João Félix, Bruno Fernandes, Rúben Dias, Éder Militão e mais recentemente Darwin Nuñez. Poderíamos estar aqui horas para referir todos os jogadores que já encheram – e bem – os cofres dos principais clubes portugueses.

Portugal sempre foi reconhecido pela capacidade de 'importar' jogadores de outras latitudes, principalmente da América do Sul, e posteriormente transaciona-los para os grandes clubes das principais ligas europeias. Para termos uma ideia, segundo um estudo do Observatório do Futebol (CIES) publicado em maio de 2022, o país para o qual o Brasil transfere mais jogadores entre 2017 e 2022 é mesmo Portugal.

Outro dado que também mostra essa capacidade dos portugueses apresentado nesse estudo é o facto de Portugal figurar no top-10 de países que mais evoluíram na transferência de jogadores.

Mas a verdade é que a lógica de importação do continente sul-americano parece estar a mudar. Aos talentos natos da América do Sul juntaram-se mais recentemente a prata da casa dos clubes portugueses. Com a crescente inflação do mercado de transferências já é raro vermos uma venda de um craque por verbas inferiores a 30 milhões de euros. E tendo em conta a perspetiva evolutiva da alta roda do futebol mundial, qualquer dia até se podem aceitar como 'normais' os valores da transferência recorde de João Félix para o Atlético de Madrid (127,2 milhões de euros).

Passemos então para os números que abonam a favor do saldo financeiro do mercado português. Segundo o site 'Transfermarkt', a Liga Portuguesa aparece em sexto lugar no top de competições que apresentam um melhor saldo de transferências (204,20 milhões de euros).

Mas há também dados apresentados por organismos internacionais.

Em março de 2022, um estudo do Observatório do Futebol (CIES) veio mostrar que, só na Primeira Liga, houve um lucro total de 1147 milhões de euros entre julho de 2017 e janeiro de 2022. Estes são valores que já têm em conta os gastos totais em contratações (527 milhões de euros) e as receitas (1674 milhões de euros).

Portugal pode não gerar mais receitas em vendas que relação a Inglaterra, por exemplo, onde os jogadores nacionais são vendidos a preços muito inflacionados, mas gasta bem menos, daí apresentar valores muito positivo no saldo final. Um estudo recente do CIES - Observatório do Futebol -  afirma mesmo que, entre 40 países, Portugal foi o que apresentou o melhor saldo entre a compra e venda de passes de futebolistas, nos últimos cinco anos.

O SL Benfica está em claro destaque e tem sido responsável pela entrada de muitos milhões para o mercado português. Só as vendas de João Félix e Darwin Nuñez são responsáveis pela entrada de mais de 200 milhões de euros. Não é ao acaso que são as duas transferências recorde registadas em Portugal.

Aos encarnados também se juntam FC Porto e Sporting CP, os outros dois clubes que têm sido responsáveis por trazer muitos milhões para Portugal.

Vamos então ficar a conhecer o papel de cada um dos três grandes nesta ascensão do mercado nacional.

SL Benfica: Águia só 'põe ovos' de ouro

João Félix, jogador do Atlético Madrid
João Félix, jogador do Atlético Madrid João Félix, jogador do Atlético Madrid

Os encarnados destacam-se claramente dos restantes. De acordo com o site ‘Transfermarkt’, nas últimas cinco épocas (2017/18 até 2021/22 contando já com o atual mercado de transferências) entraram cerca de 676,32 milhões nos cofres da luz.

Nestas épocas destacam-se, as transferências de Ederson (40 milhões de euros em 2017/18), Talisca (19,20 milhões em 2018/19), João Félix (127, 20 milhões em 2019/20), Rúben Dias (68 milhões em, 2020/21), Pedrinho (18 milhões em 2021/22) e mais recentemente Darwin (75 milhões em 2022/23). João Félix lidera a lista nacional e ocupa o quinto lugar no top de cinco transferências mais caras a nível mundial.

Outro dado que nos mostra esta supremacia das Águias pode ser consultado num estudo publicado pelo CIES em 2019, em que podemos perceber que o SL Benfica se encontra em quarto lugar na lista de clubes que mais lucraram em transferências entre as principais ligas europeias.

FC Porto: Muitos milhões a entrar com Conceição

Éder Militão, jogador do Real Madrid
Éder Militão, jogador do Real Madrid Éder Militão, jogador do Real Madrid

Depois de anos de contratações falhadas, de muitos milhões gastos, principalmente na era Lopetegui, o FC Porto falhou no mercado de vendas, já que sentiu dificuldades em fazer grandes encaixes com jogadores. O clube acabou por violar as regras do fair-play financeiro e entrou em contenção no que a vendas diz respeito.

Mesmo assim, os Dragões conseguiram dar cartas em vendas, ao somar 455,56 milhões em vendas nas últimas temporadas, segundo o 'Transfermarkt', quase todas elas com Sérgio Conceição ao leme.

De época a época, vimos André Silva como maior venda (38 milhões de euros em 2017/18), Ricardo Pereira (22 milhões em 2018/19), Éder Militão (50 milhões em 2019/20), Fábio Silva (40 milhões em 2020/21), Luis Díaz (47 milhões em 2021/22) e mais recentemente Vitinha (41,50 milhões em 2022/23). O médio português e o internacional colombiano revelaram-se mais-valias autênticas a nível financeiro, mas perdas significativas a nível futebolístico. A aposta no Olival também começou a ter uma boa influência nas contas, como se viu recentemente coma  saída de Fábio Vieira para o Arsenal por 35 milhões de euros.

Sporting CP: Valeu Bruno Fernandes e Rúben Amorim

Bruno Fernandes, jogador do Manchester United
Bruno Fernandes, jogador do Manchester United Bruno Fernandes, jogador do Manchester United créditos: 2020 AMA Sports Photo Agency

Dos três grandes, o Sporting é o clube que apresenta menor receita neste período, mas a chegada de Rúben Amorim e a venda de Bruno Fernandes evitaram males maiores.

No total, de acordo com o 'Transfermarkt', os leões apresentaram uma receita de 366,9 milhões de euros com vários nomes à cabeça.

Adrien Silva começou por ser a maior venda (20,50 milhões de euros em 2017/18), mas nas épocas seguintes surgiram Gelson Martins (22 milhões em 2018/19), Bruno Fernandes (63 milhões em 2019/20), Wendel (20,30 milhões em 2020/21), e mais recentemente Nuno Mendes (38 milhões em 2022/23).

Bruno Fernandes é o nome mais sonante no que a receitas diz respeito mas Rúben Amorim tem tido um papel muito importante na valorização dos ativos leoninos. O negócio de Nuno Mendes é um claro exemplo disso.

A procura pelo mercado português tenderá a manter-se e num futuro próximo não será de admirar se a transferência recorde de João Félix for batida. Por enquanto, ainda decorre uma janela de transferências capaz de trazer mais milhões para os cofres dos clubes nacionais.