A recente descida de Portugal no ranking da UEFA e a futura reestruturação da Liga dos Campeões prometem tornar a edição 2023/24 da I Liga numa “das mais importantes de sempre”, antecipa o experiente treinador português Augusto Inácio.

“Se o Benfica for campeão, cava financeiramente um fosso e pode distanciar-se no futuro de FC Porto e Sporting na luta pelo título, porque vai ter mais argumentos para contratar melhores jogadores", começou por dizer Inácio.

"O Benfica já consegue realizar contratações de 30 milhões de euros (ME), algo que há uns tempos parecia absurdo para a realidade do futebol português, e o Sporting fez a sua maior aquisição de sempre. Está a haver uma mudança de paradigma. Escolhe-se a qualidade em vez da quantidade e a qualidade paga-se bem”, acrescentou à agência Lusa um dos 10 técnicos que também foram campeões nacionais como atletas.

Em 2022/23, Portugal foi superado pelos Países Baixos na sexta posição do ranking da UEFA, que, a partir de 2024/25, época de estreia da nova ‘Champions’, passará a atribuir cinco vagas aos clubes nacionais nas três competições europeias, contra as atuais seis.

Especial Arranque da I  Liga 2023/24: análise aos candidatos, os grandes reforços, as principais saídas

Se apenas o vencedor do próximo campeonato entrará diretamente na fase de grupos da Liga dos Campeões, tendo mais jogos para disputar e prémios monetários superiores, o segundo classificado terá de superar duas pré-eliminatórias para lá chegar, enquanto duas das restantes vagas continentais irão incidir na Liga Europa e outra na Liga Conferência.

“O politicamente correto é dizer que o atual campeão é o favorito, mas não partilho dessa ideia. Os três ‘grandes’ partem em igualdade de circunstâncias, apesar de o Benfica ter a aura de ter dominado a maioria da época passada. Em termos de nomes, parece que se reforçou de uma maneira em que não dá hipóteses a ninguém e tem uma ‘super’ equipa, mas não vi isso nos últimos jogos [de pré-época]”, observou Augusto Inácio, que venceu sete edições entre FC Porto e Sporting - cinco como jogador e duas enquanto treinador.

Numa altura em que faltam três semanas para o fim da janela de transferências de verão, o ex-defesa internacional português, de 68 anos, vinca a necessidade de surgirem novos médios defensivos nos ‘dragões’ e nos ‘leões’, que também carecem de um lateral direito para “ficarem com um ‘onze’ inicial e um banco de suplentes capazes de discutir o título”.

“O que é que falta ao Sporting de Braga para dizer que também é um candidato ao título? Falta realmente ser campeão. O clube não tem esse histórico, mas está em evolução, é o quarto ‘grande’ do futebol português e ficou acima do Sporting em 2022/23, ao ter sido o terceiro colocado. Falta-lhe maior consistência, sobretudo frente aos ‘grandes’, nos quais claudicou muito na época passada. Vamos ver o que irá fazer este ano, mas costuma-se dizer que os campeonatos se ganham [nos jogos] com os mais pequenos”, reconheceu.

Com mais de 250 partidas realizadas na I Liga à frente de FC Porto, Marítimo, Desportivo de Chaves, Sporting, Vitória de Guimarães, Belenenses, Beira-Mar, Naval, Moreirense ou Desportivo das Aves, Augusto Inácio prevê que o top 4 da prova, que incluiu os mesmos clubes nas últimas seis edições, tenda a crescer em distanciamento para a concorrência.

“Vamos ver a qualidade que será apresentada, mas não creio que fuja imenso do figurino destes últimos anos. É verdade que vai haver uma distribuição com mais dinheiro, mas a centralização [dos direitos] da televisão é só para 2028/29. Isso faz com que Sporting, FC Porto e Benfica e recebam cerca de 50 ME por ano, enquanto os ‘Aroucas’ desta vida só têm três ou quatro milhões. É uma diferença substancial, que se reflete nas pontuações. Para a competitividade da I Liga, talvez fosse melhor não haver tantas equipas, mas é isto que vamos ter e creio que será duro para todas elas chegarem aos seus objetivos”, terminou.