As limitações às viagens entre Portugal, Brasil ou Reino Unido causam apreensão nos agentes de futebol perante o fecho da janela de transferências na segunda-feira, mas a crise económica será o principal motivo para a diminuição dos negócios.
“O Brasil e o Reino Unido são países importantes no mercado de transferências, em Portugal e não só. As dificuldades em organizar os negócios estão a ser muitas face às restrições em viajar entre países”, contou hoje à agência Lusa o empresário Pedro Neto.
O agravar da situação pandémica no país e no mundo tem aumentado as restrições dos voos entre países. Na quarta-feira o Governo português anunciou a decisão de suspender os voos de e para o Brasil, a partir das 00:00 de sexta-feira. Desde sábado que há também uma interrupção total de voos entre Portugal e Reino Unido.
As relações futebolísticas entre estes países são grandes e, para os agentes de futebol portugueses, o ‘timing’ destas decisões não é bom por surgir em cima do fecho da segunda ‘janela de transferências’, que acontece na segunda-feira no futebol português e em grande parte da Europa.
Pedro Neto revelou que está neste momento “a meio de duas operações” neste mercado de transferências e que a grande dificuldade está a ser “a ligação entre países”.
E acrescentou que cada país vai adotando a sua regra, explicando que agora os Países Baixos obrigam à realização de um teste rápido quatro horas antes do voo e à realização do teste à covid-19 PCR habitual.
“Têm acontecido coisas muito complicadas que prejudicam o normal funcionamento e que nos obriga a adaptar, sendo que estas são situações temporárias e que após resolvida a crise sanitária voltarão ao normal”, vincou o empresário.
Os constrangimentos causados pela dificuldade em viajar estão relacionados com a necessidade de o jogador assinar contrato presencialmente ou de realizar exames médicos já no clube de destino, acrescentou Pedro Neto.
“Há países em que se assina à distância, e os exames médicos se já foram feitos no clube de origem consideram-se validos e só se tem de fazer uma atualização, ficando isso previsto numa adenda ao contrato. Mas cada país é diferente”, apontou.
Também Artur Fernandes reconheceu a dificuldade em fazer negócios entre clubes face às limitações e acrescentou que os clubes com maior capacidade financeira terão sempre uma maior facilidade em resolver os problemas.
O empresário de futebol lembrou que se um jogador do Brasil estiver a ser negociado para um clube grande, será mais fácil fretar um avião do que se um clube de menor dimensão quiser fazer um negócio nesta altura.
A ligação entre Portugal e o Reino Unido, por exemplo, pode ser feita por França de comboio, apontou ainda.
“As limitações das fronteiras têm sido ultrapassadas com viagens para um país que permite entrar, ou seja, de país em país até encontrar um que deixe viajar para Portugal, em vez de diretamente”, realçou.
O também presidente da Associação Nacional de Agentes de Futebol (ANAF) referiu, no entanto, as dificuldades económicas motivadas pela pandemia de covid-19 para a existência de um “mercado muito pobre” que se deve “prolongar por mais dois ou três mercados”.
“Tudo o que está a acontecer é no sentido de haver, e já existe há uns meses, uma crise mundial que se vai agravar nos próximos dois ou três anos. Provavelmente terá repercussões ainda maiores do que a entre 2008 e 2021, pois foi apenas económica e esta é também de saúde”, alertou.
Artur Fernandes considerou assim que até segunda-feira o mercado será “fraco” e assente mais em empréstimos entre clubes.
“O que os clubes estão a fazer é praticamente trocar damas de um lado para o outro, sem praticamente grandes operações. Pode acontecer pontualmente, num clube rico como [Manchester] City, Chelsea ou Bayern Munique, mas ainda hoje saíram publicamente as contas do Barcelona com enormes prejuízos de 2020 e sem poder contratar ninguém”, concluiu.
O agente de futebol Carlos Gonçalves também apontou para um mercado “de poucos acertos” perante todas as limitações, quer de viagens, quer económicas.
“A pandemia está a afetar mais o futebol, mas a limitações de não poder viajar afetam sempre, principalmente numa profissão que temos de estar sempre em viagem”, contou à Lusa.
Carlos Gonçalves frisou que o futebol não está a escapar ao que acontece no mundo onde “poucas atividades podem dizer que aumentaram os negócios”.
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