José Mourinho chegou à idade redonda dos 60 anos, uma carreira de glória, com mais títulos do qualquer treinador português. É difícil imaginar um treinador com mais pergaminhos, e é certo que Mourinho irá continuar a fazer história no futebol e a engordar o impressionante palmarés.

A 26 de janeiro de 1963, nascia José Mourinho, em Setúbal. Em 2004, na chegada ao Chelsea, uma frase viria a imortalizar o que tem sido uma carreira impar. "Não me chamem arrogante, mas sou campeão europeu e penso que sou o Special One", disse o português durante a sua primeira conferência de imprensa como treinador do Chelsea.

A carreira, essa, tem sido absolutamente triunfante. São 26 títulos até a momento, o último dos quais passou pela conquista da Liga Conferência Europa ao serviço da Roma.

Projeto esse, que como ele próprio referiu, preferiu dar continuidade do que assumir o comando da seleção portuguesa. Calma, há tempo, e o tempo de José Mourinho na seleção nacional há de chegar.

Técnico altamente motivador, Mourinho é também um estudioso do futebol, com enorme atenção ao detalhe. Acusado muitas vezes de ser extremamente defensivo, respondeu às acusações com os muitos títulos conquistados ao longo da carreira.

A carreira de José Mourinho

Iniciando funções no Estrela da Amadora e Vitória de Setúbal como preparador técnico, acabou por ser no Sporting que deu nas vistas. Inicialmente como tradutor do inglês Bobby Robson, rapidamente passou a auxiliar técnico, acompanhando o britânico na sua mudança para o FC Porto e mais tarde para o Barcelona. Mourinho ficou no emblema blaugrana, mesmo depois da saída de Robson, e assumiu uma posição cada vez mais proeminente quando o neerlandês Louis Van Gaal liderava o clube.

Com 37 anos de idade, Mourinho decidiu que era tempo para assumir as rédeas de uma equipa, desta feita, como treinador principal.

No dia 20 de setembro de 2000, Mourinho estreou-se no comando técnico do Benfica. O dia não foi auspicioso já que resultou numa derrota por 1-0, frente à equipa que viria a conquistar o título de campeão nacional nessa temporada. Foram apenas 11 jogos à frente dos encarnados, com destaque para a vitória sobre o Sporting por 3-0.

Findo o percurso no Benfica, José Mourinho assumiu o comando da União de Leiria ainda nessa temporada, mantendo-se no clube até janeiro de 2002. Foi nessa altura que rendeu Octávio Machado e iniciou o seu percurso no FC Porto. Sem tempo para inverter o que tinha sido a época titubeante dos dragões nessa temporada, Mourinho fez uma promessa que viria a ser cumprida uma temporada mais tarde, com a conquista do título de campeão nacional.

Nesses dois anos, o FC Porto conheceu a glória com destaque para a conquista de dois campeonatos e de duas Ligas dos Campeões. O sucesso do português atraiu as atenções do bilionário Roman Abramovich. Foi durante a apresentação no Chelsea que o português apresentou-se como 'Special One', acabando por cumprir esse desígnio.

Sagrou-se campeão nessa primeira época nos blues. Teve sucesso a nível interno, contudo não conseguiu conquistar a Liga dos Campeões ao serviço dos blues. Deixou o clube em 20 de setembro e 2007.

No Inter, voltou ao conhecer o sucesso. Conquistou dois scudettos e a liga dos Campeões, ao vencer o Bayern Munique.

Em 2010, o técnico luso assumiu o comando técnico do Real Madrid, onde ajudou os merengues a quebrar um jejum de três anos e a conquistar a La Liga. Pelos merengues ficou-se pelas meias-finais da Liga dos Campeões, no duelo frente ao Bayern. Ao fim de três temporadas, Mourinho passou a ser o primeiro técnico a vencer três competições em três países distintos.

Viria a retornar ao Chelsea, mas desta feita sem o sucesso da primeira passagem. Assinou pelo United na primavera de 2016. Na primeira temporada ao serviço dos 'red devils' conseguiu conquistar três títulos, Liga Europa, a Supertaça inglesa e a Taça da Liga inglesa. Acabou por sair do clube em dezembro de 2018, devido a uma sequência de maus resultados.

No 4 de maio de 2021, assumiu o comando técnico da Roma, rendendo o português Paulo Fonseca. Em maio de 2022, conquistou a Liga Conferência Europa pelo emblema romano, tornando-se no primeiro técnico a vencer as três principais competições da UEFA.

Jogos marcantes para a carreira de Mourinho segundo o próprio

Em 21 de maio de 2003, curiosamente no seu 100.º jogo como treinador principal, conquistou em Sevilha a Taça UEFA, a primeira da história ‘azul e branca’, com um triunfo por 3-2, após prolongamento, face aos escoceses do Cetic.

