ministro João Gomes Cravinho disse hoje encarar com "toda a tranquilidade e normalidade" a ida do embaixador de Portugal em Doha ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) do Qatar e reiterou que são procedimentos normais quando o Presidente visita outro país.
"É normal, temos o nosso Presidente da República a visitar o Qatar e obviamente que há sempre muitos pormenores a tratar quando isso acontece", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, em declarações à Lusa em Barcelona, onde hoje participou em econtros da União para o Mediterrâneo (UpM) e entre a União Europeia e os países vizinhos do Sul com quem Bruxelas tem acordos de parceria.
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"Houve algum empolamento na comunicação social, mas nós olhamos para esta matéria, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, numa perspetiva diplomática, com toda a tranquilidade e normalidade", disse João Gomes Cravinho, sem dar mais detalhes.
Fonte do gabinete do ministro já tinha confirmado hoje de manhã que o embaixador de Portugal em Doha esteve na quarta-feira no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar no "quadro da preparação da visita" do Presidente da República ao emirado, para ver hoje um jogo da seleção portuguesa no campeonato mundial de futebol.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros português não acrescentou mais detalhes sobre a reunião do embaixador de Portugal junto da diplomacia do Qatar.
Segundo meios de comunicação social portugueses, o Governo do Qatar transmitiu ao embaixador português desagrado com declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o incumprimento dos Direitos Humanos no país do Médio Oriente.
Marcelo Rebelo de Sousa está no Qatar hoje para assistir ao primeiro jogo da seleção portuguesa de futebol no Mundial, contra o Gana.
Na semana passada, em 17 de novembro, o Presidente fez declarações que se tornaram polémicas sobre o emirado pedindo concentração nas questões desportivas.
“O Qatar não respeita os Direitos Humanos. Toda a construção dos estádios e tal..., mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa”, disse hoje Marcelo Rebelo de Sousa.
Esta semana, na terça-feira, o Presidente da República disse que Portugal mantém relações diplomáticas com vários países não democráticos e defendeu que o Mundial de futebol é um certame importante e que as autoridades portuguesas devem estar presentes.
Portugal mantém “relações diplomáticas com a maioria dos Estados do mundo, [e] a esmagadora não é democrática”, afirmou, retirando que iria falar hoje no Qatar, sobre Direitos Humanos, o que fez durante um encontro com o Presidente do Gana.
A deslocação do Presidente da República ao Qatar para assistir ao primeiro jogo da seleção nacional de futebol no Mundial 2022 foi aprovada esta semana no Parlamento com votos a favor das bancadas do PS, PSD e PCP, abstenção do Chega e votos contra de IL, BE, PAN e Livre.
Várias organizações de defesa dos Direitos Humanos denunciaram que milhares de pessoas morreram no país entre 2010 e 2019 em trabalhos relacionados com o Mundial.
Um relatório publicado no jornal britânico The Guardian, no passado mês de fevereiro, indica a morte de pelo menos 6.500 pessoas.
Além das mortes por explicar, o sistema laboral ‘kafala’ e os trabalhos forçados, sob calor extremo assim como as longas horas de trabalho, entre outras agressões, têm sido lembradas e expostas vários há anos por organizações não-governamentais e relatórios de instituições independentes.
O SAPO está a acompanhar o Mundial mas não esquece as vidas perdidas no Qatar. Apoiamos a campanha da Amnistia Internacional e do MEO pelos direitos humanos. Junte-se também a esta causa.
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