O FC Porto necessita de “apelar à sua honra” esta sexta-feira, no clássico da 27.ª jornada da I Liga, para travar o líder Benfica e ainda ‘sonhar’ com a revalidação do título, observa o ex-futebolista José Alberto Costa.

“Vejo com alguma dificuldade que o FC Porto possa discutir o resultado na Luz como em anos anteriores. Vai ter necessariamente de ser feliz nas suas escolhas e, depois, apelar ao brio coletivo, pois vai numa situação de dupla desvantagem. Mesmo que ganhe, o FC Porto sabe que o título está praticamente perdido. Por outro lado, o segundo lugar ficará em risco caso perca”, anteviu à agência Lusa o ex-avançado dos ‘dragões’ (1978-1985).

O líder Benfica, com 71 pontos, recebe o ‘vice’ e campeão nacional em título FC Porto, com 61, dois acima do Sporting de Braga, terceiro colocado, e oito face ao Sporting, quarto, que tem menos um jogo, esta sexta-feira, às 18:00, no Estádio da Luz, em Lisboa, no embate de cartaz da 27.ª ronda.

“O Benfica é bastante favorito, não só pelos 10 pontos de diferença, mas também por já estarmos numa fase em que esse desnível tem maior peso, além da forma apresentada por cada equipa neste momento. Em termos gerais, o Benfica está exuberante nas suas exibições, tem o melhor ataque e defesa da prova e quase todos os atletas disponíveis. Isso dá-lhes um conforto que merece sempre atenção e o fator casa tem peso”, atestou.

Os ‘dragões’ venceram oito dos 19 clássicos ocorridos na I Liga desde a inauguração do novo recinto ‘encarnado’, onde até arrebataram o seu 30.º título de campeão nacional em 2021/22, mas já não lá iam com tanto atraso desde 1976/77, quando, se cada triunfo fosse convertido em três pontos, tinham 12 pontos de atraso antes da 29.ª e penúltima jornada.

“O FC Porto tem andado algo titubeante e sofreu com lesões, que fazem com que alguns nomes fundamentais possam não estar disponíveis ou a sua forma atingida no passado ainda não esteja totalmente alcançada no presente. A possibilidade de utilização do seu plantel é bastante mais limitada em relação ao Benfica”, confrontou José Alberto Costa.

Julgando que um empate “é um mal menor, mas pode ser decisivo” na luta pelo segundo lugar, o último de qualificação direta para a fase de grupos da edição 2023/24 da Liga dos Campeões, o ex-internacional português, de 69 anos, deseja sentir “entrega e empenho” no conjunto de Sérgio Conceição, atual detentor dos quatro troféus nacionais.

“Acredito que o FC Porto se vai unir em torno do objetivo comum de mostrar que poderá discutir o jogo com o Benfica, que surge com todo o mérito na frente e tem o título quase nas mãos. O Benfica vai jogar com confiança, porque sabe da diferença pontual e pode arriscar e esperar que o tempo se desenvolva para poder alcançar a vitória. O FC Porto não pode esperar tanto. Acho que, numa primeira fase, tem de tentar todos os possíveis para ganhar. Depois, depende naturalmente das circunstâncias do próprio jogo”, avaliou.

José Alberto Costa nota que os campeões nacionais “têm conseguido muitas vezes dar uma resposta positiva, quer nacional, quer internacionalmente”, nos grandes palcos, em contraste com os quatro empates e as três derrotas averbadas em 26 jornadas na I Liga.

“O Mehdi Taremi está nitidamente em baixo de forma e com alguma falta de inspiração, mas pode, de um momento para o outro, transformar-se e recuperar capacidades. Quem diz ele, diz outros. Deu-me a ideia de que o Galeno foi utilizado neste último jogo [vitória por 1-0 na receção ao Portimonense] para ter rodagem e readquirir alguma dinâmica que tinha perdido em função da sua lesão. O próprio Otávio baixou um pouco de rendimento. Agora, todos já mostraram que se podem transcender em jogos desta natureza”, referiu.

O vencedor de dois campeonatos, uma Taça de Portugal e uma Supertaça Cândido de Oliveira pelo FC Porto aceita que os sucessivos problemas físicos existentes nas últimas semanas “servem completamente” de atenuante para as exibições discretas da equipa, sendo que Diogo Costa, João Mário, Pepe, Zaidu e Evanilson figuram no boletim clínico.

“Logicamente, o nível dos suplentes não é o mesmo e é um dos problemas do plantel do FC Porto. Toda a gente deve ter a perfeita consciência de que, se não fosse a argúcia e as descobertas do Sérgio Conceição no seu processo de treino ao longo destes anos, os problemas ainda eram mais evidentes e tinham sido maiores no passado. São assuntos que o clube terá de resolver no futuro, seja qual for o resultado deste clássico”, sinalizou.

José Alberto Costa mostra-se compreensivo sobre o “aviso à nação portista no plano da gestão desportiva” feito pelo técnico depois do ‘nulo’ em casa diante do Inter Milão (0-0), apesar de, alguns dias após a ‘queda’ nos oitavos de final da ‘Champions’, o presidente Jorge Nuno Pinto da Costa ter recusado que houvesse falta de investimento no plantel.

“No futuro, tem de haver necessariamente uma relação direta entre o conjunto de atletas que saem e a qualidade e o critério de escolha dos que entram. Se não acontecer, torna-se tudo muito mais difícil para manter os resultados. O FC Porto tem exemplos evidentes no passado de deteção de talentos jovens dentro e fora do clube, que se rentabilizam e permitem equilibrar a qualidade da equipa principal nas temporadas seguintes”, concluiu.