Um estudo da Universidade Católica (UC) sobre a sustentabilidade do futebol profissional, hoje revelado no Porto, aponta para a necessidade de «reajustar o posicionamento» desta indústria.
Apostar na formação como base das equipas, manter a vocação exportadora de jogadores, rever a Liga de Honra, tornando-a semiprofissional e a procura de novos mecanismos de financiamentos são algumas das sugestões lançadas no estudo da UP.
«Quando as regras mudam, não se pode jogar o mesmo jogo», referem os responsáveis do estudo de reflexão, que pretende constituir-se como uma plataforma de trabalho para o futuro do futebol profissional.
O estudo identificou fragilidades do ponto de vista financeiro, apesar do sucesso desportivo, uma vez que o futebol profissional assenta num modelo de negócio com forte recurso ao endividamento por parte dos clubes.
«Com as restrições no acesso ao mercado de capitais, essencialmente ao crédito bancário, a indústria terá de reinventar as suas fontes de financiamento, sob pena de poder comprometer os ganhos que foram alcançados até ao momento», refere o estudo.
Na última década o futebol profissional registou uma duplicação de activos, de 418 para 880 milhões, em investimentos, infraestruturas e direitos desportivos de jogadores, através de um esforço de investimento com base no endividamento dos clubes.
Neste período, o crédito aos clubes da Liga aumentou cerca de 500 milhões de euros, colocando-os numa enorme dependência da concessão de crédito.
Num cenário de provável restrição no crédito bancário, por razões da conjuntura económica em Portugal, os clubes necessitam de alterar a estrutura do financiamento, de forma a poderem manter a actividade.
Ou, referem ainda os responsáveis pelo estudo, «terão que alterar o modelo de negócio, com implicações sobre a representatividade do futebol na economia portuguesa», que representa 0,2 do PIB.
O volume de negócios dos clubes da Liga está estabilizado acima dos 300 milhões de euros, para o que terá contribuído a realização do Euro2004, já que nas cinco épocas anteriores à realização dessa competição o volume de negócios médio anual rondou os 220 milhões.
Nos cinco anos seguintes, e apesar da alteração dos quadros competitivos, que reduziram o número de clubes de 18 para 16, este valor alterou-se para 300 milhões de euros, num crescimento de 35 por cento.
A Liga portuguesa revela ainda grande capacidade para colocar jogadores no estrangeiro, pelo que os responsáveis do estudo apontam esta via, juntamente com o investimento na formação, como um dos trunfos a capitalizar.
Em relação à análise dos quadros competitivos, o estudo não é consensual no que refere à relação entre o número de clubes e o aumento das receitas, nem se tal permitirá um equilíbrio mais sólido entre os clubes.
«O desequilíbrio financeiro existente entre clubes parece não constituir um factor impeditivo da competitividade desportiva e parece não colocar em causa o equilíbrio financeiro global da Liga», refere o estudo.
Da mesma forma, o trabalho revela que «existem dúvidas sobre o equilíbrio financeiro da Liga de Honra e a sua capacidade de existir profissionalmente de forma autónoma».
A generalidade dos clubes da Honra está financeiramente muito fragilizado e dependente de subsídios para manter a actividade. Em termos globais representa pouco menos de dez por cento da Liga», refere o estudo.
É possível defender a reestruturação da Liga de Honra, tornando-a semiprofissional, capaz de desenvolver estratégias de valorização e formação de jogadores, com quadros competitivos financiados por mecanismos distintos dos actuais e que apelem à solidariedade com a Liga.
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