Arsène Wenger confirmou esta sexta-feira que vai deixar o comando técnico do Arsenal no final da temporada. Em nota publicada no site oficial dos 'Gunners', o treinador francês revelou que decidiu colocar um ponto final nos 22 anos de liderança à frente do emblema londrino, agradecendo a adeptos, dirigentes e staff.

O técnico deixa o Arsenal um ano antes do seu atual contrato expirar, e numa temporada em que o clube londrino deverá ficar fora dos quatro primeiros classificados na Liga inglesa pela segunda época consecutiva.

Neste momento, o Arsenal é sexto classificado da Liga inglesa a 33 pontos do líder Manchester City, já foi eliminado da Taça de Inglaterra e perdeu a final da Taça da Liga, único troféu que Wenger não venceu, mas está nas meias-finais da Liga Europa, nas quais vai defrontar o Atlético de Madrid.

"Depois de muita reflexão e de discussões com o clube, eu penso que o final da época é a altura certa para sair. Estou grato por ter usufruído da oportunidade de servir o clube ao longo destes anos memoráveis. Treinei o clube com total empenho e integridade. Quero agradecer ao staff, aos jogadores, aos diretores e aos fãs que tornam este clube tão especial. Peço ainda aos nosso fãs para continuarem atrás da equipa para terminarmos em grande. Para todos os que amam Arsenal, tomem conta dos valores do clube. O meu amor e apoio para sempre", escreveu Wenger numa emotiva carta publicada no site do Arsenal.

Antes de chegar ao Arsenal em 1996, Wenger passou pelos franceses do Nancy e do Mónaco e pelos japoneses do Nagoya Grampus.

Numa nota também publicada no site dos 'Gunners', Stan Kroenke, acionista maioritário do clube, diz que este é "um dos dias mais difíceis" da sua experiência no desporto, elogiando a "incomparável classe" do treinador.

"Três títulos da Premier League, um dos quais após uma época inteira imbatível, sete triunfos na Taça de Inglaterra e 20 anos consecutivos na Liga dos Campeões é um registo excepcional. Ele também transformou a identidade do nosso clube e do futebol inglês, com a sua visão de como o jogo deve ser jogado", afirma o acionista.

Os altos e baixos da carreira de Wenger

Wenger, de 68 anos, ganhou três títulos da Premier League, sete Taças de Inglaterra, incluindo duas dobradinhas em 1998 e 2002, e sete supertaças. E foi precisamente um destes campeonatos que ficou para a história do futebol. Foi na época 2003/2004 que o francês conseguiu a proeza de liderar uma campanha sem derrotas ao longo das 34 jornadas (26 vitórias e 12 empates), a primeira vez desde 1888/89. A equipa que ficou conhecida como "The Invicibles" e nela constavam nomes como Thierry Henry, Robert Pires, Patrick Vieira ou Dennis Bergkamp.

Depois da conquista da Taça de Inglaterra em 2005, os 'Gunners' tiveram de esperar nove anos para arrecadar um novo título. Aconteceu em 2014 frente ao Hull City na final da Taça de Inglaterra. E foi precisamente esta competição a última que Wenger ganhou ao serviço do Arsenal. Aconteceu na época passada frente ao Chelsea.

Apesar das inúmeras conquistas em Inglaterra, Wenger nunca conseguiu vencer nenhum título europeu. O técnico francês guiou os 'Gunners' a duas finais europeias, mas nunca as conseguiu ganhar: a primeira foi a Taça UEFA na época 1999/2000, perdida para o Galatasaray no desempate através de grandes penalidades (0-0 no após 90 minutos e prolongamento); a segunda foi aquela que, provavelmente, mais custou a Wenger. Aconteceu na época 2005/06, na final da Liga dos Campeões frente ao Barcelona (2-1).

