Para Romelu Lukaku tudo começou numa promessa. Com apenas seis anos, o avançado do Manchester United prometeu a si mesmo que quando festejasse o 16.º aniversário ia também festejar a assinatura do seu primeiro contrato profissional. Tudo porque viu a mãe a misturar água no leite para conseguir alimentar os dois filhos.
"Um dia cheguei a casa, entrei na cozinha e vi a minha mãe junto ao frigorífico com um pacote de leite, como era normal. Mas desta vez ela estava a misturá-lo com alguma coisa, estava a agitar o pacote. Na altura não percebi o que se estava a passar, mas depois descobri que tinha adicionado água ao leite. Foi aí que percebi que estávamos falidos", contou o avançado, numa emocionante carta publicada no ‘The Players Tribune’, intitulada "Tenho algumas coisas a dizer".
Certo é que houve um antes e um depois daquele episódio. “Eu bebi o leite e não disse uma palavra, não a queria enervar, mas naquele momento fiz uma promessa a mim mesmo: ia ser futebolista profissional no Anderlecht", recordou Lukaku.
"Durante muito tempo guardei essa promessa para mim mesmo, mas um dia cheguei a casa, vindo da escola, e encontrei a minha mãe a chorar. Nesse momento disse-lhe: "Mãe, tudo vai mudar, vais ver. Eu vou ser jogador do Anderlecht, e vai acontecer em breve. Nós vamos ficar bem e tu não terás de te preocupar mais", refere.
Dez anos depois, Lukaku acabaria por assinar um contrato profissional com o Anderlecht, cumprindo a promessa que havia feito a si mesmo e à mãe. O jogador partilhou o momento em que soube que ia estrear-se pela formação belga, na segunda mão do ‘playoff’ do campeonato.
"Um dia antes da segunda mão, recebi uma chamada do treinador da equipa de reservas. 'Olá Rom, o que estás a fazer?', 'Vou para a rua jogar à bola', Não, não, não. Faz as malas. Agora', 'Porquê? O que é que eu fiz?', 'Tens de ir para o estádio agora. A equipa principal está à tua espera'".
Mas o jovem Lukaku não foi o único a ser apanhado de surpresa. "Saímos do autocarro para entrarmos no estádio e todos os jogadores estavam de fato, menos eu. Eu estava de fato de treino e as câmaras apanharam-me. Assim que entrei no balneário, o meu telemóvel ‘explodiu’, recebi mil mensagens, os meus amigos estavam loucos": 'Mano, o que se passa?', 'O que é que estás a fazer na TV?'. Apenas respondi ao meu melhor amigo: ‘Mano, não sei se vou jogar. Não sei o que está a acontecer. Mas continua a ver TV’”.
Nove anos depois, Lukaku pode orgulhar-se de ser melhor marcador da seleção belga e de ter ultrapassado a barreira dos 100 golos na Premier League. E já leva dois golos no Mundial'2018.
"Queria ser o melhor futebolista belga da história. Era esse o meu objetivo. Não era ser bom, não era ser grande. Era ser o melhor. Eu jogava com tanta raiva, devido a muitas coisas… devido aos ratos a correr pelo nosso apartamento… porque não conseguia ver a Liga dos Campeões… e devido à forma como os pais dos outros miúdos olhavam para mim", atirou o avançado, que continuou a ser discriminado mesmo depois de se ter tornado numa máquina de golos.
“Quando as coisas corriam bem, lia os jornais e eles chamavam-me Romelu Lukaku, o atacante belga. Quando as coisas não corriam bem, chamavam-me Romelu Lukaku, o atacante belga descendente de congoleses”, refere.
Para além da mãe, Lukaku não esquece a influência que o avô teve no seu percurso, mesmo após a sua morte, quando o jogador tinha apenas 12 anos: "Gostaria imenso que o meu avô estivesse cá para presenciar isto. Não estou a falar da Premier League, nem do Manchester United, nem da Liga dos Campeões, nem dos Mundiais. Gostaria que ele estivesse cá para ver a vida que temos agora. Gostaria de ter uma última chamada com ele".
Lukaku confessa ainda o que gostaria de dizer ao avô: "Vês? Eu disse-te. A tua filha está bem. Não existem ratos no apartamento. Não dormimos no chão. Não há stress. Estamos bem. Estamos bem agora… Não precisam mais de ver a minha identificação. Agora sabem o nosso nome".
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