No espaço de um mês e meio, o Sporting passou pelas trevas. Finda a passagem de Amorim por Alvalade, os verdes e brancos atravessaram um período conturbado. 'Choque emocional', falta de experiência da equipa técnica, lesões em jogadores chave, arbitragens que prejudicaram o clube, um ou vários factores podem explicar o período de descrença que se instalou no campeão nacional. Mas algo era inegável, o futebol, dantes apoteótico, passou a ser na maior parte do tempo medíocre. Da liderança confortável, o acumular de maus resultados resultou na queda para o segundo posto. Pediam-se mudanças e Rui Borges foi o treinador escolhido. A tarefa era ingrata: Preparar em 72 horas o embate contra o rival, uma equipa que tinha recuperado a confiança sob o comando de Bruno Lage.

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Estrategicamente uma das curiosidades era também perceber qual seria o desenho de Rui Borges para este embate. Logo desde o início foram desfeitas as dúvidas. Morita, recuperado, juntou-se no miolo a Hjulmand, e o Sporting apresentou-se num 4-4-2, deixando de lado a linha de três, Quaresma como lateral direito e Matheus Reis na esquerda. As setas eram Geny e Quenda, e Trincão junto a Gyokeres na frente. Lage também trouxe novidades, preterindo Pavlidis a Amdouni, e optando por um ataque menos posicional, tentando surpreender o Sporting.

Habituada a jogar em 3-4-3 há vários anos a equipa não estranhou, mas entranhou. Mudanças táticas, mas semelhanças na dinâmicas, com os médios a baixaram na primeira fase de construção, e com Quaresma também a juntar-se por vezes à dupla de centrais no momento da construção.

A entrada dos leões em campo surpreendeu em Benfica. Forte na pressão, critério com bola e sem bola. Os encarnados nunca se encontraram durante o primeiro tempo, com os verdes e brancos a fazerem uma circulação rápida, a pausarem quando tinham que pausar - Morita foi mestre nesse capítulo - a solicitarem a profundidade de Gyokeres, ou o jogo entrelinhas, explorando a velocidade de Geny e de Quenda. Os primeiros minutos deram o mote para o que seria a primeira parte. Logo a abrir Diomande, atirou às malhas laterais, e aos 17 minutos surgiu a primeira grande oportunidade da partida. Quenda, com tudo, disparou após serviço de Trincão, mas estava lá Trubin a evitar que os leões abrissem a contenda.

Sem capacidade de criação e capacidade para chegar ao último terço, o Benfica só criou perigo num lance, num pontapé livre de Kokçu, em que Israel se teve que esmerar. Não espantou por isso que os verdes e brancos chegassem ao golo. Tomás Araújo fez o pior que se pode fazer quando se defende Gyokeres, permitiu que o sueco ganhasse no corpo a corpo, arrancasse para a linha e servisse com mestria Catamo, que não falhou na hora da verdade. Os leões terminavam o primeiro tempo com claro domínio, e a vantagem até pecava por escassa.

No caso do Benfica, havia que reagir ao intervalo. Face a um Sporting que dominava a zona intermédia, Lage mudou 'pedras'. Lançou Barreiro para o lugar de Fiorentino, e o reforço das águias trouxe outro tipo de agressividade no miolo.

O até então líder do campeonato veio pressionante para o segundo tempo, e apareceu transfigurado. Roubou a bola ao Sporting, e passou a dominar as operações. Rápido na recuperação, e com outra acutilância. Aí o Sporting teve que sofrer, e Bah primeiro, e Amdouni depois, num disparo em boa posição colocaram Israel em sobressalto. Ainda assim, o Benfica deparava-se com os problemas de sempre, a falta de eficácia e falta de uma referência real na frente, e que pudesse resolver no momento da verdade. Após a inspiração da primeira parte da equipa de Rui Borges, não faltou atitude na segunda. Com o Benfica balanceado, o Sporting poderia ter ferido o adversário em duas transições, primeiro por Geny, e depois por intermédio de Gyokeres.

O Sporting é líder da tabela e faz de novo sonhar os adeptos. Já o Benfica terá que porventura reforçar-se no mercado, com o médio e sobretudo um ponta de lança se quiser ganhar novo fulgor na luta pelo título.

Momento

O golo de Geny. Sabemos bem da importância de se marcar primeiro em dérbis. O Sporting estava a ter o domínio territorial, mas nem sempre isso se traduz em golos e resultados, que o diga o Benfica na segunda parte. Tomás Araújo tentou antecipar-se a Gyokeres, perdeu a frente para o sueco, e saiu a assistência para o moçambicano. O golo permitiu aos leões gerirem de outra forma em partida, sobretudo na segunda parte, quando baixaram o bloco e tentaram ferir nas transições.

Melhores

Geny Catamo

Continua a ter apetência para marcar ao Benfica. Marcou dois golos na época passada aos encarnados, este ano, voltou a resolver o problema. Foi o homem em maior destaque nos leões, pela forma como levou a bola para a frente e fez a diferença com a sua velocidade. Só pecou na parte final, quando acabou por decidir mal, quando o Sporting teve oportunidade para fazer o segundo golo da partida.

Kokçu

Um dos mais inconformados das águias. Teve sempre critério com a bola nos pés. Assustou na primeira parte, na marcação de um livre direto, e no segundo tempo, serviu com mestria Andouni que desperdiçou.

Morita

Sem o autocarro que várias equipas têm montado frente ao Sporting, o campeão nacional recuperou o seu jogo de roturas e os movimentos entrelinhas. Morita voltou ao miolo, e a equipa exibiu logo outra qualidade de circulação e temporização no momento de soltar a bola. Mérito para o jogador japonês.

Reações

Rui Borges feliz pelo resultado e por ver a equipa "agarrar-se ao resultado" numa "vitória justa"

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