O Benfica precisava de ganhar e acabou a perder. Não se pode dizer que tenha jogado mal, não jogou, mas no futebol ganha quem marca. E o Benfica não conseguiu fazê-lo.
A acutilância e a maturidade do Famalicão saíram muito caras aos encarnados, que saem do Minho rumo a Lisboa a saber que, quando chegarem à capital, vão encontrar uma festa para a qual não foram convidados.
Mas para quem não foi convidado, este Benfica contribuiu em demasia para que a mesma acontecesse (pelo menos já hoje). A viagem de Famalicão para Lisboa costuma durar pouco mais de três horas, mas desta vez vai parecer durar um pouco mais, ai vai, vai.
É caso para perguntar: como é que a primeira parte acabou sem golos?
9 centímetros e 41 centímetros. É de fita métrica na mão que começamos esta crónica. Aos seis minutos de jogo, dois golos anulados. Primeiro para o Benfica, depois para o Famalicão. Ambos bem invalidados no momento pelos auxiliares e devidamente ajuizados pelo VAR. O jogo no Minho começava quente, cá e lá, com velocidade, num pontapé de saída entusiasmante para quem quem gosta de ver um bom jogo de futebol.
Apesar do bom ritmo escasseavam as oportunidades, exceção feita a um cabeceamento perigosíssimo de Marcos Leonardo, que só não entrou porque Luis Junior cresceu três metros para negar o primeiro da noite. avançado brasileiro, surpresa no onze de Schmidt, ainda estava a pensar na enorme estirada do seu compatriota quando viu Otamendi ser muito infeliz na abordagem a um ataque rápido do Famalicão pela direita, com Martin a escapar ao argentino. Valeu Trubin a defender para canto.
O jogo abria cada vez mais e a equipa minhota ia pecando não raras vezes no momento da saída, a querer construir desde trás, com os encarnados a ficarem perto do golo - primeiro por Di María, depois por intermédio de Neres. Mas desengane-se quem pensa que se tratava até aqui de um jogo de sentido único, longe disso. Cádiz deixava o primeiro aviso digno de registo, mas a grande oportunidade do encontro chegaria dos pés de Puma Rodriguez, com um autêntico míssil que embateu com estrondo no poste da baliza de Trubin após um ligeiro desvio.
O jogo até agora entretido começava a revelar-se eletrizante, já que instantes depois, num contra ataque rápido, Kokçu ameaçou fazer o primeiro do Benfica. Com um remate forte à malha lateral chegou a gritar-se golo, mas em vão.
Aos 30 minutos, e só aos 30 minutos, os adeptos do Benfica começaram a apoiar à equipa nas bancadas. Até aqui tinham estado em absoluto silêncio, imagina-se porquê. Di María ia brilhando na frente, mas pecando e muito lá atrás. Não é uma novidade, mas ficava nesta primeira parte bem evidente que há um Di María a atacar e outro (praticamente inexistente) no processo defensivo, o que acabava por criar imensos desiquilíbrio nos velozes contra-ataques da equipa famalicense.
No final da primeira parte seria o Benfica a acabar por cima. Di María, a versão atacante, deixou vários avisos a Luiz Júnior, mas o guardião brasileiro mantinha-se instransponível.
Puma foi veloz e feliz, mas no final não foi o único felino a sorrir
Apercebendo-se de que, com um empate, estava a 45 minutos de entregar o título ao Sporting, Schmidt fez três substituições. Entraram Rafa, Florentino e Arthur Cabral, saíram Neres, Kokçu e Marcos Leonardo.
Do lado do Famalicão, Riccieli entrava para o lugar de J. de Haas.
À primeira vista, os primeiros dez minutos davam razão ao técnico alemão, com a equipa do Benfica a criar uma sequência de ataques perigosos, encostando o Famalicão às cordas no regresso da intervalo. Fez bem a paragem às águias, que só não estava na frente porque Luiz Júnior continuava seguríssimo e muito atento, como aconteceu aos 55 minutos após um remate forte de João Neves, antes de Di María atirar ao ferro. Estava claramente por cima o Benfica, a acantonar no meio-campo defensivo do Famalicão. Continuava a ser o argentino o principal motor dos encarnados e o passe longo soberbo que saiu dos seus pés em direção a Artur Cabral, que não aproveitou a genialidade do seu colega, era exemplo disso mesmo.
Por esta altura, o pouco jogo atacante do Famalicão nascia pelo ar, com bolas longas lançadas por Luiz Júnior, mas quase todas elas sem seguimento perante a constante pressão encarnada sobre os homens da frente. Foram precisos 25 minutos para a equipa da casa assustar Trubin, com um remate de Gustavo Sá. Mas o futebol é pródigo em surpresas e Puma mostrou-o da forma mais cruel para os encarnados.
A caminho dos 70 minutos, a passividade dos jogadores do Benfica ao ver o colombiano do Famalicão com a bola estendeu a passadeira para o início do que seria o fim. Sabendo que a derrota (assim como o empate) entregavam o título ao Sporting, o jogo incendiou -literalmente. Tochas lançadas de fora do estádio - sim, de fora do estádio, faziam parar o jogo depois de terem caído muito próximo da zona onde aqueciam os adeptos do Benfica. Seguiram-se impropérios dirigidos a Roger Schmidt, que nem o remate perigoso de Arthur Cabral conseguiu atenuar.
Até ao final, o Famalicão soube gerir o resultado com enorme maturidade, sabendo aproveitar da melhor forma o notório desespero das águias, acabando mesmo por dilatar a vantagem. Zaydou Youssouf fez o segundo e acabou com qualquer réstia de esperança do Benfica (se é que ainda existia alguma).
Começámos com fita métrica e acabamos com uma máquina calculadora. Feitas as contas - e não são assim tão difíceis - o título já não escapa ao Sporting.
O Benfica perde e entrega de mão beijada o título ao eterno rival, que já festeja em Lisboa. Vem aí uma noite longa... desta vez do outro lado da 2.ª circular.
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