Quem acompanha futebol há muitos anos, ou nem há tantos anos assim, pelo menos nas últimas duas décadas, nota que o futebol de seleções ‘burocratizou-se’. Na primeira fase deste Mundial’2018 foram poucos os jogos realmente atraentes, salvo o Portugal 3-3 Espanha, e nesta fase dos oitavos de final, excetuando-se a magnífica vitória francesa sobre a Argentina por 4-3, o grande jogo deste Campeonato do Mundo até aqui, e a louca segunda parte do Bélgica 3-2 Japão, temos acompanhados jogos demasiado enfadonhos, burocráticos, taticamente pobres e sem grandes momentos para mais tarde recordar. A impressão é que faltam talentos em maior abundância, mais agressividade na parte ofensiva por parte dos selecionadores, e talvez, em minha opinião, mais vontade de vencer.

Acompanhar os 120 minutos de sonolentos jogos de futebol que foram os deste domingo, 1 de julho, nas classificações por penáltis de Rússia e Croácia, fez-me lembrar de quando os jogos do Mundial de futebol eram mais atraentes, criavam mais expectativa, e realmente contavam-se os dias para determinada partida. A antiga máxima de que ‘o medo de perder é maior que a vontade de ganhar’ parece estar mais atual que nunca entre as seleções participantes do grande evento que pára o planeta a cada quatro anos.

O Brasil, que ainda espera um brilho maior de Neymar, não teve grandes dificuldades até aqui, jogando contra equipas mais preocupadas em defender do que ganhar os jogos. A vitória brasileira sobre o México nos oitavos foi convincente, principalmente pela exibição de Willian, médio do Chelsea, e que não vinha de bons jogos pelo ‘escrete’. Coutinho, o melhor brasileiro até aqui no torneio, pouco produziu contra os mexicanos, e Neymar, com um importante golo que abriu a classificação aos quartos, e protagonista de uma confusão com o ex-portista Layún, são as principais figuras canarinhas na Rússia, e terão pela frente o primeiro teste a sério neste Mundial, a Bélgica e sua grande geração que procura fazer história.

Este confronto entre Brasil e Bélgica promete ser um dos grandes jogos deste Campeonato do Mundo, talvez um daqueles para ficar na memória. Quem sabe seja o grande jogo de Neymar, ou a confirmação desta badalada geração belga comandada pelo trio Hazard, De Bruyne e Lukaku. Que este Brasil e Bélgica seja um espetáculo à altura de um Campeonato do Mundo, com lances de génio por parte dos camisolas 10. Que seja um jogo atraente, com emoção, e nada burocrático. Pelo bem do futebol e de seus ainda milhões de fãs, que talvez estejam a sentirem-se um pouco órfãos, agora sem a presença de Cristiano Ronaldo e Messi nos relvados russos, eliminados precocemente. Enfim, que o duelo entre Neymar e Hazard possa entrar para a história como um dos grandes confrontos dos Mundiais, e que o talento sempre supere a chatice e o pragmatismo de seleções e selecionadores avessos ao espetáculo e ao futebol.

Yuri Bobeck é jornalista, com passagens por rádio UEL FM, jornal Lance!, TV Cultura e TV Globo. Escreve para o SAPO neste Mundial 2018.