Carlos Severino insurgiu-se contra o estado atual do futebol português. O antigo candidato às eleições do Sporting considerou, em entrevista ao SAPO Desporto, que as leis que regem o futebol português estão completamente adulteradas. Para o sportinguista, o problema está nos elementos que constituem os órgãos disciplinares do futebol português.

"As questões da disciplina e da arbitragem no futebol português continuam a ser situações que não dão credibilidade nenhuma. São organismos subalternos, que tem na sua gestão pessoas que estão ligadas aos clubes, ao FC Porto e ao Benfica o que se torna pernicioso para a credibilidade do futebol", começou por dizer Severino, que deu o exemplo do acaso da agressão de Samaris a Diego Ivo, no recente Moreirense-Benfica.

O empresário frisa que "Samaris até pode vir a ser severamente castigado" e "até pode levar quatro, cinco ou dez jogos, mas se isso for depois da decisão do campeonato, ... o que se pode dizer? Vamos rir muito com a fantochada que isto é", acusa.

Severino fez questão de frisar que as suas acusações não são contra "Benfica, Sporting e FC Porto, "mas sim "contra aquilo que é a realidade existente nos Conselhos de Disciplina e de Arbitragem, órgãos subalternos que têm poderes limitados e que não podem responder com a verdade que a credibilidade do futebol merecia em tempo útil”.

Na entrevista ao SAPO Desporto, Severino lembrou que a agressão de Samaris “foi visto por toda a gente”, logo a FPF, “tinha de atuar, o jogador tinha de ser penalizado, como outros casos que deviam ser decididos na hora e que não foram. E isto dá azo a especulação completa", sublinhou, para quem, este caso, em nada credibiliza o futebol português.

"Estas situações devem ser tratadas em cima da hora e perante os factos que não deixam dúvidas a ninguém. Pode dar-se o caso de o jogador do Moreirense dizer que não sentiu [o soco] mas não é isso que está em causa. O que está em causa é o gesto do jogador. Se fosse uma situação para credibilizar o futebol português, tinha de ser decidido na hora. Era sem apelo nem agravo, seja a quem for: Sporting ou Benfica ou FC Porto ou Vitória de Setúbal ou outro clube", atirou.

O comentador televisivo não acredita que o caso venha a ser decidido a tempo e horas. "Vai-se abrir um inquérito e creio que até ao final do campeonato isto não se resolve", disse Severino, que atira as culpas para a influência dos ´três grandes` nos órgãos disciplinares.

"As instâncias desportivas que deviam ser independentes, e não dependentes da própria FPF - deviam ser independentes, geridos por gente independente, sem estarem ligados a clubes, gente influenciada pela sua clubite e depois recebem recados, isto não é público, mas recebem - e depois, claro, vão tentar defender as suas damas. Daí resulta que o futebol português é uma mentira completa", acusou.

E dá um exemplo: a questão dos jogadores emprestados por Benfica, FC Porto e Sporting aos clubes mais pequenos.

“E isso começa logo na história dos clubes grandes poderem emprestar jogadores aos clubes mais pequenos, e poderem, de forma encapotada, ter influência nos passes de determinados jogadores que estão [nos clubes pequenos], pagar os vencimentos dos jogadores que la estão. Um pequeno que tenha jogadores emprestados pelo Benfica, FC Porto e Sporting está sempre, em cada jogo que faz, a mudar: se for contra o Benfica, jogam os jogadores emprestados pelo Sporting e FC Porto e não jogam os emprestados pelo Benfica e assim sucessivamente... é uma mentira completa", atirou.

Para Severino, a tão defendida "verdade desportiva em Portugal, é o FC Porto, Benfica e Sporting", algo que está "completamente adulterada".

Severino chama a atenção para a necessidade de se credibilizar o futebol português, numa altura em que o país campeão da Europa tem o seu presidente da Federação como vice-presidente da UEFA. Essa credibilização só será possível com "uma reconversão das estruturas do futebol, para que as pessoas possam acreditar mais no futebol e não tanto na clubite que é aquilo que grassa em Portugal porque parece que não existe mais nada além dos três grandes. E o resto é paisagem", afirmou ao SAPO Desporto.

O antigo jornalista pede um que "haja um mínimo de decência, de modo a que os mais pequenos não sejam altamente lesados com esta realidade", apesar de, na sua opinião, os próprios clubes dito pequenos parecerem "não se importar muito" com esta situação "porque acabam por beneficiar das migalhas que os grandes deixam. E isto tem de mudar", defendeu.