A saga continua. 11 jogos, 11 vitórias, 41 golos marcados, 4 sofridos. A seleção portuguesa mantém-se invicta na era Roberto Martínez. Frente à Suécia, formação nórdica que estará ausente do próximo europeu, Portugal não só venceu como voltou a convencer. 5 golos marcados, 2 sofridos - servem de aviso -, mas sempre com uma superioridade absolutamente inquestionável.
Com o maestro Bruno Fernandes, a orquestra lusa nunca desafinou, pelo contrário. Errou em duas notas, é certo, mas nada que não se corrija com mais uns quantos ensaios, antes do derradeiro espetáculo, em junho, nos grandiosos palcos alemães.
Assim, e depois de mais um triunfo, pergunto: Haverá alguém que não carregue consigo a esperança, mas acima de tudo a crença, de que Portugal pode mesmo vencer o Europeu?
Três, a conta que Bruno Fernandes fez
Assente num 4-3-3, Pepe e Rúben Dias tinham Nuno Mendes e Nélson Semedo a proteger-lhes os ombros. Logo à frente, Bruno Fernandes, Matheus Nunes e Palhinha enchiam o meio-campo e Rafael Leão e Bernardo Silva surgiam no constante apoio a Gonçalo Ramos, sozinho no ataque. Do outro lado, Jon Dahl Tomasson, selecionador recém-chegado (e com muito trabalhinho pela frente, verdade seja dita) lançava o inqualificável Gyokeres, sem surpresas. Alexander Isak era a outra estrela sueca a entrar de início, para além do ex-Benfica Lindelof.
Curiosamente, contra as melhores expetativas, até foi a Suécia a primeira criar perigo, num lance em que Rúben Dias ia acabando por colocar a bola na própria baliza. Passou ao lado do poste, mas ainda lhe tirou a tinta. E por falar em tinta, tamanha força nas canetas tem Rafael Leão. Sempre em excesso de velocidade, o avançado português parecia inesgotável. Em poucos minutos, uma sequência estonteante de arrancadas só podia acabar de um forma: com o golo. E dele mesmo, o Rei da Selva.
Era o que faltava para soltar amarras, ou só mesmo para fintar os nervos perante uma casa cheia, aos olhos de um público sedento de apoiar a seleção, sentia-se. Seguiram-se os golos de Matheus Nunes, a quem a defesa sueca estendeu a passadeira - tanta passividade! - e de Bruno Fernandes, que só teve de encostar a passe de Nélson Semedo, após uma bonita jogada do lateral do Wolverhampton pelo lado direito do ataque.
Tinham chegado ao fim os 45 minutos e dificilmente se poderia pedir mais. Que grande primeira parte.
Zona J(ota)
Dos balneários para a segunda parte já não regressaram três: Pepe, Rafael Leão e Nuno Mendes. Entraram António Silva, Bruma e Toti Gomes. No banco, mantinham-se os três estreantes, sedentos de saltarem lá para dentro - Francisco Conceição, Jota Silva (aguenta coração!) e Dany Mota.
Depois de uma entrada um pouco mais alegre da Suécia, que pouco durou, Portugal voltava a impor-se. Depois de um contra-ataque o recém entrado Bruma fazia o 4-0 para Portugal. Sem tempo para festejar, do outro lado Gyokeres mostrou que tem sérias dificuldades em acabar um jogo sem faturar. 4-1 para a Suécia, que finalmente dava algum ar da sua graça. O avançado dos leões, bem tentou, mas esteve quase sempre tapado por Pepe e Rúben Dias na primeira parte e, já na segunda, com o central do City ao lado de António Silva, que entrou para o lugar experiente defesa do FC Porto.
Já com o resultado bem encaminhado, Jota saltou do banco para a receber a maior ovação da noite. Batalhou, acreditou e só Olsen pode travar cruelmente o que seria um terramoto na Cidade Berço. Tão perto e tão longe, o extremo do Vitória teve o golo nos pés, mas Olsen teve a defesa nas mãos e não vacilou.
