Vale e Azevedo, que vai começar a ser julgado a 12 de Outubro pela alegada apropriação indevida de quatro milhões de euros resultantes de transferências de quatro jogadores, "fabricou um contrato pretensamente celebrado entre o West Ham e o Benfica", para que pudesse reunir a verba necessária para pagar aos estaleiros Cantieri Navale San Lorenzo.

O negócio de venda dos direitos desportivos do jogador britânico ao West Ham foi fixado a 13 de Janeiro de 1999 em 1 075 000 libras, com o compromisso do clube inglês pagar 575 000 libras até 31 de Maio de 1999 e 500 000 libras até 31 de Agosto do mesmo ano.

Para se apropriar do valor da segunda prestação a pagar pelo West Ham, Vale e Azevedo, presidente do Benfica de 03 de Novembro de 1997 a 31 de Outubro de 2000, falsificou o contrato, sabendo que a 26 de Janeiro "se vencia o prazo de pagamento" da tranche aos estaleiros italianos, como consta do despacho de acusação a que a agência Lusa teve acesso.

No documento falsificado, entregue por Vale e Azevedo nos serviços de contabilidade, "foi suprimido o quarto parágrafo do contrato real", que "continha o texto referente à segunda prestação" (500 000 libras).

Também foi colocado "na folha suporte do texto fabricado" um timbre que não era utilizado pelo clube inglês West Ham, que, entre 13 e 17 de Janeiro de 1999, aceitou antecipar o pagamento de 500 000 libras estrelinas.

O montante foi creditado a 25 de Janeiro de 1999 na conta do BCP da Sojifa Invstiments, Ltd, sociedade detida por Vale e Azevedo, com sede no paraíso fiscal de Gibraltar, sem qualquer relação contratual com o Benfica.

Posteriormente, foi ordenada pelo então presidente do Benfica a transferência da conta do BCP para o Banco Natwest de Gibraltar, titulada pela sociedade "off shore" JFI, Ltd ou JF International Yachts, Limited, de que Vale e Azevedo era proprietário.

A juíza que assinou o despacho de acusação sustentou que as 500 000 libras não lhe pertenciam e que o montante que serviu para pagar a terceira de cinco prestações do "Lucky Me" "não foi registado na contabilidade" do Benfica, "nem entrou nos cofres do clube através de outra designação contabilística".

Notou ainda que Vale e Azevedo, actualmente a residir em Londres, "ocultou a todos os membros dos órgãos sociais do clube e aos serviços da contabilidade, o recebimento e a apropriação da verba de 500 000 libras paga pelo West Ham".

Vale e Azevedo "sabia que a legislação bancária em Gibraltar protegia o anonimato dos intervenientes em operações financeiras e assegurava o sigilo máximo referente a estas últimas, o que facilitava a prossecução dos seus desígnios".

Neste processo, que vai ser julgado na 3.ª Vara do Tribunal Criminal de Lisboa, no Campus da Justiça, Vale e Azevedo é também acusado da prática de crimes relacionados com as transferências dos futebolistas Gary Charles, Tahar el Khalej e Amaral.

Os factos que sustentam a acusação remontam ao período de Janeiro de 1999 a Julho de 2000 e foram investigados pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP).

Depois de cumprir pena no caso Ovchinnikov, Vale e Azevedo aguarda em liberdade que o Tribunal de Westminster se pronuncie sobre pedido de extradição para Portugal.