A Multichoice, que transmitia nos últimos anos, via satélite e num sistema codificado, a 1ª Liga portuguesa de futebol para a África do Sul, Angola e Moçambique, através dos seus canais desportivos Supersport, foi inundada nos últimos dias por mais de cinco mil e-mails de protesto de telespectadores que ficaram privados do serviço, confirmou fonte da empresa à agência Lusa.

Em comunicado, a Multichoice garante que tudo fez para garantir a continuidade das transmissões da Liga portuguesa, estando há meses a renegociar com a Sport TV, e acusa aquela detentora dos direitos televisivos de ter tomado “uma decisão política” ao rejeitar todas as ofertas financeiras colocadas em cima da mesa.

Moçambique e África do Sul, que deixaram de assistir aos jogos da Liga Zon esta época, consideram-se vítimas de uma estratégia de penetração da Sport TV em Angola através da TV Cabo e da ZAP/Zon, empresas controladas maioritariamente pela empresária angolana Isabel dos Santos, o que explica a utilização do termo “decisão política” no comunicado da Multichoice, disse à Lusa fonte ligada ao processo.

Um grupo de portugueses que se reuniu com a direcção da Multichoice e da sua componente desportiva Supersport enviou já cartas de protesto para a Presidência da República portuguesa, Ministério dos Negócios Estrangeiros e secretário de Estado das Comunidades, pedindo que os interesses dos portugueses na África Austral sejam respeitados e mantidos acima de estratégias comerciais, disse à Lusa um dos líderes do grupo, comendador Rudi Galego.

Galego, empresário português que vive na África do Sul, o conselheiro Silvino Silvério Silva, o técnico de contas Vasco Abreu e o advogado e dirigente desportivo José Ferreira enviaram também cartas de protesto à Sport TV e à empresária angolana Isabel dos Santos, insurgindo-se contra o que consideram ser um “bloqueio” a uma região inteira em nome de estratégias comerciais que visam o mercado angolano.

A Multichoice (no qual se inclui a Supersport) possui a maior e mais potente plataforma digital do continente africano, com um “footprint” que abrange grande parte de África e transmite as ligas de futebol de Inglaterra, Alemanha, Espanha, Liga dos Campeões e muitas outras competições para vários países africanos, transmitindo e patrocinando ainda ligas e clubes africanos em Angola, Quénia e Nigéria.

Os responsáveis máximos da Supersport encontram-se actualmente em Angola num último esforço de aquisição de direitos totais ou parciais de direitos da Liga Zon para a região, mas o comunicado emitido pela empresa dá o assunto como encerrado.

“Infelizmente, motivos que vão para além do controlo da Supersport, levaram a uma perda de direitos de transmissão da Liga de Futebol Portuguesa (…) Foi uma decisão política da Sport TV apenas sublicenciar os direitos para uma das suas empresas accionistas e não torná-lo disponível para os concorrentes, neste caso o Supersport. O canal Supersport estava mais do que disposto a pagar o preço pedido por estes direitos, mas a decisão final não foi sua”, pode ler-se no comunicado.

Questionada pela Lusa, a Sport TV remeteu a responsabilidade para a operadora ZAP.

“Os direitos de transmissão televisiva dos jogos foram negociados e adquiridos pela ZAP”, disse fonte oficial do canal português, adiantando que a ZAP “está, desde 1 de Agosto, em condições de transmitir o sinal para Angola mas também para outros países.”