogador mais velho de sempre a jogar um Mundial (recorde entretanto batido, mas apenas por dois guarda-redes, sendo ainda hoje o jogador de campo mais velho de sempre a alinhar num Campeonato do Mundo.

Ao terceiro jogo, frente à Rússia (num jogo que ficaria marcado pelo recorde de cinco golos num só jogo de Oleg Salenko), Roger Milla começou no banco e entrou ao intervalo, quando os russos já venciam por 3-0. Os Camarões acabariam por perder por 6-1, mas Milla marcou o golo da sua seleção logo na primeira vez que tocou na bola, sendo ainda hoje o jogador mais velho de sempre a marcar em Mundiais. Um final bonito para, agora sim, o fim da história de Milla em Campeonatos do Mundo.

E depois do Mundial? Uma longevidade para a História

Roger Milla ainda viria a jogar mais três anos, até 1997, ao serviço de dois clubes da Indonésia, antes de pendurar em definitivo as chuteiras, aos 45 anos de idade. Depois de se retirar dos relvados, Milla tem utilizado a sua visibilidade para ser uma espécie de embaixador de diferentes causas na defesa do continente africano.

Para além os feitos em Campeonatos do Mundo, foi eleito Melhor Jogador de África em 1976 e 1990, foi melhor marcador da Taça de África das Nações em duas ocasiões, foi nomeado para a Equipa Ideal do Mundial'90.

Com uma carreira que passou por quatro décadas, Milla é visto como um dos melhores futebolistas de sempre de África e, graças à sua longevidade e aos recordes que ainda ostenta, terá para sempre o seu nome gravado na História dos Mundiais de futebol!

Roger Milla depois de marcar à Rússia, no Mundial 1994, com...42 anos!
Roger Milla depois de marcar à Rússia, no Mundial 1994, com...42 anos! Roger Milla depois de marcar à Rússia, no Mundial 1994, com...42 anos!