O médio Rúben Oliveira depositou hoje confiança na permanência do lanterna-vermelha Desportivo das Aves, apesar do receio inerente à eventual retoma da I Liga de futebol, em plena pandemia de covid-19.
“Sabemos que a nossa profissão não é igual às outras, onde podem utilizar equipamento de proteção. Praticamos um desporto de contacto, o que torna as coisas mais arriscadas, mas temos de jogar nessas condições. Vamos dar tudo para tentar manter o clube na I Liga. Sabemos que é difícil, mas a permanência ainda está na nossa cabeça a 100%”, assumiu o centrocampista, de 25 anos, numa conversa promovida pelos nortenhos.
Com a entrada do país em situação de calamidade em 03 de maio, após três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março, os avenses voltaram a pisar o relvado de forma individualizada no dia seguinte, quase um mês e meio após a suspensão da I Liga, que deve ser reatada à porta fechada a partir de 04 de junho.
“Ninguém estava à espera disto. Foi uma experiência nova e muito complicada, porque perdemos a liberdade que tínhamos habitualmente nas nossas vidas e demorámos a adaptar-nos. Já se sabe que o futebol sem adeptos não terá a mesma emoção e vai influenciar, porque a adrenalina e o foco no jogo são diferentes”, avaliou.
O treinador Nuno Manta Santos optou por repartir os 24 jogadores por diferentes horários e espaços dos relvados do estádio do CD Aves e do complexo desportivo, onde também treinam 10 futebolistas da equipa sub-23, sob orientação do técnico Leandro Pires, depois de terem assistido à conclusão antecipada da Liga Revelação em 08 de abril.
“Estávamos ansiosos por voltar ao relvado, que não é o mesmo que treinar em casa. As condições não serão as ideais, mas temos de trabalhar com elas. Claro que não estaremos ao nível físico que tínhamos quando a competição foi suspensa, mas penso que será aceitável”, frisou Rúben Oliveira, com 18 jogos cumpridos esta época.
O ciclo de trabalho evoluirá para treinos coletivos e testes de despistagem ao novo coronavírus na segunda metade de maio, numa altura em que os avenses podem perder dois a cinco pontos pelo atraso salarial verificado entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020, face aos 13 somados em 24 jornadas, nove abaixo da zona de salvação.
“Como dizem os médicos, não é por um teste dar negativo hoje que amanhã não posso infetar-me. É uma falsa sensação de segurança, porque depois de dar negativo posso sair para ir ao supermercado e infetar-me sem dar conta”, terminou o médio, a cumprir a segunda época consecutiva na Vila das Aves, por empréstimo do Vitória de Guimarães.
No plano de desconfinamento face à pandemia de covid-19, o Governo autorizou a realização à porta fechada dos 90 jogos do campeonato, que é liderado pelo FC Porto, com um ponto de vantagem sobre o campeão Benfica, e da final da Taça de Portugal, entre ‘dragões’ e ‘águias’, tendo excluído a continuidade da II Liga.
Há duas semanas, o Desportivo das Aves pediu esclarecimentos à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e à Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) sobre o regresso do principal escalão em plena pandemia, numa carta assinada pelo administrador chinês Wei Zhao, em que levanta dúvidas sobre os contratos e a segurança dos atletas.
Os avenses têm atravessado uma série de contrariedades desportivas, diretivas e financeiras desde agosto e falharam há um mês a regularização salarial de jogadores e funcionários até fevereiro, num conjunto de dívidas justificadas pela sociedade anónima com a paralisação da atividade económica na China, motivada pelo novo coronavírus.
O processo seguiu da LPFP para o Conselho de Disciplina da FPF em 03 de abril e resultou nas desvinculações unilaterais do guarda-redes francês Quentin Beunardeau e do avançado brasileiro Welinton Júnior nos dias posteriores, quando a SAD tinha começado a liquidar verbas de janeiro e fevereiro aos plantéis principal e sub-23.
Os campeonatos de futebol de França e dos Países Baixos foram cancelados, enquanto outros países preparam o regresso gradual à competição com fortes restrições, como sucede na Alemanha, Inglaterra, Itália, Espanha e Portugal.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 292 mil mortos e infetou mais de 4,2 milhões de pessoas em 195 países e territórios. Mais de 1,4 milhões de doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 1.175 pessoas das 28.132 confirmadas como infetadas, e há 3.182 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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