Dele Ali, médio inglês que pertence atualmente ao Everton e que durante vários anos jogou no Tottenham, sendo visto como uma das grandes promessas do futebol inglês e tendo já representado a seleção principal de Inglaterra por mais de 30 ocasiões, contou no podcast de Gary Neville 'The Overlap' os impressionantes dramas que por que já passou ao longo da sua vida.

O mais recente deu-se quando se tornou dependente de comprimidos para dormir, na recente passagem pelo Besiktas, onde esteve emprestado pelo Everton. Depois, regressou em abril, após contrair uma lesão, e entrou em depressão, recorrendo a bebidas alcoólicas e comprimidos, tendo acabado por ser internado numa clínica de reabilitação.

"É o momento de contar o que está a acontecer. É difícil falar disto porque é algo que tento esconder há muito tempo. Tenho medo de falar disto", começou por dizer.

"Quando regressei da Turquia descobri que precisava de ser operado e fui-me abaixo mentalmente. Então, decidi entrar numa instituição de reabilitação para doença mental. Eles lidam com o vício e com o trauma. Pareceu-me o mais acertado a fazer", explicou.

Mas estes estiveram longe de ser os primeiros problemas de Dele Alli. Parte das dificuldades vêm de traumas de infância. "Aos seis anos fui vítima de abuso de um amigo da minha mãe, que era alcoólica. Depois fui enviado para África, para junto do meu pai, para aprender disciplina, mas mandaram-me de volta. Aos sete comecei a fumar e aos oito a traficar drogas. Aos onze fui pendurado de uma ponte por um homem que vivia perto de mim", contou.

As coisas começaram a melhorar por volta dos 12 anos, quando Dele Alli foi adotado pela família dum amigo. Chegou ao Tottenham em 2015 e aí deu nas vistas, brilhando sob as ordens de Mauricio Pochettino. "Ajudou-me muito, tínhamos uma relação que ia além da de um jogador com um treinador".

Porém, com a saída do argentino, em novembro de 2019, e a chegada de José Mourinho, tudo se complicou novamente. "Não culpo Mourinho, não culpo ninguém. Foi sempre uma luta comigo próprio. Eu era o meu maior herói, mas também o meu maior inimigo", disse Dele Alli. "Um dia acordei para ir treinar, na fase em que Mourinho tinha deixado de me utilizar, olhei para o espelho e perguntei-me se já poderia retirar-me. Aos 24 anos, quando fazia o que amava...foi devastador".

Dele reagiu ao facto de não jogar refugiando-se no álcool e nas festas. "Estava a fazer coisas para anestesiar os sentimentos e nem o percebia. Mais tarde fiquei viciado em medicamentos para dormir. Tomava muitos e tive alguns sustos. Às vezes parava uns meses, mas nunca lidei com a raiz do problema, os traumas que tive em criança", concluiu, antes de agradecer o apoio do Everton e dizer que espera voltar a competir dentro de algumas semanas.