Duas semanas depois de ter cedido a liderança do campeonato para o FC Porto, no clássico, o Benfica quase entregou o título aos 'dragões' e pode, com o dérbi aí à porta, ter também comprometido o segundo lugar e o acesso à Liga dos Campeões. No final da derrota com o Tondela - a segunda da época em casa - Rui Vitória falou em "crueldade". Houve, de facto um conjunto de circunstâncias que dificultaram ao máximo a tarefa da equipa de Rui Vitória, nomeadamente Cláudio Ramos, guarda-redes dos beirões, que defendeu praticamente tudo o que havia para defender. Mas houve, sobretudo, mérito por parte dos homens de Pepa.
Porque ninguém antevia que o Benfica claudicasse na receção ao Tondela. Pelo histórico de confrontos - cinco derrotas em outros tantos jogos disputados com os 'encarnados' - pelo registo dos tetracampeões em casa - apenas um desaire, contra o FC Porto - e porque havia um pentacampeonato para disputar, cujo principal obstáculo parecia ser unicamente a visita a Alvalade.
Do outro lado, havia um adversário sem nada a perder e com a manutenção na Liga praticamente garantida. E foi assim que o Tondela, já depois de ter sofrido o golo de Pizzi, subiu no terreno. Subiu, soltou-se, e empatou. O golo de Miguel Cardoso, ao minuto 31, colocou a nu a falta de ritmo de Luisão e Douglas, ambos a renderem Jardel e André Almeida - o lateral direito ainda jogou parte do primeiro tempo -, que apresentaram limitações físicas. Assim como Fejsa.
Foi, de resto, pelo espaço entre os dois brasileiros que a formação beirã fez os três golos. Miguel Cardoso, que foi formado no Benfica, voltaria a gelar a Luz oito minutos depois, ao consumar a reviravolta no marcador. Era a primeira vez que uma equipa marcava dois golos naquele estádio, esta temporada.
Com o orgulho ferido mas apenas um golo de desvantagem, os 'encarnados' apertaram. Rui Vitória trocou Cervi por Salvio ao intervalo, mas o resultado não foi o esperado. O argentino fartou-se de desperdiçar oportunidades, uma delas à boca da baliza. Não havia como não sentir a falta de Jonas, mas nem isso podia servir de desculpa. Porque novamente o Tondela voltava a aproveitar o espaço entre Luisão e Douglas para fazer o terceiro da noite, desfazendo qualquer esperança de remontada por parte da equipa da casa. Desta vez foi Tomané.
O melhor que o Benfica fez foi reduzir com um chapéu perfeito de Salvio, no tempo de compensação. Mas já era tarde demais. As 'águias' arriscam-se agora a ficar a cinco pontos do FC Porto, que visita este domingo o Marítimo. E o Sporting, que venceu no terreno do Portimonense, já está colado, em vésperas de dérbi.
A figura: Miguel Cardoso - Pelos dois golos, o primeiro de se lhe tirar o chapéu, pela forma como aproveitou os buracos na defesa 'encarnada', pelo nível a que se apresentou frente à equipa que o formou. Saiu aplaudido pelos tondelenses e assobiado por alguns adeptos rivais. De assinalar também a exibição de Cláudio Ramos.
Reveja os golos marcados na Luz
12' - Jogada de insistência de Jiménez, a cruzar em esforço para Zivkovic, que falha o desvio, mas a bola sobra para Rafa, que passou atrasado para Pizzi inaugurar o marcador. O médio não marcava há quase três meses – última vez fora contra o Rio Ave.
31' - David Bruno consegue roubar a bola a Cervi e colocá-la entre Luisão e Douglas, isolando Miguel Cardoso. O extremo consegue dominar no peito e picar de primeira sobre Bruno Varela.
39' - David Bruno lança longo para a grande área, Ricardo Costa disputa a bola com Luisão nas alturas, com esta a chegar a Miguel Cardoso. Perante a hesitação de Douglas, o extremo rematou para o 2-1.
81' - Delgado serviu de cabeça Tomané, que ganhou a Luisão e rematou forte e colocado para o fundo da baliza de Bruno Varela.
90+4' - Luisão cruza longo desde a defesa, Jiménez amortece o passe, desmarca depois Salvio e este faz um chapéu perfeito sobre Cláudio Ramos.
Têm a palavra os treinadores
Rui Vitória: "Um jogo difícil de engolir, penso que foi uma crueldade o que se passou aqui. É evidente que o Tondela foi muito eficaz, defendeu muito bem e saiu bem no contra-ataque, em três, quatro bolas fizeram os golos. Para nós é evidente que nasceram erros quando sofremos os golos, mas tivemos um conjunto de bolas, ataques, remates em que a bola não entrou e que, em condições normais, entraria. Estamos muito tristes, temos noção que não fizemos o que queríamos."
Pepa: "Penso sempre positivo e acredito que é sempre possível ganhar. Sabíamos o poderio do Benfica e tínhamos essa noção, mas arrisco-me a dizer que a nossa exibição foi quase perfeita, mesmo sem muita bola. A manutenção praticamente já estava garantida, mas foi o carimbar contra uma equipa que está a lutar pelo título. Foi tremendo carimbar a manutenção desta forma, foi a cereja no topo do bolo."
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