Raramente entram na ficha de jogo. Poucos os conhecem. Só os adeptos mais fervorosos dos clubes lembram-se deles. A vida de um terceiro guarda-redes no futebol é uma 'montanha' de sentimentos. Trabalham como os restantes, sabendo que nos dias de jogo vão estar a sofrer por fora. É preciso muita força mental, dar tudo nos treinos, ajudar os outros dois colegas para que mantenham eles também a moral em alta e estejam preparados para ir a jogo.

Esta é a vida de Robert Green, antigo internacional por Inglaterra. Aos 39 anos, foi ocupar o lugar que era do português Eduardo, que deixou o Chelsea e foi jogar para o Vitese da Holanda. No seu anterior clube, no Huddersfield Town, Green também era a terceira escolha. À BBC, contou como é a vida de um terceiro guarda-redes na Premier League.

"O meu envolvimento não tem sido o que eu mais desejava, mas sei quais são as regras do jogo. Se toda a gente estiver fisicamente apta, este é o meu papel. Não posso queixar-me", contou este inglês de 39 anos, que tem o espanhol Kepa Arrizabalaga e o argentino Willy Caballero à sua frente.

A forma como Green acabou a terceiro guarda-redes, ele que defendeu a baliza da Inglaterra no Mundial2010, foi algo que não estava nos planos: "Nunca pensei 'um dia vou ser o terceiro guarda-redes'. Mas as coisas vão mudando ao longo da nossa carreira...", explica, antes de contar como foi parar ao Chelsea.

"Alguém me contactou e perguntou-me se eu queria assinar pelo Chelsea. A minha pergunta não foi 'por quanto'. Claro que nós somos profissionais, este é o meu trabalho. É isto que alimenta a minha família. Queria estar num clube de topo da Premier League e tenho aprendido muito esta época", sublinhou.

Nos treinos, Green tem a missão de fazer de adversário e manter o moral de Kepa Arrizabalaga e Willy Caballero em alta. O momento mais doloroso chega aos fins-de-semana. Green sabe que não vai a jogo. Mas nem por isso deixa de trabalhar.

"Não existe [motivação para o fim-de-semana]. Tens de encontrar outros instrumentos para te manteres motivado, além dos jogos. Ninguém se preocupa com o estado mental de um tipo que não vai jogar. Fisicamente estou em forma, treino todos os dias. Mas não tenho 21 anos, tenho 39", explica Robert Green.

"Vou a todos os jogos, faço toda a preparação para a partida, aqueço, ajudo no que é preciso, seja a apanhar bolas, a defender remates ou a fazer cruzamentos. Depois, quando os meus companheiros se preparam para ir para o campo, mudo de roupa, procuro uma chávena de chá e vou para a bancada. Claro que me sinto desiludido se a equipa perde e fico feliz se ganhamos, mas eu não estou lá. Sinto que faço parte de algo, mas não sou eu a fazer aquela defesa...", completa.