O presidente do São Pedro da Cova em 2011 disse hoje que foi ameaçado de morte nos dias que se seguiram à detenção do ex-árbitro de futebol Martins dos Santos pela Polícia Judiciária (PJ), em maio desse ano.

«Sei que me ligaram duas ou três vezes e disseram: `Vou-te matar´», afirmou Vítor Silva em tribunal, que prestou declarações no âmbito do julgamento daquele antigo árbitro por tráfico de influências e afirmou desconhecer quem o ameaçou.

A sessão foi preenchida quase na totalidade com as suas respostas às questões da sua advogada, Susana Mourão, e depois às do advogado do arguido, Carlos Duarte, também ele um antigo árbitro.

Naquele ano e naquele mês, o então dirigente desportivo encontrou-se com Martins dos Santos junto ao Pavilhão Multiusos de Gondomar e entregou-lhe um envelope contendo 1100 euros. O dinheiro fazia parte dos 5000 euros que, alegadamente, o antigo árbitro lhe pediu para poder ajudar o S. Pedro da Cova, que corria o risco de ser despromovido.

A Judiciária interveio na altura, deteve Martins dos Santos e, no carro deste, um BMW, encontrou o referido envelope - que Martins dos Santos, na primeira sessão do julgamento, afirmou não saber o que tinha lá dentro.

«Era tudo notas de 50 euros. É óbvio que a gente vê que aquilo é dinheiro, não são papéis», disse Vítor Silva, questionado por Carlos Duarte.

O ex-dirigente afirmou antes que Martins dos Santos não podia pensar que eram documentos, que como lhe terá dito pelo telefone, quando acertaram o tal encontro.

«O dinheiro é pesado», argumentou antes.

Em resposta à sua advogada, declarou que o arguido lhe disse que «teria de entregar» o dinheiro que faltava «até ao último jogo» do S. Pedro da Cova, que então disputava o Distrital do Porto e que acabou por não descer.

A contrapartida que Vítor Silva esperava para o S. Pedro da Cova era ganhar os cinco jogos que lhe restavam, porque só dependia de si, afirmou, respondendo a uma pergunta que o juiz lhe fez.

O clube estava ser «deliberadamente» prejudicado pelos árbitros, salientou.

Acrescentou que começou a ser pressionado por Martins dos Santos desde fevereiro de 2011 e Carlos Duarte perguntou-lhe porque não transmitiu isso às autoridades.

«Agi no momento exato», alegou.

Carlos Duarte confrontou-o também com o seu percurso enquanto dirigente desportivo, para lembrar que houve um Estrela de Fânzeres-Vila Meã que «não se realizou porque a equipa adversária foi agredida».

O árbitro nomeado para esse jogo foi o próprio Carlos Duarte e Vítor Silva era dirigente do Fânzeres, de Gondomar.

Questionado pelo advogado sobre se ainda «tem medo que Martins dos Santos lhe faça mal fisicamente», Vítor Silva respondeu: «É óbvio que tenho medo».

Após a audiência, Martins dos Santos declarou que as ameaças foram «mais uma invenção do senhor Vítor».

O julgamento prossegue no próximo dia 15 de março.