Foi conhecida a carta de rescisão de Rui Patrício enviada ao Sporting, onde o jogador alega justa causa para terminar o vínculo que o liga ao clube verde e branco.

O jogador faz a cronologia de todos os detalhes: Anexa sms´s e as mensagens do presidente do Sporting, descreve o ambiente no dia das agressões em Alcochete e elucida as razões para a carta de rescisão.

"Considero que uma sucessão de factos imputáveis à Sporting Clube de Portugal são violadores das obrigações legais e contratuais sobre esta SAD...sendo os mesmos alienatórios da minha dignidade profissional (...) colocando em causa a minha segurança e integridade física". O guardião garante que não tem "condições mínimas para exercer a minha atividade do jogador profissional" e explica o porquê.

Sobre os factos que o jogador elucida, no carta pode ler-se que a "a partir de janeiro do corrente ano, o presidente do Sporting Clube de Portugal começou a colocar uma pressão inaceitável em todos os jogadores e na equipa, insinuando que os resultados seriam responsabilidade da falta de profissionalismo dos jogadores".

Numa das mensagens enviadas ao capitão do Sporting, Bruno de Carvalho começa por colocar em causa o papel dos capitães dos leões.

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Noutra das mensagens enviadas, Bruno de Carvalho considera que os jogadores "são uns felizardos numa sociedade cada vez mais pobre".

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"Numa atitude de crítica permanecente", refere o jogador, "também foi enviada uma mensagem aos capitães de equipa no dia 19 de março na sequência do jogo no dia anterior com o Rio Ave que a equipa ganhara por 2-0".

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“Fui alvo de violência psicológica e de violência física. Isto não pode deixar de constituir justa casa, para que eu, preservando a minha dignidade pessoal e profissional, me liberte do contrato que me liga ao Sporting”, pode ler-se. No documento, Rui Patrício também relembra episódio após Madrid e escreve que o presidente apareceu "visivelmente exaltado com 'ar de ditador', alucinado e visivelmente tresloucado" apontando o dedo a Patrício e a William de serem os organizadores do protesto, depois da reação dos jogadores após o post do jogador do Sporting. "Inúmeras vezes dirigindo-se a mim aos berros afirmou: 'Pensas que estás a falar com quem?'".

O guardião diz ainda que o Sporting, através do seu presidente, tentou através de uma “conduta de assédio, visou condicionar, hostilizar e limitar a liberdade” do jogador, não tendo assegurado as “mínimas condições de segurança”.  O que acabou por resultar nas agressões na Academia de Alcochete.

Rui Patrício recorda "momentos de terror" vividos no Centro de Estágio do Sporting

Rui Patrício relata que achou estranha a atitude de Bruno de Carvalho um dia antes das agressões na Academia de Alcochete, dada "o habitual nos últimos meses".

“Os jogadores consideraram o teor da conversa e a calma do presidente, contrastando com o habitual nos últimos meses, muito estranha. Os jogadores foram também surpreendidos com a antecipação do treino de quarta-feira para terça-feira”, pode ler-se.

Segundo se pode ler, Bruno de Carvalho terá dito “aconteça o que acontecer, estão preparados para jogar no fim de semana (final da Taça de Portugal)?. “se houver algum problema liguem para mim ou para o André Geraldes, estarei aqui para resolver”.

Na opinião de Rui Patrício, o ataque desencadeado à Academia "não foi uma conduta isolada e imprevisível que pudesse escapar à capacidade de previsão dos dirigentes do Sporting, mas antes um acontecimento não só perfeitamente previsível, como até sucessivamente provocado".

O guarda-redes acredita que foram "as condutas do presidente do Sporting" que ajudaram a criar "sentimentos exacerbados contra os jogadores".

“As condutas do presidente do Sporting foram adequadas a criar nos adeptos, e em particular nas claques, sentimentos exacerbados contra os jogadores. Fatores estranhos concorrem para criar, ainda, uma sensação de desconfiança relativamente ao sucedido e à atuação do Sporting em todo o acontecimento”, referiu.

Rui Patrício considera a atitude de Bruno de Carvalho pós-agressões "inaceitável".

“As primeiras declarações do presidente foram absolutamente chocantes e até ofensivas para os jogadores, parecendo que estava a gozar com o sucedido”, escreveu.

Para finalizar, Rui Patrício diz ainda que antes da final da Taça de Portugal, em conferência de imprensa, o presidente fez-se de vítima.

“Para cúmulo, na véspera da final da Taça de Portugal, que os jogadores decidiram disputar depois do ‘filme de terror’ que passaram, o presidente resolveu dar uma conferência de imprensa em que, em lugar de procurar acarinhar e dar animo, resolveu vitimizar-se, falar de si e acabar por culpar os jogadores”, disse.

“O representante máximo da SAD criticou-me publicamente, ofendeu-me, suspendeu-me, acusou-me, processou-me. Atiçou, diversas vezes, a ira dos adeptos contra mim e contra os meus colegas de equipa, bem sabendo que alguns adeptos, em particular as claques, reagem de forma primária e irracional. Vivi momentos de puro terror, sem que a Sporting SAD tenha revelado qualquer preocupação”, diz.

