António Adán despediu-se do Sporting com uma longa entrevista à Sporting TV. O guardião espanhol termina contrato no final de junho e já sabe que terá de procurar outro emblema para prosseguir a carreira, já que os leões optaram por não renovar o seu contrato.

Nos quatro anos de leão ao peito, o guardião espanhol disputou 156 jogos, tendo ganho, entre outros, dois campeonatos. Na entrevista, Adán foi ao baú de memórias recordar alguns desses momentos passados em Alvalade.

Primeiro título com Rúben Amorim em 2020/21: "Sentiu-se algo especial no balneário desde início. Por vezes custou conseguir vitórias, mas aparecia sempre alguém no último minuto a dar-nos o golo decisivo [...[ Lembro-me de irmos ao Porto e dizer à minha psicóloga que era impossível que alguém nos tirasse os oito pontos de vantagem que tínhamos. Não nos podia escapar da mão e assim foi. Foi espetacular a imagem do Parque Eduardo VII cheio de gente, olhavas para a Avenida da Liberdade e só se via verde. Foi especial por isso".

Sai após uma época difícil a nível individual: "Há jogos em que passei francamente mal. Eram momentos muito decisivos. Aqueles jogos com o Benfica, tanto para a Taça quanto para o campeonato, foram decisivos. Graças a Deus, a equipa respondeu e deu um passo em frente para conseguir ultrapassá-los. São momentos difíceis, obviamente. Nunca uma lesão é bem recebida, em nenhum momento, nem no início, nem no final da época, nem no meio. Estou orgulhoso da parte que pude ajudar a equipa durante as primeiras jornadas, durante as 22 primeiras jornadas."

Assumiu um papel secundário após a lesão de ajudar o Franco Israel: "Acho que temos que saber estar em ambos os lados. E uma das boas coisas que tinha este balneário era que, mesmo podendo jogar um, podendo jogar outro, quem ficava de fora tinha uma boa cara, nunca uma má palavra, nunca um mau gesto para o colega que ia jogar."

4.º lugar na I Liga na época passada: "Acho que o ano passado foi duro, porque tivemos um começo de época mais irregular, onde perdemos pontos e isso não nos permitiu estar na luta pelo campeonato. E depois tivemos momentos pontuais em que falhámos, em que não conseguimos conquistar o resto dos troféus. Mas isso também ajudou o grupo. Há vezes em que tudo corre muito bem, mas há momentos em que tudo corre mal e temos que nos unir. Acho que o ano passado, nas últimas jornadas, já se estava a criar esse ambiente de 'ok, este ano correu mal, mas somos muito bons, e no próximo ano temos que mostrar, desde o primeiro dia até o último, que somos capazes de voltar a conquistar um título'."

Mensagem para a nova época: "O primeiro a passar a mensagem foi o míster que disse: 'ou ganho títulos ou vou embora'. Chegamos à pré-época e a mensagem era igual: 'no ano passado fizemos uma temporada má, ou este ano voltamos a ser campeões, ou todos nós que estamos aqui temos que sair do clube, porque não merecemos estar'. Foi dia a dia, jornada a jornada, que se foi criando o espírito de 'somos muito bons e temos que conquistar outro título'."

O que mudou para este ano? "Durante estes quatro anos, foi difícil encontrar uma equipa em que não tivéssemos perdido um jogo e que a equipa rival fosse muito superior a nós. Tínhamos sempre a percepção de que perdemos este jogo por uma coisa ou outra, mas nunca porque o rival fosse muito superior, sobretudo no campeonato. Então essa confiança estava lá. O míster também nos transmitiu que, apesar das derrotas e dos momentos maus, transmitiu essa confiança e fez com que voltássemos a acreditar que era possível."

Quando sentiram que este título não iria fugir? "Acho que aqueles jogos que eram importantes eram com o Benfica. Aí sentes que ainda podem aproximar-se um pouco mais a nós, mas eu via a equipa muito bem, a jogar com uma confiança tremenda. O jogo do Estrela, que também parecia que se ia complicar, e acabámos por ganhar. Era claro que este ano ia dar para nós."

E depois a festa: "Foi um dia inacreditável. O jogo do Benfica era às 20h30 e estávamos um pouco na dúvida porque as pessoas só deviam ir para a rua quase à meia-noite, sendo que no dia seguinte tinham de ir trabalhar. Não esperávamos um ambiente daqueles. Quando chegámos ao Marquês e subi aos andaimes só tinha uma preocupação: ficar com aquela imagem da praça cheia de gente."

Como é ser do Sporting? "É diferente de tudo o que eu já tinha vivido antes. Eu já te disse que passei por grandes clubes, fiz formação no Real Madrid, estive 14 anos também lá. Mas o que eu vivi durante estes quatro anos... também se torna muito especial para mim por tudo o que eu conquistei, não só ao nível de títulos, mas também nas pequenas coisas que fizemos para que este clube e este projeto se sinta como um grande projeto, como um grande clube, como uma grande equipa que permite que cada vez cheguem jogadores também com outra importância."

O que é que vai deixar mais saudades? "O dia-a-dia, eu acho que dentro do balneário havia realmente uma família. Há um staff de fisioterapeutas, de médicos, de roupeiros, que no dia-a-dia nos fazem sentir que estamos numa família, que é nossa casa. Deixar de ver alguns amigos que, obviamente, fazemos no futebol, algumas pessoas especiais que formam parte deste clube, e isso vai ser o mais complicado. Agora começa outra temporada na minha carreira e vou seguir com muita atenção o que acontece no Sporting."

Mensagem para a despedida: "Sou de um país vizinho. Agora começa outra temporada na minha carreira, mas vou continuar a seguir o Sporting com muita atenção. [...] Na minha despedida [em Alvalade] pedi aos adeptos que não deixassem cair o clube, que continuassem com a união que se sente hoje com o plantel e a equipa técnica. Quero deixar um agradecimento aos adeptos, ao presidente, ao diretor desportivo e ao mister, que me trouxeram para cá, confiaram em mim e mostraram respeito pelo meu trabalho. Também ao staff e as pessoas que convivem connosco na Academia, cozinheiros e pessoas da limpeza. Agradecer ainda aos meus colegas porque, apesar de ter partilhado o balneário com jogadores historicamente muito importantes em grandes clubes, este é especial."