Bruno Fernandes concedeu uma grande entrevista ao programa Trio D'Ataque, da RTP3, onde falou sobre vários momentos da sua vida, nomeadamente os momentos muito difíceis pelos quais passou quando rumou a Itália com apenas 17 anos para jogar no Novara.

Lembrança da infância: "Gueifães [campo da sua terra] era duro, era duro (risos). O campo era em cimento. Ainda lá está, e infelizmente tem cada vez menos gente na rua a jogar. Antigamente, havia muitos mais miúdos a jogar. Na escola, o importante era o final das aulas para ir buscar as bolas ao telhado."

Sonho de ser futebolista: "Os meus pais sempre souberam que eu queria ser jogador. Sempre meti em primeiro plano o futebol, tanto que a minha mãe para me meter de castigo, dizia: ‘se as notas não forem boas, não vais ao futebol’. Mas respondia que se não fosse à bola, as notas ainda iam ser piores."

Ida para Itália aos 17 anos: "Foi muito difícil. Sendo jovem, entrares num país onde não entendes nada… vês-te sozinho num contexto em que não estás habituado. Estava habituado ao Boavista, onde a base da equipa era a mesma quase há 10 anos. Chegar a Novara não conhecer ninguém, não falar a língua, não ter ninguém para traduzir, foi muito difícil. Nos primeiros tempos, os meus pais e a minha namorada, agora minha mulher, deram-me muita força e apoio para eu ficar, através de vídeo-chamada, nada mais. Na altura, as possibilidades não eram assim tantas, não os podia ter por perto muitas vezes. A minha mulher, nos últimos seis meses, ia lá uma vez por mês. Ela ainda estudava e, por isso, não podia estar lá muitas vezes. Ia lá três ou quatro dias, uma vez por mês e ajudava muito. Os meus pais também iam lá. Isto tudo com a ajuda do meu empresário, porque eu não tinha possibilidades para pagar viagens

Sustento: "Quando lá cheguei, recebi o salário mínimo de Itália que eram 1.500 euros. Mas só o recebi em fevereiro. Tive desde junho até fevereiro com 50 euros que a minha mãe me deu quando parti. Disse-me: ‘Se precisares de alguma coisa, gasta!’ Aqueles 50 euros duraram até janeiro porque eu não saia da academia, vivia com o que tinha, tinha uma bola e campos, eu era feliz. Para mim chegava."

Primeira abordagem para regressar a Portugal: "Soube a partir dos jornais que era uma possibilidade que tinha. Dois grandes amigos meus mandaram-me logo mensagem. Até lhes disse: ‘acordaram de propósito para ir ao quiosque’."

Conversa com Jesus antes de ingressar no Sporting: "Não falei muito com o mister. Na altura, o que me passaram é que era um interesse do treinador, que gostava muito de mim. Mas também me disseram que o presidente estava a fazer um grande esforço para que viesse. Porque não era uma operação simples, um jovem jogador português com aquele preço."