"Jogador que faz parte do ataque de uma equipa, que tem como missão marcar golos ou conseguir pontos".
O que acaba de ler é a definição de avançado sugerida pelo 'Dicionário Priberam de Língua Portuguesa', que ainda não adicionou à lista de sinónimos o nome de Samu Omorodion. Talvez precise de mais uns jogos.
Se marcar golos e conseguir pontos é o que se espera de um avançado, então o possante jogador espanhol faz jus à palavra. Vinha com o rótulo de talentoso e tem-no estampado no rosto de todos os que esperavam de si mundos e fundos, com justa causa. 15 milhões de euros por 50% do passe não é coisa pouca. E às enormes expetativas o novo camisola 9 do FC Porto respondeu assim: Dois jogos, três golos, seis pontos cosidos à força bruta por si.
Vítor Bruno desfez-se em elogios a Danny Namaso na antevisão da partida de Guimarães, lembrou que ainda existia Navarro como alternativa, mas o nome do dono do centro de ataque dos dragões começa a revelar-se. A chegada impetuosa do internacional espanhol sub-21 não passa despercebida, o seu tamanho também não o permite, mas com dois jogos de azul e branco, Samu tem dado razão ao dicionário. Marcou golos, conquistou pontos e só quer a baliza. Lá está, numa só palavra, é avançado.
Mas sejamos justos. Primeiro, com João Mário. Assistido deliciosamente por Pepê, foi dos pés do lateral que a bola saiu redonda, quase paralisada no ar para o cabeceamento certeiro do possante ponta-de-lança. Depois, como não poderia deixar de ser, justos com Francisco Moura.
Também apenas com dois jogos de dragão ao peito, o ex-Famalicão assenta que nem uma luva a este FC Porto. Foi ele que desafiou Samu à cavalgada que deu o segundo golo aos dragões e foi também ele que descobriu Pepê no terceiro e último da noite. Coincidências? Não. À semelhança de Samu, vinha com o selo de qualidade e até indicação contrária tem sabido corresponder às sempre exigentes expetativas. Seguro defensivamente e atrevido na frente, Moura oferece uma resposta segura a Vítor Bruno, que tem Zaidu na oficina e Wendell com os pés no FC Porto, mas com a cabeça sabe-se lá onde, a avaliar pelas notícias da provável saída já em janeiro.
Conforme reconheceu Rui Borges no final da partida, ficou claramente a ideia de que o Vitória SC sentiu o peso do desafio. Ilusionada pelo arranque de época quase imaculado, esperava-se este sábado uma equipa mais capaz de contrariar o FC Porto e sobretudo com maior e melhor capacidade de reação após o golo sofrido. Depois de uma primeira parte absolutamente vazia de ideias e vincada pelos duelos a meio-campo demasiado longe das balizas, o Vitória SC entrou praticamente a perder após o intervalo. O golo de Samu aos 48 minutos afetou a equipa minhota, que doze minutos depois já estava a lamentar o segundo golo encaixado.
Desde aí, apesar de ainda ter beneficiado de uma oportunidade flagrante já na reta final por Gustavo Silva, a formação vitoriana nunca se conseguiu encontrar e decidir no último terço com o discernimento exigido. Apresentou-se em campo um Vitória SC algo receoso, pouco confortável, incapaz de explanar tudo o que de bom tem feito esta temporada. Algo de que os adeptos não se esqueceram, a avaliar pelo apoteótico apoio após o apito final. Quem caísse de repente no D. Afonso Henriques corria o risco de achar que tinha sido o Vitória SC a vencer o jogo. Há, de facto, algo de muito especial no povo vimaranense e nos adeptos vitorianos. Um perfeito exemplo de comunhão com a cidade e com a equipa, apenas manchado com o comportamento de 'meia dúzia' de adeptos, que após uma decisão de Fábio Veríssimo atiraram cadeiras para o relvado, algumas para bem próximo do árbitro assistente.
O momento: O primeiro golo de Samu
Acaba por ser o momento da partida, porque é o golo que desbloqueia o jogo. Depois de uma primeira parte demasiado morna e muito disputada a meio-campo, o golo de Samu após passe de João Mário veio destrancar a organização defensiva do Vitória SC, que ao subir mais no terreno em busca do empate encaixou o segundo. Mas foi, sem dúvida, o primeiro golo de Samu o grande obreiro da vitória dos azuis e brancos em Guimarães.
Os melhores: Samu e Francisco Moura
Samu, pela mestria como desbloqueou três pontos importantíssimos para a caminhada portista. Vítor Bruno diz que o espanhol ainda não está familiarizado com o jogo da equipa. Mas se efetivamente não está, imaginem quando estiver. Os golos marcados por Samu destacam-se entre todas as restantes ações do avançado, mas é igualmente relevante o papel desempenhado fora da área, na forma como joga de costas para a baliza, como disputa cada lance, como não para de correr. O novo camisola 9 não é Taremi e parece-se ainda menos com Evanilson, mas tem algo em comum com os ex-avançado portistas: percebe a importância de trabalhar para a equipa noutros espaços do campo e não se limitar a pisar o interior da área.
Depois, o segundo golo de Samu e o terceiro, marcado por Pepê, tiveram um denominador comum: Francisco Moura. Duas assistências do ex-Famalicão, que encaixou na perfeição neste FC Porto. Chegou para ser titular - entrou de início frente ao Farense e agora diante do Vitória SC - e tem respondido com uma notável segurança em todas as ações ofensivas e defensivas. Um excelente jogo do lateral de 25 anos, até agora perfeitamente entrosado na estratégia definida por Vitor Bruno.
O pior: O Vitória SC (coletivamente)
Acima de tudo pelo futebol praticado nos 11 jogos realizados até agora, esperava-se outro tipo de resposta no D. Afonso Henriques diante do FC Porto. A primeira parte, apesar de muito aquém, foi muito dividida.
Mas o segundo tempo fez sobressair a principal diferença entre os dois conjuntos, sobretudo a matreirice de uma e outra equipa. Os dragões venceram porque foram mais competentes e assumiram as despesas do jogo depois de uma primeira parte de análise e expetativa mútua. Sem tirar mérito ao excelente trabalho realizado por Rui Borges, este sábado a equipa minhota não conseguiu dar sequência às boas exibições e ao futebol praticado. Até ao duelo com os dragões, o emblema vitoriano só tinha sofrido dois golos.
O que disseram os treinadores
Vítor Bruno, treinador do FC Porto: "Era tentar desgastar a função defensiva do Vitória, que só tinha sofrido dois golos nos jogos disputados. Tentámos procurar caminhos de forma eficiente, para tentar encontrar espaços e poder ameaçar a linha de médios do Vitória. Conseguimos fazer isso e bem, faltou-nos os 25 metros finais do campo. Na segunda parte seria importante ameaçar a primeira linha. Os primeiros 75 metros estavam lá, mas o campo tem 100. A vitória é claramente justa, não sofre contestação, mas são três pontos, não mais do que isso."
Rui Borges, técnico do Vitória SC: "Mérito do adversário, jogámos contra uma grande equipa. Na primeira parte entrámos receosos apesar de não deixarmos grandes ocasiões de golo para o FC Porto. Não conseguimos ser tão pressionantes e estivemos meio confusos e receosos. Também não os expusemos a grandes dificuldades. Mas na segunda parte tentámos corrigir isso e até entrámos bem, mas eles acabaram por fazer o primeiro golo. Depois acho que crescemos, e numa altura em que até estávamos bem eles acabaram por fazer o segundo. Acredito que foi uma vitória justa."
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