O presidente da Assembleia da República (AR) considerou hoje que o poder político deve, se necessário, legislar sobre fenómenos como a violência, a corrupção, ou as violações do segredo de justiça no desporto, e sobretudo no futebol.
“Ao poder político cabe ir acompanhando com atenção o desporto e o futebol em todas as suas dimensões. E se necessário, através do parlamento ou do Governo, legislar contra a violência, a corrupção, a intimidação, a fraude, a calúnia, as violações do segredo de justiça após denúncias anónimas”, disse Ferro Rodrigues.
Na abertura da conferência Violência no Desporto, que decorre na AR, Ferro Rodrigues admitiu que, sem pôr em causa a sua autonomia o futebol deve ser mais escrutinável.
“O pior que poderia acontecer seria, em paralelo à importante participação tecnológica na verdade dos resultados, existirem insinuações sem resposta a questões como a lavagem de dinheiro, a corrupção de intervenientes fundamentais, a cultura do ódio e da violência organizada, a lisura de quem decide e de quem controla quem decide”, afirmou.
Ferro Rodrigues admitiu que como presidente da AR não pode tomar a iniciativa em matéria legislativa, mas afirmou: “Vejo com bons olhos, sem pôr em causa a autonomia dos poderes próprios, que o futebol seja mais escrutinável, já que pelo seu impacto social, cultural e ético, diz respeito à sociedade no seu todo”, referiu.
Com os presidentes do Benfica e do Sporting e de vários organismos ligados ao futebol presentes na sala, Ferro Rodrigues deixou um alerta sobre a importância do papel dos dirigentes desportivos.
“Representam institucionalmente milhares de sócios, nalguns casos milhões de adeptos. Representam, no caso, das sociedades anónimas os acionistas. Representam, acima de tudo, uma história, uma comunidade de pessoas unidas por um ideal”, lembrou.
O presidente da AR deixou também uma mensagem aos media, sobre a sua influência e contributo para a “crispação” que se vive no futebol português.
“Há demasiada crispação no espaço público desportivo e futebolístico. Talvez porque a crispação no debate político-partidário é hoje muito menor, e essa é uma forma barata, mas perigosa e lamentável de ter audiências, num mundo em que o populismo acéfalo substitui a discussão racional, com consequências muito graves, se isto não for denunciado e alterado”, afirmou.
Assumindo a sua condição de adepto, Ferro Rodrigues assumiu que gostava de “ver mais debates de futebol (…) e menos debates que funcionam como uma espécie de combates sobre avaliações de arbitragens, casos da justiça ou ‘sound bites’ de dirigentes”.
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