O jornal alemão Der Spiegel revela, esta quarta-feira, novas informações obtidas pelo Football Leaks, que envolvem a recontratação de José Mourinho pelo Chelsea, no verão de 2013.

De acordo com a publicação alemã, o Fisco britânico (HMRC) está a investigar 171 jogadores, 44 clubes e 31 agentes no âmbito de um alegado esquema com o objetivo escapar ao pagamento de impostos, e foi assim que se deparou com o caso do agora treinador do Manchester United.

Normalmente, indica o Der Spiegel, os empresários negoceiam uma transferência em nome de um jogador ou treinador, recebendo do clube uma comissão pelo seu trabalho, como parte do ordenado do atleta contratado. De acordo com a lei britânica, contudo, o jogador ou treinador tem de pagar impostos dessa mesma comissão, enquanto o clube fica encarregue da contribuição para a segurança social.

No entanto, quando um clube contrata um empresário para negociar em seu nome, é-lhe permitido declarar as comissões como despesas de negócio e, assim, pagar bem menos de impostos. Ora o HMRC descobriu que os agentes alegadamente ao serviço do clube trabalhavam, na verdade, para o jogador ou treinador, de forma a poupar na carga fiscal.

E, segundo o Der Spiegel terá sido essa a estratégia usada pelo Chelsea para contratar José Mourinho pela segunda vez. Um funcionário dos ‘blues’ alerta, num email enviado em junho de 2013, que “não é credível, para matéria de impostos, que alguma parte da verba [relativa à comissão] não seja alocada aos serviços de José [Mourinho]”. O empresário do treinador português, Jorge Mendes, não havia escondido o facto de que representava Mourinho. E o Chelsea, por sua vez, estava ao corrente do acordo, e referia-se a Mendes enquanto representante do técnico.

Ainda assim, um primeiro rascunho do contrato incluía uma alínea que estipulava que o técnico seria responsável por pagar apenas 10% da comissão de Jorge Mendes, o que significava que o empresário estaria a trabalhar quase em exclusivo para o Chelsea. Carlos Osório de Castro, advogado de Jorge Mendes, quis riscar a referida alínea do contrato, mas, face aos protestos do clube, esta acabou mesmo por prevalecer.

Resumindo: Jorge Mendes terá, assim, negociado um contrato multimilionário para José Mourinho, supostamente em nome do Chelsea. No final, o treinador português acabou por ter de pagar os tais 10% relativos à comissão do agente, bem como os respetivos impostos.

Apesar dos pedidos por parte da rede europeia de investigação jornalística (EIC), nenhum dos envolvidos – Chelsea, Mourinho, Mendes e Osório de Castro – fez qualquer declaração sobre o assunto. Os documentos do Football Leaks indicam que o lado português, numa última instância, mostrou-se relutante em aceitar o pagamento dos 10% da comissão de Jorge Mendes.