O Ministério Público afirmou esta quarta-feira, nas alegações finais do julgamento da invasão à Academia Sporting, em Alcochete, não haver prova de que o antigo presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, seja o autor moral do ataque à Academia.

A procuradora do MP, Fernanda Matias, admitiu também relativamente à expressão 'quem está comigo?', que terá sido dita pelo ex-dirigente leonino, que não ficou provada uma ligação com as agressões aos jogadores. Quanto à hora do treino, alterada para a tarde de 15 de maio, o MP também reconheceu que não se provado que esta tenha sido feita por Bruno de Carvalho. De acordo com o MP, não se provou também que as críticas de Bruno de Carvalho aos jogadores, via redes sociais, tivessem a finalidade incitar a atos violentos sobre os jogadores.

Também contra Nuno Mendes (Mustafá) e Bruno Jacinto o Ministério Público considera não terem havido provas que confirmem o seu envolvimento. Sobre 'Mustafá' foi sublinhado que o líder da Juventude Leonina, apesar de fazer parte de um dos grupos de WhatsApp onde foi combinada a ida à Academia, não teve qualquer intervenção, não se tendo provao que tenha participado no planeamento da invasão.

Sobre Bruno Jacinto, o MP diz que ficou provado que este sabia de antemão da ida dos adeptos à Academia, mas não se fez prova de que tenha estado "em conluio com os arguidos e atos perpetrados".

Ficam, desta forma, ilibados os três arguidos acusados de co-autoria moral. Restando a acusação aos restantes 41 arguidos do processo, relativamente aos quais, de acordo com o Ministério Público, ficou provado terem entrado na Academia sem autorização.

Ministério Público abriu Alegações Finais

As alegações finais do julgamento da invasão à Academia Sporting, em Alcochete, começaram esta quarta-feira no tribunal de Monsanto, fase em que Ministério Público e advogados dos arguidos apresentam os derradeiros argumentos ao coletivo de juízes, presidido pela juíza Sílvia Pires os derradeiros argumentos.

A juíza tinha exigido a presença de todos os 44 arguídos do processo, algo que não exigira ao longo de grande parte do julgamento. Apenas Fernando Mendes, antigo líder da Juve Leo, não compareceu.

A procuradora do Ministério Público, Fernanda Matias, foi a primeira a falar e a expor as suas alegações finais nesta quarta-feira. Recordou as primeiras detenções, ainda a 15 de maio de 2018, noite da invasão, arguidos que entraram de cara tapada foram detetados nas imagens depois de serem encontradas as peças de roupa usadas naquele dia em buscas posteriores aos seus apartamentos. Outros foram identificados devido à triangulação das antenas dos respetivos telemóveis.

A procuradora recordou e salientou que alguns dos arguidos estavam de cara tapada e outros de rosto descoberto, mas que nenhum se identificou na entrada ou pediu para entrar na portaria, não restando dúvidas de que a entrada não foi autorizada pelo clube.

Para o Ministério Público, ficou provado que 37 dos 41 arguidos acusados de terem invadido a Academia foram a correr para a zona dos campos de treino, onde se encontrava a equipa técnica liderada por Jorge Jesus, e que os arguidos lançaram tochas para o campo de treinos.

Julgamento arrancou em novembro

O julgamento do ataque à Academia Sporting, em Alcochete, arrancou a 18 de novembro do passado ano. Ao longo de 35 sessões foram ouvidas 65 testemunhas de acusação e 90 de defesa.

Dos 44 arguidos do processo, 22 prestaram declarações, entre os quais Bruno de Carvalho, presidente do clube à data dos factos, Nuno Mendes, conhecido como ‘Mustafá’, líder da claque Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos, acusados da autoria moral de 40 crimes de ameaça gravada, 19 crimes de ofensas à integridade física qualificadas e por 38 crimes de sequestro.

Os restantes 41 arguidos são acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.