Uma história ou um texto divide-se em introdução, desenvolvimento e conclusão. A história do Mundial de hoje não obedece às regras da lógica. Ultrapassa a própria lógica. A conclusão pôde tirar-se logo no momento da introdução e a culpa de tamanho feito só tem um protagonista ou um vilão: Luiz Felipe Scolari.

Neymar e Thiago Silva não entram nesta história, simplesmente porque já se sabia que não seriam personagens. Ora para os seus lugares entraram Dante e Bernard. E que erro de casting este de Scolari. Se Dante era uma escolha óbvia, com Henrique a não ter maturidade para assumir esse lugar, Bernard nem tanto.

Quando muitos falavam que podíamos assistir a uma equipa construída com base em três médios, onde a prudência e a contenção seriam as virtudes perante um “papão” chamado Alemanha, eis que Scolari e a sua equipa apareceram de peito feito, destemidos e incautos.

E que presa fácil se tornaram em apenas 45 minutos. Tudo começou num canto de Kroos com Muller a aparecer completamente à vontade, enganando a marcação de David Luiz. Daí nasceu o 1-0 (11').

Scolari, teimoso até ao fim
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Depois foi Klose, que com um golo não se tornou apenas um dos protagonistas desta história, mas da História, realçando o “H”. O avançado alemão apontou o seu 16º golo em Mundiais, tornando-se o melhor marcador de sempre da história da competição, ultrapassando o “fenómeno” Ronaldo, que tinha 15, e assistiu ao vivo esta ultrapassagem, e até teve que comentá-la para a TV Globo.

O Brasil estava pálido, irreconhecível, e a Alemanha, igual a si mesma, aproveitou. Seis minutos, três golos, e o silêncio era total no Mineirão, em Belo Horizonte. Primeiro Kroos (24'), depois Kroos (26'), e por último Khedira (29').

No estádio, os mais pequenos não controlavam as lágrimas que rolavam pelo seu rosto, os mais velhos esqueciam o futebol e viravam a sua raiva para a presidente Dilma Rousseff, entoando nomes pouco simpáticos. As eleições presidenciais estavam à porta.

O intervalo chegou e a monumental assobiadela também, e que fim triste para um Brasil que estava todo unido em torno desta história.

Não havia um brasileiro no estádio que quisesse assistir a mais 45 minutos deste pesadelo. Porque se era possível, este piorou mesmo.

Schurrle entrou e marcou dois golos fantásticos aos 69 e aos 79 minutos. Óscar, sobre o apito final, fez o 7-1, o tal golo de honra.

A Alemanha seguia para a final do Mundial de futebol. Já o Brasil teria a consolação, se é que serve de consolação para um país que só aceita o primeiro lugar, o jogo do terceiro e quarto lugar. E aí também perdeu 3-0 com os Países Baixos.

O Brasil sofreu a maior derrota de sempre na sua história. O registo mais próximo deste datava de 1920 frente ao Uruguai e esse encontro tinha terminado por 6-0.

Imprensa brasileira em choque: Mineiraço é pior do que Maracanazo

64 anos depois, o Brasil voltou a receber um Mundial e, tal como em 1950, falhou novamente a conquista do título, com o Maracanazo (nome dado à derrota com o Uruguai, por 2-1), a ser agora substituído pelo Mineiraço.

É esse mesmo o título principal na página da Folha de São Paulo, numa referência ao estádio Mineirão, em Belo Horizonte, onde os alemães humilharam o Brasil.

“Massacrados. Mineiraço. Brasil é novamente humilhado ao tentar ganhar uma Copa em casa”, lê-se no jornal de São Paulo, que acrescenta que “Alemanha destrói o Brasil com 7 a 1 e vai para sua oitava final em Copas do Mundo”.

Do sonho do hexa que “virou pesadelo” na Folha, para o “vexame dos vexames” do Globo Esporte, que diz que o Brasil foi “massacrado tática e tecnicamente” pelos alemães, levando “desespero” às bancadas do Mineirão.

“Nem o torcedor brasileiro mais pessimista esperava uma tarde tão triste”, lê-se na crónica do Diário de São Paulo.

Neymar disse que Brasil não fez uma boa campanha
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O Lance, jornal desportivo, é de todos o mais original. A capa vem em branco e no fim diz: "Diga o que está sentido e faça você mesmo esta capa do Lance". Em cima desta frase, exemplos do que se pode estar a sentir: "Indignação, revolta, dor, frustração, irritação, vergonha, pena, desilusão...".

O Estado de São Paulo colocou uma foto de Scolari com as mãos a tapar os olhos sob o título "Humilhação em casa". O Diário Gaúcho, da terra do selecionador, diz que "6 era sonho, 7 é pesadelo", com as duas partes pintadas com as respetivas bandeiras dos países.

O O Globo é 'curto e grosso': "'Mineiratzen - Vergonha, Vexame, Humilhação", com uma foto de David Luiz, prostrado no chão. O RJ Sports chama-lhe "A vergonha do século".

O jornal Povo do Rio usa uma expressão bem brasileira para dizer o que se passou: "Alemanha esculacha o Brasil".

Alemanha acaba mesmo por levar a Taça para Berlim e Scolari deixa o comando técnico da seleção brasileira

A Alemanha acabaria por se sagrar campeã do Mundo, depois de bater a Argentina na final do Mundial2014. Mario Goetze marcou, aos 113 minutos de jogo, o único golo do encontro disputado no mítico Maracanã. Os alemães terminam o Mundial do Brasil com seis vitórias e um empate. Messi viu o título que lhe falta no currículo "fugir pelos dedos". Um resultado menos mau para o Brasil, que não suportaria ver a arquirrival Argentina vencer na sua casa.

No mítico Maracanã, palco da final perdida pelo Brasil em 1950 para o Uruguai, Argentina e Alemanha procuravam desempatar em finais: no México1986 Maradona fez o passe para Burruchaga apontar o 3-2 final e no Itália1990 Andreas Brehme fez, de penálti, o golo da vitória frente a seleção das Pampas na final.

Depois do Mundial no Brasil, Luiz Felipe Scolari renunciou ao cargo e Dunga acabaria por ser o substituto, cargo que manteve até 2016, ano em que Tite entraria em ação, até hoje.

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