A seleção portuguesa nunca teve, porventura, um leque de futebolistas com tanta qualidade e quantidade para integrarem uma convocatória, mas Fernando Santos foi fiel a si próprio e não apresentou qualquer surpresa nos 26 escolhidos para o Mundial2022.

Nem a chamada de António Silva pode ser considerada uma ‘carta fora do baralho’, dada a ascensão meteórica do central do Benfica, com exibições categóricas e consecutivas no campeonato e na Liga dos Campeões, que faziam prever a sua convocatória para a fase final, até por declarações do próprio Fernando Santos, que indiciavam essa chamada.

Na baliza nada de novo, Diogo Costa, apesar dos seus 23 anos, parte já como ‘número 1’ para o Mundial, não só pela época que tem vindo a fazer ao serviço do FC Porto, também com exibições categóricas na ‘Champions’, mas também pela vantagem que tem sobre aquele que tem sido titular na última década, Rui Patrício, em relação ao jogo de pés, o ‘calcanhar de Aquiles’ do guarda-redes da Roma.

Seja como for, Patrício parte em segundo lugar na hierarquia dos guarda-redes, cabendo o terceiro posto a José Sá, do Wolverhampton, que já sofreu 22 golos em 14 jornadas na Premier League, muito por culpa das saídas dos centrais Saiss e Coady, que eram o sustentáculo de uma defesa sólida, que permitia aos seus velocistas na frente fazerem estragos no contra-ataque.

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Na defesa não subsistia qualquer dúvida acerca dos oito escolhidos por Fernando Santos, desde que Pepe recuperasse da lesão, como sucedeu, que o colocou fora de ação durante o último mês e meio, mesmo sabendo que o central portista vai sem ter ritmo de competição nas pernas.

A opção pelos dois laterais direitos é pacífica, João Cancelo é um dos melhores do mundo, apesar de algumas desconcentrações comprometedoras de que tem sido protagonista pelo Manchester City nos últimos jogos, e Diogo Dalot tem-se afirmado de forma indiscutível como titular do Manchester United, superando a concorrência de Nelson Semedo e Cédric, além de ser já aposta de Fernando Santos, mesmo quando não tinha ganho o estatuto que tem hoje.

No eixo da defesa, além de Pepe, Rúben Dias tem lugar seguro como titular, ele que tem sido um dos pilares defensivos da seleção nos últimos anos, enquanto Danilo será a primeira opção para render a dupla, e António Silva integra os 26 por mérito próprio, embora seja improvável a sua utilização, até pela falta de rotina que tem com os outros três.

No lado esquerdo da defesa, Raphaël Guerreiro é uma escolha óbvia de Fernando Santos, que nunca escondeu a sua admiração pelo lateral do Dortmund e campeão europeu em 2016, embora envolva algum risco, dada a predisposição deste para mialgias e lesões musculares, risco esse minimizado pela polivalência de Dalot e Cancelo, que podem jogar no lado esquerdo.

A convocatória do lateral esquerdo Nuno Mendes também não sofre contestação, dada a rapidez com que se afirmou numa equipa de topo como o Paris Saint-Germain, e se no lado direito Cancelo parte à frente de Dalot, no esquerdo subsistem dúvidas sobre a opção que Fernando Santos vai tomar em relação à titularidade.

No meio-campo, Fernando Santos também não ousou ao apostar no ‘núcleo duro’ pós-Mundial2018, formado por William Carvalho, João Mário, que já vêm do Euro2016, Rúben Neves, Bernardo Silva e Bruno Fernandes, a juntar ao ‘sangue novo’ no qual já apostara, com Matheus Nunes, Vitinha e Otávio, além de Palhinha, que beneficia do recuo de Danilo como opção no eixo da defesa, apesar de não ser um dos ‘preferidos’ do selecionador.

De assinalar a opção de deixar de fora o médio Renato Sanches, cujas características contrastam com as dos restantes médios, por ser um jogador capaz de fazer ruturas, de transportar a bola e ‘queimar linhas’, ao invés dos outros, que são mais de toque de bola, com exceção de Matheus Nunes.

Fernando Santos acabou por optar pelo ex-sportinguista, que é um jogador que pode ser muito útil quando a equipa estiver numa posição de vantagem e a ser pressionada, e não foi propriamente uma surpresa, tendo em conta que o selecionador tem dificuldade, como já o demonstrou no passado, em ‘digerir’ alguma indisciplina tática de Renato Sanches.

Por outro lado, médio do FC Porto Otávio dá a Fernando Santos mais opções em termos táticos, permitindo à equipa jogar em 4x4x2 ou 4x3x3, conforme o adversário e a estratégia a seguir, por ser muito versátil, agressivo na recuperação da bola e pelas garantias que oferece em termos de cobertura defensiva, além de ser um jogador tecnicamente evoluído, que defende, mas também ataca bem.

No setor atacante, a decisão do selecionador em convocar Gonçalo Ramos, deixando de fora Gonçalo Guedes, constituiu uma meia surpresa, em função da escassez de opções para as alas no ataque, contando apenas com um jogador rotinado nessas zonas do campo que é Rafael Leão.

Não podendo contar com Pedro Neto e Diogo Jota, ambos por lesão, era expectável que Fernando Santos chamasse Guedes, que tem a rotina da posição, mas o técnico optou por Ramos, que pode jogar como ponta de lança, ou como segundo avançado, e que aporta à equipa a sua disponibilidade física e capacidade que tem de pressionar e de disputar todas as bolas.

Se jogar com Cristiano Ronaldo na frente, o segundo avançado terá forçosamente de ter essas características para compensar o facto do avançado do Manchester United não fazer esse trabalho.

A chamada de André Silva já era previsível, porque Fernando Santos levou sempre às fases finais um ponta de lança de raiz e o avançado do Leipzig tem vindo a jogar com maior regularidade do que no início da época.

Não surpreenderam também as convocatórias de João Félix, que tem sido sempre opção de Fernando Santos, mesmo quando foi declaradamente suplente no Atlético Madrid, como acontece neste momento, de Ricardo Horta, que correspondeu sempre que foi chamado e cuja versatilidade pode ser muito útil à seleção.