O guarda-redes considera que a manutenção do seu vínculo ao clube "era insustentável", depois de Bruno de Carvalho ter colocado em causa o seu profissionalismo, a sua reputação e de ter insinuado que as agressões que aconteceram na Academia tinham sido desencadeadas pelos próprios jogadores.

“É totalmente insustentável a subsistência de relação de trabalho”, conclui.

Despedimento de Jorge Jesus

Numa reunião no dia 7 de abril, com jogadores e o treinador presentes, Bruno de Carvalho referiu-se a Jorge Jesus como "o rei do clube".

“Quando o treinador, Jorge Jesus, lhe disse: ‘Você disse que vinha aqui para pedir desculpas...’, o presidente o que respondeu foi que: ‘pedir desculpas, eu não fiz nada de mal...’, vitimizando-se, dizendo que ‘no final da época eu vou-me embora, vou para junto da minha família, nada mais importa, está aqui o Rei’ em referência a Jorge Jesus”, conta Patrício.

Na carta de rescisão, Rui Patrício disse ainda que Bruno Carvalho na reunião que teve com o plantel revelou que a equipa técnica, "seis dias antes do Sporting disputar a Taça de Portugal" foi suspensa. "A melhor maneira de dar estabilidade ao grupo" foi "despedir a equipa técnica", referiu.

"Na terça-feira, 15 de maio, Jorge Jesus informou alguns jogadores que tinha sido suspenso na reunião do dia anterior e que ia dizer isso a todos os jogadores no treino, mas como não havia nota de culpa, manter-se-ia no exercício das suas funções."

Pedido de rescisão de Rui Patrício

Rui Patrício rescindiu contrato com o Sporting. Esta decisão surge depois de Bruno de Carvalho ter travado a saída do guardião para o Wolverhampton, que já teria tudo acertado para se mudar para o clube inglês.

A equipa que esta época subiu à Premier League oferecia 18 milhões de euros pelo internacional português, mas exigências de última hora do presidente leonino, que pediu mais dois milhões de euros, fizeram abortar o negócio.

Perante esta 'nega', Rui Patrício terá decidido avançar para a rescisão unilateral do contrato, alegando justa causa.

Entretanto, o clube comunicou também à CMVM a resolução do contrato por parte do guarda-redes internacional português.

“Informar o mercado que recebeu, na manhã de hoje, por fax e email, documento subscrito pelo jogador Rui Pedro dos Santos Patrício, nos termos do qual este comunica a resolução do seu contrato de trabalho desportivo, com invocação de justa causa”, diz a nota à CMVM, acrescentando que os efeitos e consequências estão a ser objeto de análise da SAD ‘leonina’.

A resposta de Bruno de Carvalho

Em conferência de imprensa, Bruno de Carvalho confirmou o pedido de rescisão de Rui Patrício e comentou o caso.

“Chegou a Alvalade o pedido de rescisão do Rui (Patrício)”, disse.

Recorde-se que o jogador já teria tudo acertado com o Wolverhampton, mas o Sporting acabou por impedir a transferência.

O presidente dos leões apontou o dedo à Gestifute e a Jorge Mendes por querer forçar a saída do guardião do Sporting e querer receber um valor de 7 milhões na transferência do jogador.

"Acho que há coisas que se tratam nos locais certos. Cada pessoa é livre de fazer aquilo que entende. Dos tais 18 milhões, o braço direito do Jorge Mendes ontem ligou-nos às 11h30 a perguntar se era a posição do Sporting ou não. Já percebi que as redações ficam à espera do que diz Jorge Mendes. Dos 18 ME, o Jorge Mendes queria mais de 7. O Jorge Mendes queria aproveitar-se de uma situação que é um crime. Quando fizemos as renovações do Adrien e do Rui aquilo que fizemos foi o que terminámos os antigos contratos e fizemos os novos. Nos antigos, quer Jorge Mendes e jogadores tinham percentagem dos passes. Nos novos contratos, ficariam anuladas as percentagens da empresa Gestifute. Houve aquilo um claro aproveitamento por parte da Gestifute. Para se fazer negócio, ou nos dão 3 milhões, mais quatro milhões relativamente ao Adrien ou não há negócio. E não há negócio. o Sporting não pode estar por medo, sobre chantagem, sobre ameaça. Quem quer vir para o Sporting já tinha resolvido isto tudo. Mas connosco não é assim. Estou triste que o Rui Patrício não tenha falado com a sua entidade patronal. Só do Adrien, Jorge Mendes quer quatro milhões. Até nas vésperas dos jogos não largava", comentou.

"Se tivéssemos cedido na chantagem de dar 7 milhões ao Jorge Mendes já não havia rescisão por justa causa", acrescentou.

O presidente dos leões espera que Rui Patrício possa sair da melhor forma do Sporting.

"Espero que o Rui tenha a possibilidade de sair do Sporting de outra forma. Espero que o Rui pense bem nestes 7 dias. A lei concede estes sete dias. As portas estão sempre abertas. Negócio sim. Chantagem, não".