O hooliganismo confundiu-se com o futebol britânico durante mais de duas décadas, mas a tragédia de Heysel, em 1985, na qual morreram 39 pessoas, levou a uma política de tolerância zero, que contribuiu decisivamente para erradicar o fenómeno.

O dia 29 de maio de 1985 marcou o virar da página no combate ao hooliganismo, mas apenas depois de 39 pessoas, maioritariamente italianos, terem morrido por esmagamento, na sequência das investidas de adeptos ingleses, no estádio Heysel, em Bruxelas, pouco antes da final da Taça dos Campeões Europeus, entre a Juventus e o Liverpool.

Os clubes ingleses, que foram proibidos de disputar as competições europeias durante os cinco anos seguintes – mais um no caso do Liverpool -, decidiram, finalmente, tomar medidas e restringiram a entrada nos estádios de adeptos sinalizados como violentos.

O governo do Reino Unido, que se manteve relativamente à margem do fenómeno durante os ‘anos dourados’ do hooliganismo, nas décadas de 70 e 80 do século passado, aprovou extensa legislação para acabar com a violência dos estádios, agravando as penas e aumentando o alcance da lei.

A criminalização do consumo de álcool e da entoação de cânticos racistas deram contributos importantes, mas os fatores-chaves passaram pela especialização policial e pela a generalização dos sistemas de videovigilância nos recintos, que permitiu a identificação e punição dos infratores.

A melhoria substancial das condições dos estádios também ajudou a acabar com o hooliganismo em Inglaterra, mas para isso foi preciso que acontecesse uma nova tragédia, em Hillsborough, Sheffield, na qual morreram 96 pessoas e ficaram feridas mais de 700.

O mais grave incidente em estádios britânicos ocorreu a 15 de abril de 1989 e, desta vez, teve como vítimas os adeptos do Liverpool e como causas a sobrelotação e más condições de segurança do recinto, mas também erros na condução dos adeptos por parte da polícia, condenada em tribunal.

Após dois anos de exposição de provas e da mais longa investigação legal em Inglaterra, o júri reunido em Warrington concluiu que o comportamento dos adeptos do Liverpool não contribuiu para o desastre, mas sim erros no planeamento e execução por parte dos responsáveis policiais do condado de South Yorkshire.

As exigências em matéria de segurança aumentaram drasticamente e os estádios ingleses sofreram remodelações profundas ou foram reconstruídos: as vedações – que estiveram na base da tragédia de Hillsborough - foram removidas e todos os lugares passaram a ser individuais e sentados.

Os novos estádios trouxeram um novo público ao futebol inglês, de uma base social com mais posses, que assiste confortavelmente aos jogos como assistiria a uma ópera, potenciada pela aposta dos clubes de contratar algumas das maiores ‘estrelas’ da modalidade.