Os clubes de futebol profissional querem diálogo, mas estão dispostos a enfrentar o Estado nos tribunais caso falhe um acordo para resolver a questão das dívidas do Totonegócio, imputando à tutela a principal responsabilidade pela situação.

«As defesas fazem-se nos tribunais. A lei e contratos são para cumprir. A Liga e os clubes cumpriram a sua parte do contrato e o Estado não. Os clubes não estão acima da lei, mas o Estado também não», resumiu o presidente da Liga Portuguesa de Futebol (LPFP), Mário Figueiredo, após uma reunião com clubes na sede do organismo.

Os 30 milhões ainda em dívida são o resultado do desvio das receitas previstas pelo Estado que os clubes receberiam anualmente pelo totobola a partir de 1999, ano em que foi estabelecido um acordo para pagamento das dívidas fiscais anteriores a 1996.

«O próprio Estado admitiu uma projeção à volta dos quatro milhões de euros anuais, mas as mesmas foram muito inferiores. Ou seja, o Estado incumpriu com essa parte, retirando aos clubes receitas que lhe eram devidas e que serviriam para pagamento das dívidas», disse.

Mário Figueiredo prometeu que a Liga «defenderá intransigentemente» os clubes e quer resolver o assunto «muito brevemente», caso contrário admite que, em última instância, os clubes poderão tratar dos seus interesses «pela via judicial».

«Até esgotarmos todas as vias de entendimento responsável, escuso-me a cenários radicais que Portugal dispensa. Queremos ser parte da solução, não do problema», vincou.

O presidente da Liga garante firmeza na defesa dos seus associados, mas quer solução pacífica: «Não vemos o Estado como adversário. O ministro Miguel Relvas disse que era necessário encontrar uma solução e não há ultimatos do governo com a Liga e Federação. Creio que estão reunidas as condições para um entendimento».

Como chave da solução, o dirigente recuperou a reivindicação pela regulamentação das apostas online, considerando que as receitas daí advindas para os clubes darão para saldar a questão.

«O tempo é um adversário. Andamos desde 2005 à espera do enquadramento das apostas desportivas. Em Portugal, o que se verifica é que podemos estar reféns de outras pessoas interessadas nas apostas. A Santa Casa da Misericórdia e, mais recentemente, os casinos. Cada um destes ‘players’ tem os seus interesses, mas neste triângulo há uma parte prejudicada (Liga)», criticou.

Por isso, o presidente da Liga quer ver o governo legislar no sentido de ver os clubes «receber dinheiros sobre as competições que organizam e disputam».

Mário Figueiredo alertou ainda para algumas incorreções por parte das autoridades, «pois há clubes a quem está a ser pedido pagamento e não devem nada e outros a quem são pedidas quantias elevadas e que devem valores insignificantes».

O dirigente lembra ainda que deve ser creditada aos clubes as receitas do totobola desde 31 de dezembro de 2010, que não lhes foram entregues.