Não marcou Jota, marcou Gonçalo Ramos. 5-1, aparentemente final, mas não sei antes a Suécia contrariar o destino e aproveitar uma das poucas desconcentrações da defensiva lusa, já nos últimos instantes, com o 5-2.
Posto isto, sejamos claros. Como diria um recordista do Guinness: 'Um é casual. Dois, pode ser, aconteceu. Cinco?' Não pode ser uma acaso, de facto.
O melhor: Vira o jogo e toca o mesmo
Bruno Fernandes. Até pode ser injusto, porque não é fácil escolher um nome entre tantos dignos de registo. Portugal vale cada vez mais pelo seu coletivo, mas ninguém é indiferente à qualidade individual dos jogadores lusitanos. Entre eles, justiça seja feita, Bruno Fernandes. Pelo que joga e faz jogar, pela formiguinha trabalhadora que transporta incessantemente a bola, ligando setores, descobrindo os colegas, mas sempre, sempre, de olhos na baliza. Frente à Suécia marcou, deu a marcar e chegou aos 20 golos pela seleção. Com tanto talento a rebentar pelas costuras, dá um jeitão ter um cérebro assim.
O pior: Uma autêntica autoestrada
A defesa sueca. Imaginem ter um Ferrari, rapidíssimo, mas com 2 toneladas de chumbo na mala. Já imaginou? O Ferrai é Gyokeres e o chumbo na bagagem é a pesada defesa da Suécia. Apesar da qualidade da seleção escandinava no ataque, não só por causa de Gyokeres, mas também pelo motor Isak, por exemplo, a autêntica cratera defensiva da equipa agora comandada por Jon Dahl Tomasson, antevê um longo trabalho pela frente. Não é fácil marcar dois golos a Portugal - aliás, o mesmo número de golos sofridos em toda a fase de qualificação -, e há mérito nisso. Mas é um aflito 'ai mãe' sempre que a equipa nórdica é confrontada com saídas rápidas, revelando muitas dificuldades de posicionamento e alguma falta de agressividade na recuperação de bola. Foi o pior indicador da partida, já que, apesar de em número reduzido, a seleção sueca ter criado algumas oportunidades. Cá atrás, em bom português, 'nossa senhora!' É verdade que há mérito português, evidentemente, mas a superioridade qualitativa não explica tudo.
2 sofridos num jogo, depois de 2 golos sofridos em 10 jogos. A seleção sofreu dois golos, o mesmo número de golos encaixados ao longo dos 10 jogos da fase de qualificação. Era um particular, um deles aconteceu já numa fase de alguma descontração, mas serve de alerta. No Europeu será a doer e Martínez fez questão de mostrar o seu desagrado, sobretudo pela forma como foram permitidos. É um dos, senão o único, destaque negativo da seleção lusa.
O momento: E se fosse golo, Jota?
Jota Silva. Naquele remate, naquele preciso instante de segundo, Guimarães congelou. Ali mesmo, tão perto e tão longe, o pequeno grande conquistador esteve a um sopro da glória. Tinha entrado há poucos minutos, engolido por uma ovação memorável, e na cara de Olsen recebeu de bandeja um presente de Bruno Fernandes, com laço e tudo. Não entrou. Se entrasse, sem margem para dúvidas, seria o momento da noite. Mas também por isso, por não entrar, tornou-se um dos instantes mais marcantes de uma noite repleta de golos. E sim, mesmo com sete remates certeiros, o momento escolhido é este mesmo, o não momento. Pelo que podia ter sido, valha-nos a imaginação, mas por aquele milésimo de segundo em que cada português se imaginou a gritar o golo do jogador mais acarinhado da noite.
Reações à partida
Roberto Martínez: "Gostamos de manter a baliza inviolada e hoje não vimos isso. Faz parte de um jogo amigável, mas não gostei de dar dois golos da forma que vimos."
Viktor Gyokeres: "Euro? Portugal é um dos favoritos"
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