Dezassete dias após assegurar a vitória na I Liga, com um 5-0 ao Santa Clara que lhe deu o primeiro troféu, ao 97.º jogo, ‘Mou’ conduziu os ‘dragões’ à vitória na segunda competição da UEFA graças a um ‘bis’ de Derlei, que decidiu o jogo com um golo aos 115 minutos, e um tento de Alenitchev.

Em 2002/03, Mourinho ainda coroaria a sua primeira época completa no FC Porto com a vitória na Taça de Portugal, ao vencer a União de Leiria por 1-0, em 15 de junho, ao jogo 103.

Na época seguinte, chegou, de forma inesperada, o segundo troféu, a Liga dos Campeões, conquistada após uma final em que o FC Porto foi categórico, face ao Mónaco, que bateu em Gelsenkirchen, em 26 de maio, por claros 3-0.

Carlos Alberto, aos 39 minutos, Deco, aos 71, e Alenitchev, aos 75, selaram o triunfo dos portistas, no 158.º jogo da carreira de José Mourinho, que nessa época ainda venceu a Supertaça (1-0 à União de Leiria, ao 104.º jogo) e a I Liga lusa, no hotel.

O terceiro troféu europeu demorou a chegar, já que Mourinho só o conquistou em 2009/10, na segunda época ao serviço do Inter Milão, com um triunfo por 2-0 sobre o Bayern Munique na final da ‘Champions’, em 22 de maio de 2010. Era o seu jogo 451.

O argentino Diego Milito, com golos aos 35 e 70 minutos, foi a ‘estrela’ do encontro, disputado no Estádio Santiago Bernabéu, que seria a casa de José Mourinho nas três épocas seguintes.

A última grande vitória do técnico luso aconteceu sete anos volvidos, quando o técnico luso arrebatou a Liga Europa, pelo Manchester United, que bateu o Ajax por 2-0, em Solna, nos arredores de Estocolmo, capital da Suécia.

O francês Paul Pogba (17 minutos) e o arménio Mkhitaryan (47) selaram o triunfo dos ‘red devils’, num dia 24 de maio de 2017 em que Mourinho cumpriu o 829.º encontro da carreira.

No Chelsea, clube no qual cumpriu duas passagens e um recorde de 321 jogos, e no Real Madrid, em três épocas em que teve do outro lado o ‘super’ FC Barcelona de Guardiola, Mourinho também ganhou troféus, mas as derrotas foram mais marcantes.

“Além dos títulos, também foram marcantes as duas derrotas nas meias-finais da ‘Champions’ por penáltis e uma terceira com um golo em que a bola não entrou”, recordou à Lusa o treinador português, atualmente com 58 anos.

Em 2004/05, na primeira época no Chelsea, numa meia-final que teve pelo meio um 2-0 em Bolton que selou a vitória na Premier Legue, os ‘blues’ falharam a final por culpa de um golo ‘fantasma’ do espanhol Luis Garcia, aos quatro minutos.

Depois de um ‘nulo’ em Stamford Bridge, os ‘reds’ impuseram-se em casa por 1-0, no 214.º jogo da carreira de Mourinho, que não ‘acredita’ que a bola tenha, de facto, entrado.

Ainda ao serviço dos londrinos, o treinador português voltou, dois anos depois, às meias-finais da Liga dos Campeões e caiu uma vez mais perante o Liverpool, que se impôs nos penáltis (4-1), em Stamford Bridge, no jogo 331 de Mourinho.

Os ‘blues’ impuseram-se em casa por 1-0, mas perderam por 1-0 em Anfield Road, num jogo em que o prolongamento não trouxe novidades, adiando tudo para a ‘lotaria’, na qual o espanhol Pepe Reina foi o ‘herói’ dos locais.

Ao 564.º jogo da carreira, Mourinho seria de novo vítima dos penáltis, em 2011/12, na segunda época ao serviço do Real Madrid, numa meia-final com os alemães do Bayern Munique, que teve o desfecho no Santiago Bernabéu.

Os ‘merengues’ responderam com um 2-1 em casa, com um ‘bis’ de Cristiano Ronaldo, ao desaire por 2-1 sofrido na Alemanha, mas, após um prolongamento ‘inconclusivo’, ‘tombaram’ nos penáltis (1-3), num desempate em que o futebolista luso também falhou.

Mourinho ainda perdeu mais três meias-finais da ‘Champions’, duas pelo Real Madrid, em 2010/11 com o FC Barcelona de Messi, que ‘bisou’ no Bernabéu no jogo 504 do técnico luso, e em 2012/13 com o Borussia Dortmund, e uma pelo Chelsea, em 2013/14, face ao Atlético de Madrid, vencedor em Stamford Bridge por 3-1.