Num mundo ainda abalado pela Grande Depressão de 1929, um norte-americano viveu o seu dia de glória. Enquanto muitos compatriotas procuravam apenas sobreviver à crise e sofriam com as consequências do colapso dos mercados, Bert Patenaude fazia pela vida com os seus colegas de seleção no primeiro Campeonato do Mundo de futebol, em 1930.
E quem é Bert Patenaude? Para muitos será um ilustre desconhecido, uma nota de rodapé nos livros de história do futebol. Para outros, ele é o autor do primeiro hat-trick nos Mundiais.
Os Estados Unidos da América nunca foram olhados como uma potência no futebol, porque em solo americano o futebol – ou soccer – sempre perdeu em popularidade para o basebol ou o basquetebol. Porém, o primeiro Mundial da história contou mesmo com a seleção norte-americana e a equipa conseguiu deixar a sua marca, com um meritório terceiro lugar, até hoje a melhor classificação dos ‘States’. E mais do que a equipa, foi Bert Patenaude quem conseguiu imortalizar o seu nome.
No entanto, este jovem avançado de 20 anos precisou de esperar longos 76 anos para que o Mundo reconhecesse o seu feito. Mas a morte não esperou por ele e levou-o 32 anos antes de poder gozar a sua entrada oficial para a história do futebol mundial.
Nascido a 4 de novembro de 1909, Patenaude passou por inúmeros clubes norte-americanos entre 1928 e 1936, anos em que o futebol não escapou à instabilidade provocada pela crise económica. Foi nos Fall River Marksmen que mais se notabilizou, graças à sua capacidade goleadora que o levou a fazer parte da seleção em 1930, no Mundial realizado no Uruguai.
O feito no primeiro Mundial da história
A prova realizou-se com 13 países, divididos em quatro grupos, onde o primeiro tinha quatro seleções e os restantes apenas três. Os EUA ficaram colocados no grupo D, ao lado de Bélgica e Paraguai, e provaram que estavam ali para surpreender. No primeiro jogo, contra os belgas, o resultado foi esclarecedor: 3-0, com o jovem Patenaude a assinar um dos golos da sua equipa.
Mas foi a 17 de julho do longínquo ano de 1930 que este jogador se eternizou no futebol. Diante do Paraguai, nova vitória por 3-0, com todos os golos a terem a autoria de Patenaude. Contudo, foi preciso esperar até 2006 para que a FIFA homologasse a proeza do norte-americano.
Os registos desse jogo declaravam golos aos 10, 15 e 50 minutos, mas o segundo golo lançou uma sombra de dúvida sobre a sua marca. A FIFA atribuiu inicialmente o tento a Tom Florie, apesar da federação norte-americana contestar e defender Patenaude. Depois, a confusão tornou-se ainda maior, com um organismo de estatísticas do futebol a considerar que tinha havido autogolo.
Uma vida à espera do reconhecimento
Assim, Bert Patenaude – que depois veria a sua seleção cair nas meias-finais com a Argentina – regressou a casa como um herói da terra, mas sem o justo reconhecimento internacional. Com efeito, durante anos teve de ouvir que tinha sido o argentino Guillermo Stabile a apontar pela primeira vez um hat-trick nos Mundiais, um facto ocorrido apenas dois dias depois de o norte-americano o conseguir. E foi com essa sombra que morreu, em 1974, no dia do seu 65º aniversário.
Só em 2006, passados já 76 anos desde o primeiro Campeonato do Mundo de futebol, é que a FIFA veio num curto comunicado de cinco linhas reconhecer a proeza de Bert Patenaude como o autor do primeiro hat-trick. O antigo jogador norte-americano podia finalmente descansar em paz. Agora, ele e os seus três golos são parte da história dos Mundiais.
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