Especialistas em desporto consideram que os futebolistas que vão disputar o Mundial2022, no Qatar, não podem estar sujeitos a níveis altos de intensidade, nem a cargas físicas elevadas, e alertam para as consequências no final.
Em entrevista à agencia Lusa, Paulo Colaço, professor de desporto na Faculdade do Porto, explicou que o trabalho a ser realizado pelas equipas técnicas terá de ser bastante individualizado, lamentando que a preparação ideal não existe.
“O maior problema tem que ver com as condições climatéricas que se vão viver lá. Estamos a falar de uma condição de temperatura bastante alta, humidade bastante alta. Isto vai ter algumas consequências naquilo que é a preparação, não só em termos de treino, mas também na preparação para que os atletas consigam conviver e ter rendimento em situações de calor elevado”, começou por dizer o técnico, de 53 anos.
Para contornar as previsíveis adversidades no país anfitrião, que acolhe a prova entre 20 de novembro e 18 de dezembro, Paulo Colaço defendeu que deverá existir “algum desenvolvimento de estratégias de regulação térmica de cada jogador”, face à falta de tempo, que “deveria de ser, pelo menos, de duas semanas, para fazer alguma climatização”.
“Os níveis de intensidade de treino não podem ser altos. Há que reduzir a carga física e vigiar em relação a alguns fatores, para entender como é que cada jogador vai ter de trabalhar a recuperação entre cada jogo. É preciso perceber como estão a reagir ao nível do peso, urina e sensações de sede, para antecipar mecanismos termorregulatórios”, argumentou.
Embora os oito estádios do torneio sejam climatizados, os jogadores vão deparar-se com dificuldades acrescidas nos treinos de preparação para os jogos, pelo que, treinar menos do que o habitual em grupo será benéfico.
“Às vezes, pode ser mais importante não treinar tanto, para não ter um impacto negativo no corpo do jogador, do que estar a sujeitá-lo a uma sessão de treino em que depois o impacto seria prejudicial para o jogo. O jogador poderá ficar algum tempo a conviver com mau estar e ter sensações de desconforto. O treino vai ser a parte menos importante”, defendeu.
Concluída a prova, “alguns jogadores podem apresentar problemas de ordem muscular”, segundo o técnico, que sugeriu um plano individual diário para cada atleta.
“Pode gerar alguma fadiga muscular acrescida [nos jogadores], suscetibilidade para terem roturas musculares, um pior desempenho muscular, perderam níveis de força e resistência, que têm de ser recuperados a seguir. Seria muito interessante que cada jogador tivesse um plano individual diário”, concluiu.
Por sua vez, o preparador físico João Faleiro considerou que “não se pode exigir demasiado ao nível da preparação física”, uma vez que “o trabalho feito nos clubes não é o mesmo feito na seleção”, e que uma semana de treinos no Qatar “é razoável”.
“Diria que [a preparação] é mais uma manutenção das qualidades físicas. Fazer jogos de treino seria desejável e chegar com antecedência é essencial, mas não podemos exigir aos jogadores para saírem dos clubes, viajar e estar a treinar um mês ou dois. Não é possível e creio que chegar com uma semana de antecedência já é razoável”, expressou.
Para João Faleiro, que recentemente trabalhou na Finlândia, o calor “vai influenciar, sem dúvida, a performance dos atletas”.
“Há que ter em conta duas coisas: a data, que foi alterada, para evitar o esforço em altas temperaturas, que já vão estar relativamente suportáveis. Depois, creio que o Qatar é um país com as condições que nós sabemos e tudo que seja ‘indoor’ vai ter, provavelmente, condições climatizadas”, salientou.
Por fim, o regresso aos clubes no final do torneio também foi um tema abordado pelo especialista, que alertou para o impacto diferenciado, face às ligas nas quais os jogadores jogam.
“Vai ser variável. Se um jogador joga numa liga muito exigente, talvez no Mundial tenha cargas mais baixas do que está acostumado. Depois, temos o inverso. Se o jogador vai para uma liga menos exigente e durante o Mundial está sujeito a carga muito mais elevada, o processo é completamente o inverso. Vai ter impacto, mas não vai ser igual em todos os clubes e ligas”, concluiu.
O Mundial2022 disputa-se no Qatar, entre 20 de novembro e 18 de dezembro, com Portugal a integrar o Grupo H da prova, juntamente com Gana (24 de novembro), Uruguai (28 de novembro) e Coreia do Sul (02 de dezembro).
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