Há contradições nas versões de Bruno de Carvalho e André Geraldes sobre a mudança do treino do Sporting no dia 15 de maio de 2018, dia em que cerca de 50 adeptos leoninos invadiram a Academia do clube em Alcochete e agrediram jogadores, equipas técnica e médica.

Uma das questões levantadas sobre os acontecimentos prende-se com a hora do treino desse dia, 48 horas depois da derrota frente ao Marítimo que atirou o Sporting para o 3.º lugar da Liga, afastando-o assim das eliminatórias de acesso à Liga dos Campeões. O ambiente era complicado mas havia uma Taça de Portugal para disputar contra o Desportivo das Aves. No dia anterior aos ataques, a 14 de maio (que devia ser dia de folga do plantel da equipa principal de futebol), a direção do Sporting, liderada por Bruno de Carvalho, resolveu marcar uma reunião com técnicos e jogadores, onde terá sido comunicado a Jesus que estava despedido.

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A hora do treino do dia seguinte estava agendado para às 10h00 em Alcochete mas foi adiado para às 17h00. Sobre esta decisão, parece haver contradições sobre quem terá determinado o adiamento do treino. André Geraldes, que na altura era team manager da equipa, atribui a decisão a Bruno de Carvalho.

"Quem mudou a hora do treino foi Bruno de Carvalho. Foi isso o que me comunicou o treinador Jorge Jesus", contou o ex-dirigente ao jornal OJogo, garantindo que não está envolvido" nos acontecimentos de 15 de maio. Na mesma declaração ao jornal, André Geraldes confirma ter recebido a mensagem de Bruno Jacinto, então Oficial de Ligação aos Adeptos do Sporting, a comunicar que a Juventude Leonina "ia à Academia" no dia seguinte. "Não relevei a mensagem e até fiquei admirado. Não sabia de nada. Estava focado noutras coisas", garantiu.

Geraldes recorda que nesse dia a saída de Jorge Jesus estava a ser discutido e foi nesse mesmo dia que surgiu o caso 'Cashball', envolvendo o seu nome, como estando implicado num esquema de corrupção no andebol.

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Esta versão é contrariada por fonte próxima de Bruno de Carvalho, contacto pelo jornal OJogo. A mesma fonte diz que quem mudou o treino do dia 14 foi Jorge Jesus. Diz a mesma fonte que após a reunião dia dia 13 com treinadores e jogadores, Jesus "comunicou que por ser possível a administração da SAD ser aconselhada pelos advogados [que seriam consultados na manhã do dia 15 sobre as possibilidades de despedimento do treinador] a já não ser ele a treinar a equipa para a final da Taça de Portugal, ia alterar o horário do treino do dia seguinte das 10h00 para as 16h00", altura em que se deu o ataque a Academia.

De recordar que esta semana Bruno de Carvalho tentou ser ouvido no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa para prestar esclarecimentos sobre a invasão a Alcochete, na sequência de notícias que dão conta de um alegado envolvimento nesta ação, mas acabou por não ser recebido pelo juiz responsável pelo processo. O ex-presidente do Sporting disse que lhe tinham dito que havia um mandado de detenção contra si que iria ser executado no dia seguinte, sexta-feira.

A iniciativa de Bruno de Carvalho ocorre um dia depois de o funcionário do Sporting Bruno Jacinto ter sido ouvido em primeiro inquérito judicial, no âmbito do mesmo processo, e ter ficado em prisão preventiva.

Detido na terça-feira, Bruno Jacinto, que na altura das ocorrências era oficial de ligação aos adeptos, está indiciado, entre outros, pela prática, em coautoria, de mais de 20 crimes de ameaça agravada, 12 crimes de ofensa à integridade, 20 crimes de sequestro e um crime de terrorismo.

Bruno Jacinto é já o 38.º elemento em prisão preventiva por alegado envolvimento nos incidentes de 15 de maio na academia do Sporting, em Alcochete, em que cerca de 40 alegados adeptos do clube, encapuzados, agrediram alguns jogadores, treinadores e ‘staff'.

Os 38 arguidos que aguardam julgamento em prisão preventiva, entre eles o antigo líder da claque Juventude Leonina Fernando Mendes, são todos suspeitos da prática de diversos crimes, designadamente de terrorismo, ofensa à integridade física qualificada, ameaça agravada, sequestro e dano com violência.

Na sequência do ataque à Academia do Sporting, nove futebolistas rescindiram os contratos com o clube.

Rui Patrício, Rafael Leão, Daniel Podence, Gelson Martins e Ruben Ribeiro saíram em litígio com o Sporting e transferiram-se para outros clubes.

Bas Dost, Bruno Fernandes e Rodrigo Battaglia voltaram atrás na decisão de abandonar o Sporting, enquanto William Carvalho saiu para o Bétis, de Espanha, após acordo do clube espanhol com os 'leões'.

Já no início deste mês, o Tribunal da Relação de Lisboa manteve em prisão preventiva oito dos suspeitos do ataque, revelou a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa.

O Tribunal da Relação de Lisboa ainda tem de pronunciar-se sobre os restantes recursos interpostos pela maioria dos detidos neste processo.