O Sporting parte para I Liga 2023/24 na tentativa de se redimir de uma campanha completamente para esquecer na última época, em que não conseguiu sequer o acesso às pré-eliminatórias da Liga dos Campeões, ao quedar-se atrás dos crónicos rivais Benfica e FC Porto e ao ser ainda superado pelo SC Braga na corrida ao terceiro lugar.

O desafio é, pois, grande, para o emblema de Alvalade, após uma temporada em que os leões terminaram a 13 pontos do primeiro lugar, numa espécie de retrocesso, depois da conquista do título em 2020/21 e do segundo lugar em 2021/22 a seis pontos do topo. Contrariar esse tal retrocesso, voltar a erguer troféus (2023 foi apenas o segundo ano dos leões sem qualquer conquista desde 2017) e chegar longe na Liga Europa, para compensar a ausência da Champions, serão os objetivos.

Especial Arranque da I  Liga 2023/24: análise aos candidatos, os grandes reforços, as principais saídas

Rúben Amorim, o homem do leme

No comando dos leões segue o homem que, apesar da época 'a seco' de 2022/23, revolucionou o Sporting nos últimos tempos, desde que assumiu o o leme dos leões, em 2019.

De ideias fixas, fiel ao seu sistema tático de três defesas - ao qual vai introduzindo algumas nuances, como parece ir acontecer esta temporada - e com uma empatia com jogadores e adeptos que o faz marcar pontos, Rúben Amorim vai para a sua vai iniciar pela quarta temporada seguida a época como treinador do Sporting. Algo que não se via desde os tempos de Paulo Bento e que poucas outras vezes se viu no passado. Ao todo, Rúben Amorim (que é já o terceiro treinador da história com mais jogos no banco dos verdes e brancos) totaliza 108 vitórias, 25 empates e 26 derrotas em 159 encontros como treinador do Sporting.

Para 2023/24, Amorim parece voltado a apostar no discurso do "jogo a jogo" que tanto sucesso teve na temporada em que guiou os leões ao título. "O que interessa agora é o Vizela. O nosso foco é ganhar. No último campeonato não entrámos a ganhar e neste temos obrigatoriamente de ganhar. A vitória é a única coisa que interessa. Depois vamos à segunda", disse na conferência de imprensa após o triunfo no Troféu Cinco Violinos. "Precisamos dos adeptos. Sem eles não temos hipóteses. Com eles podemos vencer todos os jogos. Se estiverem aqui, com o ambiente que tivemos com o Benfica ou a Juventus, será muito difícil para os adversários", acrescentou.

Só um reforço, mas de peso e muito desejado

Para já, o Sporting ainda só apresentou um reforço. Mas parece ser um reforço de peso. Não só por ser a contratação mais cara de sempre do clube, mas pelo que já mostrou, nos jogos de preparação, ser capaz de fazer  e oferecer à equipa.

Depois das lacunas apresentadas no capítulo da finalização na época passada, Rúben Amorim já tinha admitido que o Sporting precisava de mais um avançado. Mas ficou bem evidente que o técnico não queria 'só' um avançado...queria Viktor Gyokeres. As negociações arrastaram-se por largas semanas, mas a direção liderada por Frederico Varandas acabou mesmo por conseguir trazer o avançado sueco para Alvalade e cumprir assim o desejo do seu treinador.

Para ter Viktor Gyökeres, contudo, o Sporting teve de abrir os cordões à bolsa: pelo ponta de lança de 25 anos os leões pagaram 20 milhões de euros (que podem chegar aos 24, mediante o cumprimento de determinados objetivos).

Muito possante fisicamente, com 1,87 metros de altura, Gyökeres soma três golos em 14 internacionalizações pela Suécia e nas duas últimas temporadas assinou 40 golos pelo Coventry no segundo escalão do futebol inglês.

Marcou de leão ao peito logo no primeiro jogo de preparação em que os adeptos tiveram oportunidade de o ver ao vivo e também encantou no Troféu Cinco Violinos, apesar de aí não ter marcado. Era o homem que Rúben Amorim mais desejava para a posição 9 e vai mesmo tê-lo à sua disposição.

Ugarte partiu e vai deixar saudades

Mas se no ataque há, agora, Gyokeres, no meio-campo deixou de haver Manuel Ugarte. O médio defensivo uruguaio brilhou a grande altura na última época - apesar do desempenho abaixo das expetativas por parte da equipa, no geral - chegando mesmo à seleção principal do seu país e figurando na Equipa Ideal da I Liga 22/23.

As suas exibições não passaram despercebidas e o Paris Saint-Germain acabou por avançar com 60 milhões de euros (valor equivalente ao da cláusula de rescisão). Uma quantia que faz de Ugarte a segunda maior venda de sempre dos leões (apenas superada pela de Bruno Fernandes), que deixa alguma folga nos cofres de Alvalade, mas que deixa o meio-campo da equipa de Rúben Amorim bastante mais frágil.

Se Ugarte -  que na temporada passada esteve em 47 jogos do Sporting (42 como titular) - se mostrou o substituto perfeito para João Palhinha quando este rumou ao Fulham, desta feita não parece haver ainda no plantel ninguém ainda capaz de fazer o que o uruguaio fazia em campo, quer na recuperação da bola, que no iniciar dos lances de ataque.

Daniel Bragança está de regresso, após uma temporada inteira de fora devido a lesão, e colocar Pedro Gonçalves ao lado de Morita no meio-campo pode ser outra solução - como tem sido em vários momentos na pré-época - mas uma ou outra alternativa têm as suas implicações e não parecem oferecer o mesmo que Ugarte oferecia ao centro do terreno leonino. Os jovens Essugo e Matues Fernandes não parecem, pelo menos para já, serem opções para a titularidade

Quem ainda pode chegar? E ir embora?

Por isso mesmo, pode  ainda, a qualquer momento, chegar mais um médio mais recuado para compensar o adeus de Ugarte, com o dinamarquês Morten Hjulmand, de 24 anos, do Lecce, muito perto de ser oficializado.

Também para a ala direita poderá ainda chegar uma cara nova. Pedro Porro - que pelo corredor direito era um dos jogadores mais perigosos do Sporting em termos ofensivos, ao mesmo tempo que dava garantias no capítulo defensivo - saiu a meio da temporada passada. Bellerín, que chegou para compensar a sua saída, não convenceu e foi embora. Ficou Ricardo Esgaio, que assumiu a titularidade e até subiu de nível, mas parecem faltar alternativas, ainda que as experiências de pré-época não tenham corrido mal: Amorim testou Eduardo Quaresma, primeiro, e o jovem central não comprometeu, e depois lançou outro jovem, Geny Catamo (regressado de um período de empréstimo ao Marítimo) no Troféu Cinco Violinos, com o extremo moçambicano de 22 anos a dar nas vistas como ala direito.

Quanto a possíveis saídas, para além dos 'excedentários' que não contam para Rúben Amorim - resolvidos estão os casos de Tiago Ilori, José Marsá, e Sotiris, mas faltam resolver os de Fatawu, Tanlongo Eduardo Henrique, Rafael Camacho - continuam a surgir notícias do interesse de vários clubes - sobretudo ingleses - em Gonçalo Inácio e Pedro Gonçalves.

Frederico Varandas garantiu, depois da venda de Ugarte, que o Sporting só venderia outros jogadores titulares pelo valor da cláusula de rescisão, mas ainda faltam três semanas para o fecho do mercado e até lá tudo pode acontecer.

Pré-temporada animadora

O Sporting deu boa conta de si nos jogos de pré-temporada. Depois de um período inicial de treinos em Alcochete, durante os quais no qual os leões venderam Estrela da Amadora (4-1) e Marítimo (3-0) à porta fechada, seguiu-se um estágio de quase duas semanas no Algarve. Aí, a turma de Rúben Amorim venceu o Farense (2-1) também à porta fechada, antes de empatar 1-1 com os belgas do Genk (no primeiro jogo com direito a adeptos e transmissão televisivo, que coincidiu também com o primeiro sem ganhar).

Novo empate 1-1 com o Portimonense antecedeu um triunfo claro, por 3-0, sobre a Real Sociedad (equipa que vai estar na Liga dos Campeões em 2023/24), com Gyokeres a marcar e Pedro Gonçalves a encantar.

Depois, regresso a Lisboa para o Troféu Cinco Violinos e mais uma vitória clara, pelos mesmos 3-0, sobre o Villarreal (5.º classificado da Liga espanhola na última época) e alguns momentos que entusiasmaram os adeptos presentes em Alvalade. O último jogo de preparação televisionado, em Inglaterra, diante do Everton, resultou na única derrota da pré-época, mas ainda assim as indicações deixadas pela equipa foram boas.