Os últimos anos, no entanto, foram complicados para o treinador francês. O Arsenal conquistou a Premier League pela última vez há 14 anos e esta temporada está próximo de ficar fora da Liga dos Campeões pela segunda vez consecutiva. A única chance de se conseguirem apurar para a próxima edição da 'Champions' é conquistar a Liga Europa, competição em que os 'Gunners' vão enfrentar o Atlético de Madrid nas meias-finais.

O Arsenal também tem gasto cada vez menos dinheiro nas contratações de jogadores, quando comparado com os principais clubes ingleses, mas Wenger quebrou por duas vezes esta época o recorde do clube londrino.

O avançado francês Alexandre Lacazette juntou-se ao Arsenal proveniente do Lyon no último verão a troco de 53 milhões de euros, enquanto que a sua última contratação foi o internacional gabonês Pierre-Emerick Aubameyang que chegou em Janeiro a Londres por 63,75 milhões de euros.

E um reinado tão longo tem de ter sempre muitos rivais e algumas picardias, e o principal opositor do francês foi José Mourinho. O português chegou a Londres para assinar pelo Chelsea no final da época 2003/04, depois do Arsenal ter conquistado a Premier League sem derrotas. Coincidência ou não, os 'Gunners' nunca mais ganharam um campeonato inglês desde então. Ao longo das últimas épocas, Mourinho foi conseguindo levar a melhor sobre Wenger, e a estatística prova-o: nos 18 jogos em que se defrontaram, o português venceu nove, empatou sete e perdeu apenas dois para o francês.

Quem é o senhor que se segue?

A saída de Arsène Wenger chegou a ser dada como certa há um ano, mas o técnico acabou por renovar por duas épocas. Certo é que o treinador deixa o Emirates Stadium - estádio que teve a honra de estrear em 2006 depois do Arsenal deixar Highbury - no final desta temporada.

O antigo treinador do Dortmund Thomas Tuchel tem sido apontado ao cargo, enquanto Wenger já admitiu que o antigo médio dos 'Gunners' Patrick Vieira "tem potencial" para lhe suceder.

"Ele trabalha atualmente em Nova Iorque [Patrick Vieira é treinador do New York City FC] e para o Manchester City. Ele tem o potencial para treinar aqui um dia, sim. Eu acompanhei a carreira dele [Patrick Vieira]. Eu penso que ele está muito bem, mas a Premier League é especial. Está cheia de antigos futebolistas que jogaram aqui e que têm o potencial, inteligência para o fazer", disse o treinador francês, em declarações reproduzidas pela Sky Sports.

Tuchel é o favorito nas casas de apostas - recorde-se que a imprensa já deu conta de que o técnico já teria assinado por um grande clube europeu - à frente do selecionador alemão Joachim Low e de Carlo Ancelotti, atualmente sem clube. Até Thierry Henry já referiu que não rejeita a hipótese de treinar o Arsenal.

Na longa lista de potenciais candidatos estão os portugueses Leonardo Jardim (atualmente no Mónaco) e Paulo Fonseca (Shakhtar). Para além dois dois técnicos lusos, Mikel Arteta, que jogou no Arsenal durante cinco anos, Luis Enrique, Rafa Benítez e Brendan Rodgers já foram apontados ao cargo.

O clube londrino já garantiu que quer anunciar o sucessor de Wenger "assim que possível".

Os números de Wenger no Arsenal:

Premier League (3) - 1997/98, 2001/02, 2003/04

Taça de Inglaterra (7) - 1997/98, 2001/02, 2002/03, 2004/05, 2013/14, 2014/15, 2016/17

Supertaça Inglesa (7) - 1998, 1999, 2002, 2004, 2014, 2015, 2017

Prémios de melhor treinador do ano em Inglaterra (2) - 2001/02, 2003/04

Melhor treinador do ano - 1998

Prémios de melhor treinador do mês da Premier League (15)

Wenger na Premier League:

Jogos - 823

Votórias - 473

Empates - 199

Derrotas - 151

1549 golos marcados