O presidente do Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista, defende a mudança da política desportiva para que mais jovens futebolistas sejam aproveitados pelas equipas portuguesas.

Apenas 6,4 por cento dos jogadores da Liga portuguesa são oriundos da formação, segundo o "Estudo demográfico dos futebolistas na Europa", menos 1,3 por cento do que em 2009.

«Já se constatava esta tendência de desaproveitamento da formação. Quem tem responsabilidades acrescidas deve procurar introduzir uma política desportiva no país que altere estes resultados», afirmou à Agência Lusa o líder do SJPF.

Joaquim Evangelista recusa justificações como a «redução salarial como factor de investimento nos mais jovens», porque «em alguns casos sobrepõe-se o negócio ao modelo de desenvolvimento e aos interesses dos clubes, que, apesar de terem passivos muito elevados e estarem à beira da falência, continuam a praticar actos de gestão danosa, sem qualquer tipo de consequências, porque há um sentimento de impunidade».

«Não podemos deixar de ler estes números à luz do que vai ser o conjunto de regras disciplinadoras do ponto de vista desportivo e financeiro, conhecido como ‘fair-play’ financeiro. Os dirigentes ainda estão a tempo de mudar de política, sob pena de serem obrigados mais tarde», explicou.

O presidente do SJPF critica ainda a «questão cultural» de «gestão dos clubes em função de um resultado desportivo»: «Isso leva a que se apostem em jogadores estrangeiros muitas das vezes sem qualquer referência, mas que os dirigentes acham que vêm resolver os seus problemas».

«É mais fácil iludir os sócios com um jogador brasileiro ou argentino, do que com um português. Já diziam os nossos avós que os santos da casa não fazem milagres e, portanto, a política é tentar ir buscar um santo lá fora para ver se há milagres. A verdade é que os milagres não acontecem por acaso», referiu.

Além dos dirigentes, Evangelista culpa ainda empresários e também os técnicos portugueses: «Há muitos treinadores que foram jogadores e enquanto praticantes queriam oportunidades mas são os primeiros, quando têm de optar, a optar por estrangeiros em detrimento do português. Esses treinadores, esses dirigentes e alguns empresários têm de ser responsabilizados», frisou.

Por seu lado, o presidente da Associação Nacional de Agentes Futebol acusa o desaparecimento do limite do número de estrangeiros pela diminuição de futebolistas provenientes da formação, admitindo a «loucura dos clubes portugueses em ‘pescar’ no Brasil».

«Já a instabilidade contratual explica-se com a necessidade dos jogadores tentarem constantemente a mudança, sempre à procura de um clube melhor e mais estável. Têm sempre a vontade de, quando possível, dar o salto. É uma mentalidade instituída ente directores, treinadores, empresários desportivos e comunicação social», salientou Artur Fernandes.