O capitão da seleção portuguesa Cristiano Ronaldo “merece ser respeitado” pela maneira como alcançou resultados com base na sua “personalidade, trabalho, dedicação e força mental”, vincou hoje o ex-futebolista brasileiro Gilberto Silva.

“Vejo, acima de tudo, o ser humano, que tem problemas e dificuldades e é igual a tantos outros, mas é cobrado de uma maneira que mais nenhum de nós é. Nem sempre o modo como ele fala é transmitido corretamente e as pessoas concebem uma dimensão fora do contexto. Tenho uma admiração muito grande”, frisou aos jornalistas o campeão mundial pelo Brasil em 2002, à margem da conferência Thinking Football, que decorre no Porto.

O avançado, de 37 anos, entrou esta semana em colisão com o Manchester United, após ter sido revelada uma entrevista em que 'arrasou' o clube inglês e o treinador neerlandês Erik ten Hag, com os ‘red devils’ a garantirem “medidas apropriadas” na reação ao tema.

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A conversa com o jornalista inglês Piers Morgan foi divulgada no arranque da preparação de Portugal para o Mundial2022, que arrancará no domingo, no Qatar, com os lusos no Grupo H, juntamente com Gana, Uruguai e Coreia do Sul, comandada por Paulo Bento.

“É um momento muito falado de situações externas que envolvem questões políticas. Um atleta não tem de se focar nessa parte, mas de se concentrar no jogo e dar resultados. É óbvio que não fica alheio, mas são questões políticas e têm de ser tratadas de uma outra maneira. Ser atleta já implica uma grande pressão”, defendeu Gilberto Silva, de 46 anos.

Esperando “bons jogos, muitos golos e um Brasil-Portugal na final”, o atual embaixador da FIFA e do Arsenal, líder da Liga inglesa, nota que as seleções de Tite e Fernando Santos “estão prontas, têm boas individualidades e coletivamente são grandes equipas”, embora “isso possa não chegar e haja várias questões que num momento do jogo mudam tudo”.

“Há outros favoritos, como a França, campeã mundial, e a Argentina, que está bem. Nós falamos de Portugal e do Brasil, mas porque é que não acreditam em vocês? Não o digo porque o Brasil já ganhou várias vezes, mas porque queremos vencer. Quando se entra numa competição, não acreditas que podes ganhar? Ficamos frustrados quando não se ganha, porque há sempre uma expectativa muito grande, mas isso é bom, porque tudo começa no acreditar que é possível”, notou o ex-jogador dos ‘gunners’, de 2002 a 2008.

Com 93 internacionalizações e três golos pelo ‘escrete’, Gilberto Silva participou em três Mundiais e foi totalista no percurso invicto do Brasil até ao quinto e derradeiro cetro, sob alçada de Luiz Felipe Scolari, que viria, posteriormente, a orientar a seleção portuguesa.

“A maioria dos atletas que estará no Mundial já foi chamada, mas há sempre alguns que são convocados à última hora por causa de uma lesão. De repente, aquele que recebeu essa oportunidade tem de ficar pronto. Como é que fica pronto? Deve-se ao trabalho que é feito no dia a dia do clube para que possa jogar bem e fazer a diferença”, reconheceu.

Convidado para debater sobre a saúde mental em atletas de alto rendimento, ao lado da ‘mental coach’ Susana Torres e da empresária Kaite Bernardo, o consultor lembrou que “não era titular” antes do Mundial2002, que foi coorganizado por Coreia do Sul e Japão.

“No último treino antes da fase final, o Emerson magoou-se e o Scolari disse-me à noite que seria titular. Tive de ficar pronto. Como faria isso? Tinha força mental, mas imaginem se tivesse mais ferramentas? Ainda assim, fiz um belo Mundial e fui totalista, juntamente com o [guarda-redes] Marcos. Porquê? Preparámo-nos para esse momento. Às vezes, a oportunidade é como um ladrão: não avisa quando chega”, sustentou o detentor de 13 troféus, incluindo cinco pelo Brasil e uma Taça Libertadores pelo Atlético Mineiro (2013).

A cimeira Thinking Football decorre entre sexta-feira e domingo, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, sob inédita organização da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP).