O FC Porto levou demasiado a sério o provérbio “Depois da tempestade vem a bonança”. Na ronda passada, os Dragões perderam em casa do Marítimo e respetiva oportunidade de encurtar a distância para o primeiro lugar. Curiosamente, o adversário que impôs a derrota ao líder Benfica foi o mesmo que ontem saiu goleado em casa dos azuis e brancos.

Para fazer uma análise mais justa à vitória de 5-0 do FC Porto na receção ao Paços de Ferreira é necessário dividi-la em três atos. Com destaque para o terceiro, dedicado ao homem do jogo.

Ato I

O Paços de Ferreira e o FC Porto

O Paços de Ferreira de Paulo Fonseca, antigo treinador do FC Porto e que ontem não se sentou no banco de suplentes por estar a cumprir castigo, não jogou mal. Apesar da dura derrota, a equipa pacense pôde sair do Dragão sem o rótulo de 'desilusão da jornada'. Além de não ter conseguido desenvolver o seu futebol, muito por culpa do sistema pressionante do FC Porto, o Paços estava num dia de pouca inspiração. Algo que até o próprio treinador adjunto reconheceu no final da partida.

Em casa, na Mata Real, o Paços de Ferreira é demasiado envolvente. Se há equipa que leva demasiado a sério o conjunto de palavras “Jogar em casa”, esse é o Paços. Que o diga o Benfica, que perdeu lá no fim de semana passado. Fora de casa, nas últimas épocas, a formação da Capital do Móvel sempre se apresentou destemida, olhando de frente aos adversários, conseguindo por vezes surpreender os ‘grandes’. Não foi o caso de ontem. Mesmo jogando em vários momentos com linhas baixas, o Paços deu muito espaço ao FC Porto quando procurava o golo, daí ter saído da cidade Invicta com cinco golos sofridos.

“O Paços está muito bem orientado e é uma equipa que enriquece a Liga portuguesa”. Esta afirmação tem a autoria do treinador do FC Porto, Julen Lopetegui.

Ato II

Tello e os outros golos

Antes de passar ao capítulo “Ricardo Quaresma”, há que falar nos restantes três golos do FC Porto.

Jackson Martínez e Hector Herrera foram os responsáveis pelo primeiro e quarto golo respetivamente. O avançado colombiano aproveitou uma saída em falso (bastante) do guarda-redes Defendi para dar um toque à queima roupa e introduzir a bola na baliza. Já o mexicano, que viu Jackson Martínez ‘limpar’ toda a defesa, só teve mesmo de encostar.

Tello continua em excelente forma e, além de conseguir desequilibrar nas alas, mostrou ontem que sabe converter impecavelmente os livre diretos. O quinto golo do jogo só não foi o melhor porque Ricardo Quaresma esteve num dos seus dias mais inspirados de sempre.

Ato III

Ricardo Quaresma

É verdade que o FC Porto venceu 5-0 [o segundo apontado pelo Mustang na conversão de um penálti], um resultado que dá muito que falar, mas o homem do momento é mesmo Ricardo Quaresma.

São poucos os jogadores que, 'massacrados' por selecionadores e treinadores, por justa causa ou não, conseguem fazer o que Ricardo Quaresma fez ontem à noite. Não só pelo belo gesto técnico da sua trivela, fora da área, mas por se tratar de um jogador capaz de o fazer quando é sempra a sombra de alguém, um renegado natural, ou o colocam à sombra. Se Ricardo Quaresma fosse titular indiscutível em todas as equipas por onde passou, este golo seria mais um. Um excelente golo, mas mais um.

Está claro que entre Lopetegui e Quaresma a questão passa por um problema de egos, algo que o português já está calejado, seja nos clubes pelos quais passou ou na seleção portuguesa. A culpa será dele, e ele sabe-o. Não será aos 31 anos que haverá a mudança.

No dia em que Quaresma se aposentar, ele poderá olhar para o chão e ver que a sombra que mais sobressai é aquela que consegue fazer golos como este.