O ex-jogador do União de Tomar Faustino, recordou hoje à agência Lusa a jovialidade de Eusébio, que faleceu esta madrugada, no final da sua carreira.
Depois de passar pelo New Jersey Americans, Eusébio foi convidado pelo presidente do União de Tomar no seu último ano de futebolista.
"Na altura, o presidente era o Fernando Mendes, um grande benfiquista. Convidou Eusébio e Simões para virem para Tomar, depois de terem jogado nos Estados Unidos, e Eusébio aceitou sem problema", adiantou Faustino.
O ex-jogador lembrou ainda um jogo, em Vieira de Leiria, onde Eusébio fez esquecer a sua idade.
"Um colega tinha-se lesionado e ele ofereceu-se logo para jogar a trinco. Num campo ‘pelado’, chovia torrencialmente e Eusébio cortou lances no chão, como se fosse um rapazinho novo. Foi o responsável por termos empatado. Para mim, foi um dos melhores jogos dele", recordou.
Faustino também lembrou que Eusébio, por ser “um jogador com experiência, já só corria a 20 quilómetros por hora, mas não perdoava quando tinha a bola nos pés, sobretudo nos lances de bola parada”.
Outra recordação que Faustino retém até hoje relaciona-se com o joelho de Eusébio. "Sempre que fazia um esforço maior o joelho saía do sítio. Assim, quando entrava num lance dividido com algum colega todos lhe gritavam: ‘olha o joelho Eusébio’. E ele colocava-o novamente no sítio", contou, salientando que o Pantera Negra não era homem de se queixar.
Uma estratégia para ter sucesso nas bolas paradas era "deixar a barreira formar-se primeiro e só depois colocar a bola". Assim, "desviava-a um bocadinho para o lado e conseguia rematar evitando a barreira e fazendo golo".
A amizade entre Faustino e Eusébio foi grande. Além de colegas, Faustino também treinou o "Pantera Negra". "O treinador na altura saiu e eu fiquei no seu lugar, sendo também jogador. Era eu que o levava sempre de carro até ao Entroncamento para ele apanhar o comboio para Lisboa."
Antes, defrontaram-se por diversas vezes. Faustino jogava a extremo no Barreirense e Eusébio envergava a camisola do Benfica.
"Num dos jogos, no Estádio da Luz, ele marcou um livre direto que embateu no poste. Naquele momento acreditei que ele tinha partido o poste. Ao intervalo fui confirmar, mas afinal o poste estava intacto", contou Faustino.
A palavra estrela não estava no dicionário do "Pantera Negra". "Não era o ‘rei’ como lhe chamavam. Era a pessoa mais simples que existia. Era impossível falar de estrelato e de Eusébio. Era das pessoas mais humildes que conheci. Amigo de todos os colegas. Não deve existir uma única pessoa que possa dizer mal dele", salientou o ex-jogador.
Faustino soube da morte de Eusébio hoje de manhã, quando estava num jogo das camadas jovens. "Não há palavras para descrever a tristeza. Todos os homens do futebol, independentemente do clube, devem estar a sentir-se tristes. O Eusébio era uma pessoa incrível. O melhor jogador do Mundo de 1966. Nem Pelé."
Eusébio da Silva Ferreira morreu hoje às 04:30 vítima de paragem cardiorrespiratória.
O "Pantera Negra" ganhou a Bola de Ouro em 1965 e conquistou duas Botas de Ouro (1967/68 e 1972/73). No Mundial Inglaterra de 1966 foi considerado o melhor jogador da competição, na qual foi o melhor marcador, com nove golos.
Na mesma competição, Portugal terminou no terceiro lugar.
Eusébio nasceu a 25 de janeiro de 1942 em Lourenço Marques (atual Maputo), em Moçambique.